Análise de notícia
Nos últimos meses, más notícias sobre a economia da China continuam a emergir. Mesmo pessoas que eram geralmente otimistas começaram a se preocupar.
No final de maio, os chineses perceberam que, sem muito alarde, a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma (CNDR) da China lançou uma versão 2.0 de seu pacote de estímulo de 4 trilhões de yuanes (628 bilhões de dólares).
Apesar de a CNDR ter tentado diminuir a expectativa de uma nova rodada de estímulo e ter negado que um pacote esteja sendo lançado em 2012, permanece o fato de que houve 8 mil novos projetos industriais de janeiro a abril.
Desde o início deste ano, a CNDR já concedeu subsídios generosos para vários projetos, incluindo alguns muito grandes. A CNDR também acelerou drasticamente seu processo de avaliação e aprovação de subsídios para mais de 100 projetos da indústria num único dia em 21 de maio e para 328 projetos adicionais em abril, quase o dobro do que em abril do ano passado.
Sinais de deterioração econômica
No entanto, precisamos discutir o que está adoecendo a economia da China, a fim de saber se a injeção de 4 trilhões de yuanes terá qualquer efeito.
O maior problema enfrentado pela economia chinesa é que ela carece de novas áreas de crescimento. Os antigos “três vagões”, investimento, exportação e consumo, que carregavam a economia chinesa pararam de funcionar há muito tempo. Mas os governos locais ainda têm esperanças de ter um ou dois dos vagões em movimento novamente. No entanto, desde que as estatísticas oficiais saíram em maio, mais as pessoas acreditam que o “lobo”, após economistas gritarem lobo por tanto tempo, está realmente chegando.
De acordo com números divulgados em 9 de junho pelo Departamento Nacional de Estatísticas da China, o Índice de Preços ao Consumidor cresceu 3% no ano passado. No entanto, o Índice de Preços ao Produtor caiu para o menor nível em 30 meses, indicando que o declínio na demanda na economia real ultrapassou as previsões anteriores.
As estatísticas do governo mostram que em abril as importações e exportações ficaram muito aquém das expectativas. As importações aumentaram apenas 0,3% em relação a um ano atrás. O investimento imobiliário só aumentou 9% ano a ano, um declínio de 50% na taxa de crescimento em relação ao ano passado.
O Diário do Povo, uma mídia porta-voz do regime chinês, disse em 22 de maio, “Os três vagões da economia perderam o impulso”, citando Xu Hongcai, o vice-diretor do Departamento de Informação do Centro para Intercâmbios Econômicos Internacionais da China.
Xu disse que a crise da dívida europeia diminuiu a demanda externa por produtos chineses, levando a um declínio perceptível nas exportações chinesas. Ao mesmo tempo, o aumento salarial, a valorização do Yuan e os custos crescentes de matérias-primas, todos reduziram a competitividade das exportações chinesas.
Desaceleração da produção
Ainda mais preocupante é a desaceleração do consumo de energia elétrica e a diminuição dos empréstimos bancários. Atualmente, não há quase nenhum aumento na geração de eletricidade, indicando desaceleração da atividade econômica.
O Índice Geral de Compras de maio, divulgado pelo Departamento Nacional de Estatísticas e Federação Chinesa de Logística e Compras, mostrou uma redução significativa para 50,4. O valor 50 é considerado a linha de demarcação entre crescimento e declínio na indústria manufatureira.
Dados divulgados pelo Ministério das Finanças em 11 de maio mostram que, devido a uma desaceleração no lucro econômico e de negócios em abril, a receita nacional só aumentou 6,9% ano a ano, muito menos do que o crescimento relatado de 18,7% em março, enquanto os gastos econômicos mostraram um aumento ano a ano de 8%.
Política monetária apenas não resolverá
As razões por que algumas pessoas na China acreditam que o governo pode mais uma vez salvar a economia é porque eles acreditam que a dívida pública é relativamente baixa na China e que o governo tem a capacidade de aumentar as despesas ou reduzir a tributação, a fim de apoiar o crescimento econômico.
No entanto, essas pessoas têm subestimado em muito o nível da dívida pública.
De acordo com Liu Yuhui, a dívida pública no final de 2010 foi estimada em 4,1 trilhões de dólares ou 68% do PIB. Liu é o diretor do ‘Financial Key Lab’ do Instituto de Finanças e Bancário, da Academia Chinesa de Ciências Sociais. Ele publicou estes achados no ‘China Securities Journal’ em 21 de maio, num relatório de investigação conduzido por seu laboratório.
O artigo também disse que, como a demanda por empréstimos bancários diminuiu este ano, os fundamentos das folhas de balanço de empresas chinesas são muito piores do que em 2008 e o nível de endividamento das empresas chinesas é estimado em 105,4%, o que excede em muito o nível aceitável de 80% e é o mais elevado entre os 20 e tantos países examinados pela investigação.
Em 26 de maio, durante o Fórum Econômico da China-EUA em Nova York, Jim Chanos, reconhecido negociador de venda a descoberto e fundador do fundo de cobertura Kynikos Associates, disse que embora o governo central da China não tenha muita dívida soberana, ele e seus colegas estimaram que a dívida pública total acumulada pela plataforma de financiamento do governo local, empresas estatais e bancos, o Ministério das Ferrovias e outros departamentos governamentais, bem como de empresas de gestão de ativos, era de 180% do PIB da China no final de 2011.
Em meu artigo “A tragédia do investimento público”, eu expressei preocupação de que um aumento excessivo do investimento público, ou seja, o investimento do governo, levará a mais distorções na estrutura industrial. O resultado da infusão de 5 trilhões de yuanes em 2009 será repetido e, no final do dia, serão os chineses que mais uma vez terão de pagar a conta. O público chinês será confrontado com uma tributação mais elevada, contínua alta da inflação e alguns dos preços de imóveis mais altos do mundo.
Este artigo foi publicado originalmente em chinês na Revista Watchinese de Taiwan em 21 de junho de 2012.