Más notícias econômicas vindo da China simplesmente não param de emergir. Após o PIB e as exportações desacelerarem acentuadamente no início de julho, o prospectivo ‘Índice dos Gerentes de Compras’ (PMI) do HSBC sobre o gigante asiático desabou em 23 de julho, sinalizando maior enfraquecimento no horizonte da China.
Na reunião do G-20 em 20 de julho, o ministro das Finanças chinês Lou Jiwei tentou desviar a crescente atenção num pouso forçado da segunda maior economia do mundo, dizendo que o Ocidente deve cuidar da própria vida. “Nenhum participante acredita na existência disso [um pouso forçado]”, disse ele à mídia estatal Xinhua, e elaborou sobre alguns dos problemas que os Estados Unidos podem enfrentar se o Federal Reserve retornar à política econômica de flexibilização quantitativa.
E, no entanto, por trás de toda a pose, as rachaduras na fachada da economia chinesa estão se tornando cada vez maiores. O PMI prediz a desaceleração do emprego e uma redução em novas exportações e no consumo doméstico. Albert Edwards, um analista da Société Général, aposta num pouso forçado chinês desde 2011 e explica que o pior está por vir.
“Talvez, porém, o fator macro mais decisivo para todos os mercados será um deslize da China rumo à deflação. Certamente muitos veem isso como conceitualmente possível por causa do excesso de investimento estatal na China. Mas esse medo está agora se tornando realidade?”, escreve ele em nota a clientes.
A resposta, conclui ele, é que sim. A medida para corrigir o PIB nominal para mudanças no nível geral de preços, chamada PIB deflator, cresceu apenas 0,5% no segundo trimestre de 2013 em comparação com um ano antes. Se esta tendência continuar, os preços dos bens, produtos e serviços realmente declinarão, um cenário terrível para uma economia que está atolada em dívidas.
O conceito econômico por trás dessa dinâmica não é muito diferente do que ocorreu nos Estados Unidos durante a crise dos subprime. Preços menores dos ativos, como imóveis ou ações, fazem as dívidas comparativamente mais caras e difíceis de servir. Os governos locais, empresas e consumidores que não podem pagar suas dívidas precisam vender ativos para recuperar pelo menos parte do dinheiro devido. Isso coloca ainda mais pressão nos preços, levando a uma nova rodada de chamada desalavancagem.
Nos Estados Unidos, apenas o Federal Reserve pôde parar este círculo vicioso, imprimindo uma quantidade enorme de dinheiro e artificialmente impulsionando o mercado de títulos lastreado em hipotecas. Ações recentes do Banco Popular da China têm demonstrado que o banco central chinês está disposto a acomodar ainda mais os mercados financeiros. Esta é uma proposição perigosa.
“Talvez o que tem surpreendido mais os mercados é a vontade das autoridades de manter uma política monetária restritiva, na tentativa de recuperar o controle do sistema bancário paralelo. Isso é algo que muitos analistas comparam com o avanço da bomba relógio dos subprime nos EUA”, escreve Edwards.
Se o cenário acima é verdade, os cidadãos chineses podem achar pouco refresco em preços de consumo mais baixos. No médio prazo, no entanto, um cenário de deflação total levará ao desemprego generalizado prejudicando os trabalhadores chineses. Os investidores e poupadores verão o valor de suas posições de ações e ativos imobiliários despencar, levando a uma perda de riqueza.
Edwards encontra provas disso nos preços ao produtor, que vêm caindo na China desde 2013. A queda dos preços ao produtor indica uma falta de demanda das empresas para comprar as matérias-primas que elas necessitam para produzir bens, o que se encaixa perfeitamente na imagem de uma economia lenta.
“Certamente, se os dados [de preço ao produtor] estão corretos, o que parece concordar com o PIB deflator, a história sugere que esse [Índice de Preços ao Consumidor] deveria estar se contraindo atualmente, ao invés de continuar a crescer a 2%”, conclui Edwards.
Ele também desmascara outra reivindicação dos líderes chineses sobre reformar a economia para que o crescimento venha principalmente do consumo interno e não das exportações ou investimentos estatais em infraestrutura ou no mercado imobiliário.
“O consumo doméstico não acelerou o suficiente para assumir o bastão”, escreveu Edwards, pois ele só contribuiu com 45,2% para do crescimento do PIB no primeiro semestre deste ano em comparação com 60,4% no primeiro semestre de 2012.
Analistas do JP Morgan indicaram algo similar quando compararam a China moderna com o Japão da década de 1980. Leitores da época se lembrarão de que o Japão de então era muito parecido com a China de hoje, que foi apontado como a próxima superpotência econômica e com os Estados Unidos em declínio. Como o estouro da bolha de crédito, seu mercado de ações e imobiliário entrou em colapso e seu crescimento do PIB desacelerou. O Japão nunca chegou ao topo. Os analistas do JP Morgan acham que o mesmo pode ser verdade para a China.
“No lado financeiro, ambos os países observaram forte crescimento do crédito e inflação dos preços dos ativos, com a dívida do setor empresarial subindo a níveis perigosamente altos”, diz o relatório. A dívida total da economia chinesa aumentou de 105% do PIB em 2000 para 187% em 2012. O Japão expandiu a dívida de 127% para 176% no período de 1980-1990.
Alimentados pela expansão da dívida, os preços dos imóveis ajustados para a inflação subiram 6,6% em média entre 1986-1990 no Japão e 8,9% entre 2006-2012 na China. A dívida corporativa pinta um quadro similar. No Japão, ela subiu de 95% do PIB em 1985 para 115% do PIB em 1990, na China ela subiu de 90% do PIB em 2007 para 124% em 2012.
As dívidas imobiliária e corporativa são especialmente propensas à deflação, ou queda dos níveis de preços, como descreveu Edwards. Os analistas do JP Morgan concordam: “Uma grande parte da dívida corporativa está garantida por terrenos ou imóveis, e, se os valores dos imóveis caírem, isso pode levar a uma interação de espiral descendente entre o declínio nos valores das propriedades e o estresse corporativo”, com desemprego e queda no mercado de ações se seguindo.
Muitos comentaristas apontam para a grande concentração de reservas cambiais nas mãos da China e dizem que isso deve ajudar a prevenir ou diminuir a carga da dívida-deflação. Mas mesmo essa situação é estranhamente familiar para o Japão na década de 1980.
“O superávit atual em conta corrente e as grandes reservas de divisas fornecem uma proteção contra possíveis choques adversos. Curiosamente, esses fatores atenuantes também existiam no Japão no final de 1980.” Como a história demonstrou, eles não ajudam a evitar as consequências de uma bolha de dívida e de décadas de péssima política econômica.