Economia chinesa mostra rachaduras

25/07/2013 14:06 Atualizado: 25/07/2013 14:06
Chineses com sacolas de compras em Pequim. As exportações chinesas estão se reduzindo e o consumo doméstico no país mais populoso do mundo não tem ajudado no reequilíbrio da balança (Wang Zhao/AFP/Getty Images)

As notícias econômicas ruins vindas da China não parecem parar. Após o PIB e as exportações desacelerarem acentuadamente no início de julho, o prospectivo Índice Gerente de Compras (PMI) do HSBC caiu em 23 de julho, sinalizando mais fraqueza no futuro.

Na cimeira do G-20 em 20 de julho, o ministro das Finanças chinês Lou Jiwei tentou desviar a atenção cada vez maior sobre um pouso forçado da segunda maior economia do mundo, dizendo ao Ocidente para cuidar da própria vida. “Nenhum participante acredita na existência de [um pouso forçado]”, disse ele à mídia estatal Xinhua e elaborou sobre alguns problemas que os Estados Unidos poderiam enfrentar se o Federal Reserve reduzisse a flexibilização quantitativa.

E, no entanto, por trás de toda a postura, as rachaduras na fachada da economia chinesa estão se tornando cada vez maiores. O PMI prevê desaceleração do emprego e uma redução nas novas exportações e encomendas domésticas. Albert Edwards, um analista da Société Général, tem apostado num pouso forçado chinês desde 2011 e explica que o pior está por vir.

“Talvez, porém, o fator macro mais decisivo para todos os mercados será algum deslize em deflação na China. Certamente, muitos veem isso como conceitualmente possível por causa do excesso de investimentos pesados da China. Mas será que este medo está se tornando realidade agora?”, escreve ele numa nota a clientes.

A resposta, conclui ele, é sim. A medida para corrigir o PIB nominal para as mudanças no nível geral de preços, chamado de deflator implícito do PIB, cresceu apenas 0,5% no segundo trimestre de 2013 em comparação com um ano antes. Se esta tendência continuar, os preços dos ativos, bens e serviços realmente declinarão, um cenário terrível para uma economia que está atolada em dívidas.

O conceito econômico por trás dessa dinâmica não é muito diferente do que aconteceu nos Estados Unidos durante a crise do subprime. Preços mais baixos para bens como imóveis ou ações fazem as dívidas comparativamente mais caras e mais difícil de atender. Os governos locais, empresas e consumidores, que não podem atender sua dívida precisam vender ativos para recuperar pelo menos parte do dinheiro devido. Isso coloca ainda mais pressão sobre os preços, levando a uma nova rodada da chamada desalavancagem.

Nos Estados Unidos, apenas o Federal Reserve poderia interromper este círculo vicioso, imprimindo grandes quantidades de dinheiro e sustentando artificialmente o mercado de títulos lastreados em hipotecas. Ações recentes do Banco Popular da China têm demonstrado que o banco central chinês está disposto a acomodar ainda mais os mercados financeiros. Esta é uma proposição perigosa.

“Talvez o que surpreendeu mais os mercados tenha sido a vontade das autoridades de manter a política monetária apertada enquanto eles tentam recuperar o controle do sistema bancário colateral. Isso é algo que muitos analistas comparam com a bomba-relógio do subprime nos EUA”, escreveu Edwards.

Se o cenário acima é verdade, os cidadãos chineses podem ter alívio passageiro nos preços mais baixos ao consumidor. No médio prazo, no entanto, um cenário de severa deflação levará ao desemprego generalizado que prejudicará os trabalhadores chineses. Os investidores e os poupadores verão o valor de suas posições de ações e ativos imobiliários diminuírem, provocando a uma perda de riqueza.

Edwards encontra evidências para isso observando os preços ao produtor, que vêm caindo na China pela maior parte de 2013. A queda dos preços ao produtor indica falta de demanda das empresas para comprar matérias-primas necessárias para produzir bens, o que se encaixa perfeitamente no quadro de uma economia lenta.

“Certamente, se os dados [do preço ao produtor] estão corretos e isso parece concordar com o deflator implícito do PIB, a história sugere que o [Índice de Preços ao Consumidor] deveria estar contraindo-se atualmente, ao invés de continuar a crescer em 2%”, conclui Edwards.

Ele também desmascara outra reivindicação dos líderes chineses de reformar a economia para que o crescimento venha principalmente do consumo interno e não das exportações ou investimentos em infraestrutura ou imóveis.

“O consumo não acelerou o suficiente para tomar o bastão”, escreveu Edwards, uma vez que só contribuiu com 45,2% do crescimento do PIB no primeiro semestre do ano em comparação com 60,4% no primeiro semestre de 2012.

Analistas do JPMorgan foram certeiros quando compararam a China moderna com o Japão da década de 1980. Leitores mais velhos se lembrarão de que o Japão na época, assim como a China hoje, era apontado como a próxima superpotência econômica, com os Estados Unidos em declínio. Com o estouro da bolha de crédito japonesa, seu mercado de ações e imobiliário entrou em colapso e seu crescimento do PIB desacelerou. O Japão nunca chegou ao topo. Os analistas do JPMorgan acham que o mesmo pode ser verdade para a China.

“No lado financeiro, ambos os países observaram forte crescimento do crédito e da inflação dos preços dos ativos, com a dívida do setor corporativo subindo a um nível perigosamente alto”, diz o relatório.

A dívida total da economia chinesa aumentou de 105% do PIB em 2000 para 187% em 2012. O Japão expandiu a dívida de 127% para 176% no período de 1980 a 1990.

Alimentados pela expansão da dívida, os preços dos imóveis ajustados pela inflação subiram 6,6% em média de 1986 a 1990 no Japão e 8,9% de 2006 a 2012 na China. A dívida assumida por empresas pinta um quadro similar. No Japão, a dívida corporativa subiu de 95% do PIB em 1985 para 115% em 1990. Na China, ela subiu de 90% em 2007 para 124% em 2012.

Dívidas corporativas e imobiliárias são especialmente propensas à deflação ou à queda dos níveis de preços, explicou Edwards. Os analistas do JPMorgan concordam: “Uma grande parte da dívida corporativa é garantida por terrenos ou imóveis e, se os valores dos imóveis cair, pode levar a uma interação em espiral descendente entre o declínio nos valores dos imóveis e o estresse corporativo”, seguida de desemprego e queda no mercado de ações.

Muitos comentaristas apontam para as grandes reservas cambiais da China e dizem que isso deve ajudar a prevenir ou reduzir o peso da dívida-deflação. Mas mesmo esta situação é estranhamente familiar ao Japão da década de 1980.

“O superávit atual e as grandes reservas cambiais fornecem uma almofada contra possíveis choques adversos. Curiosamente, estes fatores atenuantes também existiam no Japão no final de 1980.” Como a história demonstrou, eles não ajudaram a evitar as consequências de uma bolha de dívida e de décadas de má política econômica.

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