Economia em declínio força corte da taxa de juros na China

19/06/2012 08:00 Atualizado: 19/06/2012 08:00

Um agência bancária em Pequim em 4 de abril. (Liu Jin/AFP/Getty Images)Cortes dão aos bancos maior flexibilidade na oferta de empréstimos

Temores de uma aterrissagem dura parecem ter levado o Banco Popular da China (BPC) a acessar seu kit de ferramentas para encontrar outra maneira de estimular a vagarosa economia chinesa. Ao longo do caminho, o BPC pode ter dado um passo na direção da reforma do sistema bancário da China.

Anteriormente, o BPC contou com o corte da taxa de depósito compulsório para estimular a economia. Desta vez, ele tentou cortar as taxas de juros.

Apenas 20 dias após o segundo corte da taxa de depósito compulsório deste ano, o BPC reduziu as taxas de referência de crédito e de depósito em 25 pontos base para 6,31% e 3,25%, respectivamente, em 8 de junho.

Além disso, o BPC mudou as faixas das taxas de empréstimos e de depósito. Os bancos agora estão autorizados a pagar até 10% mais do que a taxa de referência de depósito, pela primeira vez um ágio foi permitido. Os bancos agora também podem oferecer um desconto de 20% da taxa de referência de juros, maior do que os 10% anteriores.

Com efeito, as instituições financeiras podem potencialmente pagar tanto quanto 3,575% sobre o depósito e cobrar 5,048% em empréstimos, deixando uma margem líquida de juros de 1,5 pontos percentuais, muito menor do que antes (3 pontos percentuais).

Como seria de esperar, as ações de bancos chineses caíram drasticamente em 8 de junho, o primeiro dia do corte da taxa. ICBC caiu 4,91% para HK$ 4,26, seu menor nível desde 30 de novembro no Hong Kong ICBC, enquanto o índice Hang Seng da cidade caiu 0,9%. Do mesmo modo, Banco de Construção da China caiu 4%, fechando em HK$ 5,28.

Uma mudança forçada

O crescimento econômico doméstico está desacelerando. A crise da dívida está se agravando na Europa, o maior parceiro comercial da China, ameaçando o crescimento das exportações da China e toda a economia também.

Dados econômicos chineses recentes indicam que a economia desacelerou significativamente. O crescimento do PIB no primeiro trimestre foi de 8,1%, o menor desde Q2 em 2009 e muito inferior aos 10,4% e 9,2% em 2011 e 2010, respectivamente.

Indicadores econômicos de abril são muito inferiores do que os de 12 meses atrás. O investimento e as exportações, os motores de condução do alto crescimento da China nas últimas décadas, tiveram a metade do crescimento de abril de 2011.

Investimentos em ativos urbanos fixos cresceram apenas 19% em abril contra 37% em abril de 2011. O investimento estrangeiro direto teve um crescimento negativo em comparação com um crescimento de 15% de 12 meses atrás. O crescimento das exportações desacelerou para apenas 4,9% de 29,9% em abril de 2011. (Por favor, veja a tabela abaixo para detalhes.)

O PMI do HSBC, que acompanha as pequenas e médias empresas da China, caiu para 48,4 em maio, de 49,3 em abril. Esse foi o sétimo declínio direto mês a mês nos novos negócios em geral.

Enquanto isso, novos empréstimos bancários caíram 32,5% em abril em relação março.

É em tal ambiente econômico que o BPC foi forçado a cortar as taxas de juros na esperança de impulsionar o mercado chinês de crédito e evitar uma aterrissagem forçada.

Efeitos potenciais

Desta vez, a taxa de corte é significativamente diferente do passado. O BPC não só mudou a ferramenta, mas também aumentou a flexibilidade para os bancos ao estabelecer as taxas de juros. Ao permitir um desconto de 20% na taxa de referência de juros, com efeito, o BPC permite que os bancos reduzam a taxa de empréstimos até 5,05%.

Ou seja, em comparação com a faixa anterior de 5,9% inferior (= 6,51% * 90%), a taxa de empréstimo está 85 pontos base abaixo, em vez de 25 pontos base. Isto é um corte bastante significativo, mais de três vezes o que parece ser!

Sua intenção, creio eu, é reduzir o custo do capital para investidores e mutuários e, talvez, para permitir que os bancos cobrem devedores de riscos diferentes com taxas diferentes. Se for esse o caso, quem se beneficiará? As empresas estatais e agências governamentais. Elas têm sido as principais clientes dos bancos chineses e são consideradas clientes de baixo risco.

De fato, o corte da taxa aliviará as empresas estatais, governos locais e agências governamentais com grandes dívidas. No entanto, isto não ajudará muito a economia como um todo.

As pequenas e médias empresas contratam cerca de 80% da força de trabalho da China e precisam de capital para crescer, mas são muitas vezes impedidas de receberem empréstimos bancários e capital de mercado. Muitas vezes, elas têm de emprestar através do mercado negro com preços tão elevados como 30% ou até 50%.

Comparado com a taxa de referência de juros de 6,51% antes do corte da taxa, eles estão pagando muito mais. Em outras palavras, para estas empresas, o nível das taxas de juro, alto ou baixo, não importa tanto quanto a quantidade de empréstimos que possam conseguir.

O controle de crédito tendencioso impede empresas de acessarem o mercado de crédito. Mesmo se os empréstimos forem estendidos a empresas ligadas ao governo, como tem sido a prática nas últimas décadas, o mercado de crédito chinês não melhorará, muito menos a economia.

Nos últimos anos, a bolha imobiliária tornou-se um problema sério para a economia. O governo chinês tomou algumas medidas para tentar contê-la, incluindo medidas administrativas e o aumento das taxas de juros e de depósito compulsório bancário.

Agora, o corte da taxa certamente relaxa a oferta monetária e potencialmente estimula a inflação. Ao cortar as taxas, aparentemente, o governo agora está mais preocupado com uma aterrissagem dura do que com a bolha imobiliária.

No entanto, se taxas reduzidas resultam em mais dinheiro fluindo para o mercado imobiliário e inflando ainda mais a bolha imobiliária, então, o corte da taxa só será contraproducente e, estruturalmente, a economia ficará ainda mais desequilibrada.

De outra perspectiva, as mudanças nas faixas da taxa de empréstimo e de depósito acelerarão a concorrência bancária na China e comprimirão as margens líquidas de juros. Esta mudança política pode ser entendida como um passo adiante para a reforma bancária, longe do monopólio do sistema bancário.

Com mais flexibilidade na determinação das taxas de juros, os bancos poderão avaliar e mensurar os riscos de diferentes clientes e projetos e cobrar taxas de juros diferenciadas. Ao mesmo tempo, os bancos podem, através do pagamento das taxas de juros, atrair mais depósitos.

Jian Tianlun, Ph.D., escreve regularmente sobre economia chinesa e aconselha o Epoch Times sobre economia. Seu blogue é Chineseeconomictrend.blogspot.com.