A cidade americana de Boston mergulhou novamente nesta quarta-feira (4) no pesadelo dos atentados que atingiram a maratona em abril de 2013 com o início do julgamento contra seu único acusado, Dzhokhar Tsarnaev, dois anos após esta tragédia que deixou 3 mortos e 264 feridos. Djokhar Tsarnaev, um jovem muçulmano de origem chechena que chegou criança aos EUA, pode ser condenado à pena capital se for declarado culpado do pior atentado cometido em solo americano desde os ataques do 11 de Setembro de 2001. A sala de audiência do tribunal presidido por Georde O’Toole estava repleta para a abertura desse esperado processo.
Sua advogada, Judy Clarke, reconheceu perante o júri que o jovem foi responsável pelo ataque. Ao mesmo tempo, porém, argumentou que ele o fez sob a influência de seu irmão mais velho, Tamerlan Tsarnaev. Previamente, o jovem de 21 anos havia se declarado inocente das 30 acusações apresentadas contra ele, incluindo o uso de uma arma de destruição em massa que provocou as mortes. Também é acusado, junto ao seu irmão, que morreu durante um confronto com a polícia quatro dias depois dos atentados, de ter matado um policial durante sua fuga.
Os irmãos Tsarnaev, acusados de ter planejado sozinhos os atentados, são um exemplo da ameaça representadas pelos lobos solitários autorradicalizados, tão temidos pelas autoridades americanas. Tamerlan morreu na madrugada de 19 de abril de 2013 em Watertown, nos arredores de Boston, em um tiroteio com a polícia. Seu irmão mais novo, um jovem de constituição magra e com rosto de adolescente endurecido com uma pequena barba que deixou crescer na prisão, apresenta-se, portanto, sozinho no banco dos réus, no tribunal federal de Boston.
A defesa planeja descrever Tamerlan como o líder, o conspirador principal sem o qual nada teria acontecido. O júri, cuja seleção terminou na terça-feira (3), é composto por oito homens e dez mulheres, todos brancos. Doze deles decidirão sobre a culpa de Tsarnaev, mas também, em um segundo momento, se o acusado será condenado à pena de morte ou à prisão perpétua, as únicas opções possíveis se for declarado culpado. Os outros seis são substitutos.
Na segunda-feira (2), a defesa pediu novamente que o julgamento fosse realizado fora de Boston, argumentando que o acusado não pode ser julgado com imparcialidade em uma cidade profundamente marcada pelos ataques. Nesta quarta-feira está previsto que os promotores detalhem como as duas bombas de fabricação caseira explodiram em meio a uma multidão reunida perto da linha de chegada da maratona, matando três pessoas, um menino de oito anos, uma estudante chinesa de 22 e uma mulher de 29. Quinze feridos precisaram ser amputados.
Djokhar Tsarnaev, que obteve a nacionalidade americana em 2012, estudava na Universidade de Massachusetts em Dartmouth, perto de Boston, e era considerado um jovem bem integrado. “O governo americano mata nossos civis inocentes (…). Nós, muçulmanos, somos um só corpo, quando prejudicam um de nós prejudicam todos. (…) Parem de matar nossos inocentes e pararemos”, havia escrito para explicar seu ato dentro de um barco onde foi encontrado pela polícia, gravemente ferido, poucas horas após a morte de seu irmão.
Djokhar Tsarnaev encontra-se desde sua prisão praticamente isolado em um hospital penitenciário a 70 km de Boston. Será julgado em um Estado, Massachusetts, que aboliu a pena de morte em 1984. Mas, ao se tratar de um ato terrorista com uso de uma arma de destruição em massa, o caso pertence à justiça federal. Uma de suas advogadas, Judy Clarke, é uma das melhores especialistas em pena capital nos Estados Unidos. Conseguiu evitar que ela fosse aplicada contra vários acusados, entre eles o autor do atentado dos Jogos Olímpicos de Atlanta de 1996, Eric Rudolph, ou Ted Kaczynski, conhecido como “Unabomber”, o matemático que enviou entre 1978 e 1995 quinze pacotes-bomba que deixaram 3 mortos e 23 feridos. Todos se declararam culpados em troca de uma condenação à prisão perpétua, algo que Tsarnaev ainda pode fazer. Estima-se que o julgamento dure até junho.