Notícia recebida na China com louvor, censura e ofensa
Uma instituição de pesquisa de livre mercado nos EUA deu um prêmio de 250 mil dólares a um economista chinês, provocando discussões, elogios, censura feroz, e duros ataques na internet chinesa.
O Prêmio Milton Friedman pelo Avanço da Liberdade foi dado a Mao Yushi, 83 este ano, pelo Instituto Cato, sediado em Washington DC, em 29 de março, junto com o prêmio em dinheiro.
Mao Yushi é um dos mais conhecidos economistas pró-reforma e do livre mercado na China. Ele fundou o Instituto de Economia Unirule com vários pares em 1993 como um veículo para suas ideias, e já publicou 15 livros sobre economia de mercado. Em 2011, ele escreveu um artigo mordaz que define os crimes do regime de Mao Tsé-tung, recebendo ameaças de morte de maoístas enfurecidos e incentivadores do regime.
A recepção na China do prêmio de Mao Yushi ocorreu enquanto a luta pelo poder atualmente assola Pequim.
Ele foi veementemente condenado por “esquerdistas”, que estiveram na defensiva recentemente. Bo Xilai, o ex-chefe do Partido em Chongqing e aparente herdeiro da segurança doméstica do czar Zhou Yongkang, foi demitido em 15 de março e acredita-se estar em prisão domiciliar. Cinquenta dos comparsas de Bo já foram presos, enquanto o primeiro-ministro Wen Jiabao tem argumentado que a China deve continuar com reformas políticas e econômicas.
Wu Fatian, um comentarista de esquerda conhecido, atacou Milton Friedman, o Instituto Cato, e Mao Yushi. “É uma organização que agita por liberalização e privatização econômica extrema. Uma vez, eles ‘testaram’ sua teoria no Chile […] arruinando completamente o país e gerando convulsões sociais”, escreveu ele.
Críticos radicais, “esquerdistas”, e aqueles que se alinham com o regime, chamam Mao Yushi de “traidor da China” e de “cachorro em disparada”, segundo a TV Phoenix de Hong Kong.
O Global Times, um jornal nacionalista publicado sob o patrocínio do Diário do Povo, um porta-voz do Partido Comunista Chinês, publicou um editorial que deu reconhecimento reservado a Mao Yushi. Ele observou que Mao Yushi e outros como ele fizeram “certa contribuição” ao desenvolvimento da China, mas alegaram que o motivo pelo qual ele ganhou o prêmio foi precisamente por causa da “ascensão da China”. Ninguém deve tentar deter essa ascensão, alardeou o artigo.
O prêmio também foi interpretado como parte de um plano para aumentar as forças de “liberalização” na China, que é, na opinião do escritor do Global Times, uma coisa decididamente ruim.
Uma mídia oficialmente aprovada, o Diário de Guangming, um porta-voz do Partido direcionado a intelectuais, realizou uma entrevista intitulada “Mao Yushi: Receber o Prêmio Milton Friedman mostra o sucesso da China”. Mas a censura deve ser a responsável pela maior parte disso.
Phoenix republicou o ensaio citando o Guangming como a fonte. Mas a versão da Phoenix era mais de duas vezes maior, enquanto que no website do Guangming, sugerindo que a segunda metade da entrevista, que recontava a perseguição a Mao Yushi durante a Revolução Cultural e muitas de suas realizações acadêmicas, foi mais tarde excluída do site do Guangming.
Mas para aqueles que abrigam desejos de mudança política na China, o prêmio foi um pequeno raio de luz. Mao Yushi é retratado como o epítome do cavalheiro erudito confucionista, sem medo de apresentar suas ideias de reforma econômica e o caminho para um futuro melhor para a China, e receber críticas com tranquilidade. Ele é um intelectual-chave entre o público chinês para as forças que defendem a reforma política.
Muitos dos jovens da China têm sido influenciados pelo pensamento de Mao Yushi e postura, que é muitas vezes aberto e severamente crítico ao Partido Comunista e sua ditadura.
Sua opinião sobre o assunto foi reprimida pela censura, no entanto, de acordo com a Pesquisa WeiboScope, um catalogador de mensagens apagadas no Sina Weibo, o maior serviço de microblogue da China. Centenas de postagens sobre Mao e o prêmio foram removidas do Weibo a partir de 29 de março, quando o prêmio foi anunciado. Muitos observaram que Mao Yushi doaria todo o dinheiro do prêmio; outros dizem, “Foi feito progresso pelos direitos humanos na China!” Mao Yushi foi chamado de “o erudito modelo” e um “cavalheiro da China”.
Não está claro se Mao Yushi terá qualquer dificuldade em obter um visto e viajar livremente aos Estados Unidos para a cerimônia de premiação em 4 de maio. Jamie Morris, um gerente de relações de mídia do Instituto Cato, disse que estavam trabalhando nos preparativos da viagem.
Na entrevista do Guangming, Mao disse que está muito satisfeito em receber o prêmio, e planeja atender à cerimônia em Washington DC com sua esposa. Seu discurso já está sendo preparado, disse ele. Será sobre “Como o homem tem buscado a liberdade por milhares de anos, o que a liberdade é realmente no final, porque a liberdade é tão importante, porque é tão difícil de obter, e como se pode obtê-la.”
Na entrevista do Guangming, Mao diz que não se intimidou com os ataques públicos. “Em comparação com a Revolução Cultural e o movimento antidireitista”, diz ele, “esse tipo de abuso é muito mais civilizado”.
Com pesquisa de Ariel Tian