A economia global atravessa uma crise estrutural e não é mais possível nem desejável utilizar estratégias pré-crise, afirma o novo Relatório sobre o Comércio e Desenvolvimento de 2013, da Organização das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), lançado na quinta-feira (12). O documento ressalta que as economias devem focar na demanda doméstica e regional.
Desde 2010, a economia global está desacelerando como um todo e as políticas adotadas pelos países em desenvolvimento durante a crise se esgotaram, disse o professor de economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Antônio Carlos Macedo e Silva, que participou do lançamento do relatório no Rio de Janeiro. Ele acrescentou que ter uma economia baseada na exportação para os países desenvolvidos não dá certo, já que a economia dos países centrais está crescendo lentamente.
O documento ressalta, porém, o aumento da participação do comércio Sul-Sul na economia global e que os países em desenvolvimento devem investir nas trocas comerciais entre si. De acordo com Macedo, o “mundo ideal” teria políticas de expansão que atendessem coordenadamente as demandas internas e regionais. Ele ainda citou que medidas como a distribuição de renda, a adoção do salário mínimo por parte de todos os países e o ajuste das taxas de câmbio para diminuir as disparidades, obteriam resultados positivos.
Porém, esse é um cenário pouco provável, segundo o professor. O que poderá acontecer é um crescimento de todos os países, porém à custa da fragilidade das economias em desenvolvimento, já que à medida que alguns países desenvolvidos voltarão a crescer, eles podem aumentar a concorrência e as disparidades para com outros menos desenvolvidos.
Para que as economias em transição não sejam abafadas pelas desenvolvidas, Macedo ressalta que elas devem tirar proveito desse novo cenário de distribuição de renda da economia mundial.
“É necessário reorientar consumo e investimento governamentais, consumo privado, investimento privado com base em uma política de financiamento que permita a oferta crescer de maneira a acompanhar o crescimento da demanda, o crescimento de uma demanda diferente, porque a expectativa é do crescimento da chamada nova classe média”, disse Macedo. “Dois bilhões de pessoas vão se integrar aos mercados de consumo globalmente na próxima década.”
Esta matéria foi originalmente publicada pela ONU Brasil