Entre a vanguarda da propaganda na China, sua mídia estatal, havia a manchete “Duas reuniões”, um grande evento político que está sendo realizado em Pequim esta semana, com uma comparação de fotos: Uma tirada numa conferência de imprensa em 2001, justaposta com a do evento deste ano. Na primeira foto, buquês de flores frescas estavam espalhados por toda a plataforma. No segundo evento, elas tinham desaparecido.
“A mídia está prestando muita atenção à nova atmosfera nas duas reuniões”, disse um leitor sério da mídia oficial Hebei Satellite. “O cheiro de frugalidade está por todo lado.”
A sobriedade exibida deve refletir o tom da nova liderança sob Xi Jinping, que foi feito secretário-geral do Partido Comunista Chinês (PCC) em novembro passado.
Mas isso não foi muito bem recebido pela população cada vez mais politicamente experiente e conectada, que numa variedade de fóruns online ridicularizou a afetada atitude e ressaltou que a corrupção predomina no PCC, desperdiçando muitíssimo mais dinheiro do que algumas flores.
O atual conclave – ou seja, o Congresso Nacional Popular e a Conferência Consultiva Política Popular, que se reúnem em Pequim para duas semanas de reuniões – será utilizado para destacar algumas das políticas que Xi Jinping quer promover no início de sua liderança.
As reuniões são realizadas anualmente, mas o evento deste ano verá a nova liderança comunista ser coroada com seus papéis estatais: Xi Jinping se tornará o presidente da República Popular da China e seu braço-direito Li Keqiang substituirá Wen Jiabao como premiê.
Wen Jiabao, ainda o primeiro-ministro atual (a entrega oficial acorre no último dia do encontro), apresentou seu relatório de trabalho em 5 de março, destacando o que ele chamou de êxitos e fracassos da liderança nos últimos cinco anos.
Muitas vezes dado a demonstrações públicas de emoção, no evento deste ano, Wen Jiabao disse nos comentários finais de seu relatório de trabalho de 30 páginas: “Sob a liderança do Comitê Central do PCC, com o camarada Xi Jinping como secretário-geral, vamos nos unir como um só e trabalhar seriamente para concluir a construção de uma sociedade moderadamente próspera em todos os aspectos.”
Outros assuntos que devem ser colocados em discussão ou que políticas implementar incluem uma reorganização da burocracia, pequenas alterações no controle de empresas estatais e medidas para reduzir a poluição que sufoca o país.
No entanto, muitos observadores do sistema político chinês consideram as reuniões principalmente como um evento “vaso de flor” e uma tentativa de mostrar que a China não é realmente governada por um pequeno grupo de homens no topo. Mas o verdadeiro poder reside no Partido Comunista que fica acima dos 3.000 delegados que foram chamados a Pequim.
Assim, nenhuma questão real sobre a gestão dos assuntos de Estado será realmente decidida durante as reuniões, segundo analistas.
“As questões que serão discutidas são coisas que já foram decididas”, diz Cheng Xiaonong, um ex-assessor do deposto líder chinês reformista Zhao Ziyang. “A liderança só precisa de um carimbo. Então, agora veremos o carimbo ser estampado.”
Isso requer milhares de “representantes do povo” vestidos com trajes militares e étnicos respectivos levantando suas mãos para darem a aparência de votação sobre um assunto público ou outro.
Estes indivíduos são cuidadosamente examinados segundo sua confiabilidade política, na verdade, a grande maioria deles é membro do Partido Comunista e eles são escolhidos pelo Partido.
“Para os representantes da Conferência Consultiva Política, não é uma questão de se o indivíduo quer fazê-lo ou não”, diz Ge Jianxiong, um dos delegados e bibliotecário-chefe na Universidade de Shandong, numa entrevista ao Financial Times chinês.
“Se for um não-membro do Partido, o Departamento da Frente Unida submete seu nome, e se for um membro do Partido, então, o Departamento de Organização submete seu nome e a Central do Partido os aprova”, disse Ge Jianxiong.
O controle do PCC sobre o processo, que foi originalmente concebido para mostrar que o regime é mediado por outras forças institucionais, revela-se uma farsa, segundo Hu Ping, um comentarista e analista sênior do regime chinês que vive em Nova York.
“É um encontro de pessoas que leem as linhas num script,” disse ele numa entrevista por telefone. “Até mesmo a identidade das pessoas presentes no evento é selecionada. Eles podem querer algumas novas caras, então, se eles precisam de uma mulher, eles encontram uma mulher; se eles precisam de um trabalhador popular, eles arranjam tal trabalhador; e se eles precisam de um camponês, eles encontram um camponês.”
Hu Ping referiu-se a uma entrevista realizada em 2010 entre o artista-ativista Ai Weiwei e Li Yuxiao, o editor-chefe do portal web QQ, uma das mais populares mídias sociais na China.
Li Yuxiao disse que em 2006, quando sua empresa começou a informar e cobrir online sobre as duas reuniões, a maioria dos comentários dos internautas foi negativa, mas ainda havia alguns positivos. Mas após aquela data, “foi 100% ofensas contra as duas reuniões, os delegados e os líderes do PCC”.
“Naquele momento, não tínhamos escolha, tivemos de desativar a função de comentário, porque assim que você olhasse você poderia ver que eles perderam completamente o coração do povo”, disse Li Yuxiao.
Para as reuniões de 2013, os comentários foram reativados, mas a maioria deles parece ser de natureza positiva, indicando que o notório exército da censura do regime interveio para filtrar as críticas.
“A situação é apenas uma grande piada”, diz Hu Ping. “Uma grande piada que todo mundo conhece.”
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