E. Blair Leighton, um artista capaz de pintar sentimentos – Parte 1

29/07/2014 12:50 Atualizado: 30/03/2015 11:42

Apesar do artista inglês Edmund Blair Leighton ser um nome raramente mencionado, hoje em dia suas pinturas são globalmente reconhecidas como ícones da lenda medieval e charme monárquico.

Mesmo em vida, os seus quadros foram vendidos por preços altos. Blair Leighton permaneceu firmemente na fronteira da fama artística. Em última analise, ele influenciou os seus colegas artistas e a concepção moderna da imagem cavaleiresca e da ação romântica. É com perplexidade e significativo que, apesar da sua importância, o seu nome tenha permanecido na periferia da notoriedade pública.

Edmund Blair Leighton foi o segundo de três filhos a ter nascido da união de  Charles Blair Leighton (1823-1855) e Caroline Boosey. Estranhamente, todos os artigos e relatórios de leilão publicados durante a sua vida e póstumos, afirmam que EBL nasceu em 21 de setembro de 1853. Porém, na sua certidão de nascimento lê-se claramente  21 de setembro de 1852 (e não 1853).

O seu pai era um artista em ascensão que estudou na Royal Academy Schools. O seu desenho a  carvão do proeminente político Joseph Hume entrou no ‘National Portrait Gallery’ no início da existência da galeria, onde ainda hoje permanece. O nome de solteira da mãe de Charles era Blair e após passar a se chamar Caroline, deu seu antigo nome a todos os seus filhos, incluindo Edmund. Daí em diante, tornou-se uma espécie de apelido adicional para  Charles Blair Leighton e descendência. Ambos, pai e filho, o usaram de forma semelhante nas suas pintura. Charles assinava C. Blair Leighton e Edmund assinava E.Blair Leighton.

Residente no bairro de Clerkewell, na época do nascimento de Edmund, Charles deslocava-se diariamente para o seu próspero negócio, Leighton Bros. Este local atraiu muitos notáveis pintores, incluindo Dante Gabriel Rosseti, William Morris e Dverell. Charles era sócio sênior na companhia, junto com dois dos seus irmãos, John Leighton (1822-1912) e George Cargill Leighton (1826-1895). A sua firma estava entre as primeiras a experimentar a reprodução de pinturas de aquarela e óleo pelo processo Cromo-litográfico. A Leighton Brothers esteve envolvida em incontactáveis ilustrações até 1885, quando foi comprada por Vincent Brooks.

Tragicamente, Charles faleceu em 1855 com a idade de 31 anos, deixando Edmund, o “homem da família”, aos 3 anos de idade,  com a sua irmã mais velha Fanny de 5 anos de idade, e sua irmã mais nova Nellie ainda no útero. Caroline se mudou com a família para Bedford Park, e abriu uma escola interna para meninas em Blenhiem Gardens. A escola tornou-se um sucesso, e  assim, Caroline foi capaz de sustentar sua família. Caroline acreditava que uma escola interna para meninas não era o ambiente mais adequado para um rapaz crescer, e enviou Edward para uma escola interna em St. John’s Wood. Infelizmente, teve uma infância muito difícil, era mal alimentado e foi extremamente infeliz. Até em tenra idade era um inadaptado, uma pequena criança de uma família em breve proeminente no mundo da arte, enviada para longe por ser o único filho homem.

Apesar de Blair Leighton desfrutar do desenho desde tenra idade, não lhe foi possível fazer disso carreira numa primeira fase. O artista só é bem pago se a pessoa se tornar reconhecida em vida, e disso não há garantias. Depois de ter terminado os seus estudos na ‘University Collage School’ onde frequentou aulas de 1864 até 1867, Blair Leighton sofreu grande pressão da sua mãe e tio para seguir uma carreira que asseguraria um rendimento mais estável e seguro, para ajudar a sustentar sua mãe e suas duas irmãs.

Não se sabe porque, Charles acaba trabalhando em um negócio de chá, ao invés do negócio de litografia da família juntamente com seu tio. Foi apenas uns anos depois que conseguiu juntar dinheiro suficiente para ingressar em aulas noturnas na ‘South Kensington School of Art’. Mais tarde, recebeu instrução na ‘Heatherley School of Art’ antes de conseguir entrar no programa de 5 anos na ‘Royal Academy of Art School’ em 1874. A Royal Academy era a mais prestigiada instituição de arte, onde os estudantes podiam se encontrar e estudar com os mais proeminentes acadêmicos desse tempo. Para ganhar dinheiro e pagar as aulas, começou a trabalhar como ilustrador para a famosa editora Cassele Co, assim como para revistas tais como o bazar Harper. Em 1878, tornou-se membro do ‘Langham Sketch Club’ e em 1880 foi o presidente do mesmo. Continuou membro até 1891. Os registros mostram o seu nome riscado da reunião quadrimestral, junto com a palavra “terminado”, escrita no topo.

Apesar de Blair Leighton ter sido eleito para o ‘Royal Institute of oil Painters’ em 1887, ele nunca ingressou como associado da Royal Academy, apesar de ser muito apreciado por dois dos seus presidentes, Sir Frederick Lord Leighton e Sir Frank Dicksee. No ‘The Year´s Art’ de 1893, E.B.L apareceu na listagem dos “retratos de proeminentes novos artistas”, junto com a sua fotografia.

Edmund Blair Leighton atingiu o seu pico profissional em meados de 1900, época em que pintou as suas mais famosas obras ‘God Speed’ (1900) e ‘The Accolade’ (1901). Ambos estes trabalhos podem ser encontrados em quase todas as lojas de posters ao redor do mundo, e podem ser vistas em almofadas, malas e numerosos outros acessórios, permeando a nossa cultura como epítomo da nossa concepção moderna das lendas medievais e sentimento romântico. ‘God Speed’ retrata uma bela donzela de cabelo louro até a cintura. Ela está atando um tecido vermelho ao redor do braço do seu amor, literalmente um cavaleiro em armadura reluzente que está prestes a cavalgar para a guerra no seu cavalo branco. Tal tecido está imbuído do significado de que deverá ser devolvido, ficando assim garantido que as duas partes devem se reencontrar. Pouquíssimas pinturas reúnem este sentido, as sensibilidades deste gênero, com belas donzelas, o cavaleiro de armadura reluzente, o cavalo branco, o sentimento do perigo imediato que ameaça o contentamento das personagens. Poucas imagens de qualquer data impactarão tão perfeitamente a nossa imaginação moderna do cavalheirismo e idade média.