Mídia norte-americana sintetiza cinco motivos para tal conclusão
Após anos de índices astronômicos de crescimento, a economia da China continental freou drasticamente seu ritmo acelerado e progressivamente revela fragilidades e sinais de estagnação, cenário este que leva a especulações da comunidade internacional, tendo em vista as recentes convulsões sociais e manifestações populares de grande escala, um reflexo direto da instabilidade interna do governo chinês.
A revista norte-americana ‘Foreign Policy’ publicou um artigo baseado nas observações do jornalista econômico cantonês Trefor Moss, listando cinco fortes indícios de estagnação econômica. São eles: Crises orçamentárias em diversas províncias; rebeliões populares na região Sul, que praticamente cessaram as atividades econômicas; desaquecimento do consumo de artigos de luxo; queda nos índices de consumo de energia e dos preços do carvão; flutuação nos preços de alimentos e bens de consumo imediato. A reportagem mostra que os indicadores econômicos da China continental relevam um decréscimo nos movimentos de capital, queda na produção industrial, queda dos lucros auferidos e um crescimento do PIB limitado a menos de 8%, um índice não muito favorável, dado o grande número de residentes no país.
Os números e as tendências mostram-se desfavoráveis à economia chinesa: A receita auferida pelo governo chinês mostra-se pessimista e muitos governos provinciais e municipais já optaram por medidas mais drásticas, como vender carros de luxo do governo a preços acessíveis para aliviar a crise financeira local. Além disso, o mercado de terras públicas não se mostra lucrativo devido à redução de preços no mercado imobiliário.
Segundo especialistas, o PIB chinês terá o menor crescimento desde 1989. Comparado com o auge das exportações chinesas, a produtividade reduziu-se três vezes, acarretando insatisfação por parte dos trabalhadores, cuja renda se mostra cada vez mais insuficiente para o sustento. Com a generalização desse cenário, ocorreram várias revoltas populares em diversas localidades, evidenciando a tendência de estas manifestações continuarem num futuro próximo.
Outro ponto curioso abordado pela reportagem é um grande decréscimo no consumo de artigos supérfluos e de luxo, produtos que sempre foram muito demandados pela classe alta chinesa. Na verdade, esse consumo não diminuiu, apenas foi redirecionado para o mercado externo, devido à grande desconfiança quanto às perspectivas político-econômicas da China continental. Assim, viu-se uma imensa fuga de capital do mercado interno chinês, enquanto vários chineses adquirem mansões luxuosas no exterior.
Outro ponto é a queda no consumo de energia na China continental. Para suportar o calor do verão, os chineses costumam usar ar refrigerado; porém, devido às turbulências econômicas, nesse ano, os chineses preferiram poupar, reduzindo o uso de ar refrigerado, o que causou o acúmulo de grande quantidade de carvão importado nos portos: Além do encolhimento da demando por carvão, os preços despencaram 10%. Muitos especialistas encaram o fato como um “efeito borboleta”: “A China não liga o ar refrigerado, o mundo inteiro começa a espirrar.”
Por fim, a reportagem analisou os rumos da economia chinesa baseado nos preços dos alimentos. A carne suína, tradicionalmente a mais consumida pelos chineses, teve uma grande flutuação nos preços: nos últimos 5 anos, o preço da carne suína quintuplicou, fazendo os chineses buscarem fontes alternativas de proteína; a escolha foi o ovo de galinha, o que fez o preço do ovo aumentar exponencialmente. Enquanto isso, com a baixa demanda da carne suína, o preço começou a abaixar; porém, nos últimos 4 meses, o preço de mercado da carne suína abaixou a ponto de acarretar prejuízo aos produtores, devido à necessidade de comprar ração, causando crise generalizada e obrigando o governo a intervir e comprar porcos para “salvar o mercado”.
Todas essas assimetrias econômicas demonstram uma grande instabilidade na China continental, contrastando com o crescimento extraordinário dos últimos anos. Em período de transição política, a China ainda possui muitos desafios a serem transpostos.