Em 1999, o então líder comunista chinês Jiang Zemin decidiu destruir o Falun Gong, uma prática espiritual pacífica baseada em princípios tradicionais chineses.
Uma sombria organização do Partido Comunista, operando fora da lei, foi criada para perseguir as dezenas de milhões de praticantes do Falun Gong, originários de todos os grupos e níveis da sociedade chinesa. Esta organização, com o nome da data de sua criação, 10 de junho, foi chamada “Agência 610”.
Quinze anos e inúmeras investidas de propaganda, atos de discriminação civil, espancamentos, torturas e assassinatos depois, os esforços da Agência 610 viram de tudo, exceto o sucesso. Praticantes do Falun Gong continuam a informar e esclarecer o povo chinês sobre a perseguição e a natureza do regime comunista.
Um par de relatórios de “grande urgência” da Agência 610, datados de abril de 2013 e que vazou para a emissora New Tang Dynasty Television (NTDTV), reflete as preocupações dos funcionários da Agência 610 por sua incapacidade de satisfazer as ordens de Jiang Zemin.
Os praticantes do Falun Gong não apenas se recusam a curvarem-se diante da perseguição do regime, mas expandiram enormemente seus esforços nos últimos anos.
De acordo com Heng He, um comentarista da NTD e do Epoch Times, o texto dos documentos reflete o linguajar típico de Partido Comunista Chinês (PCC) e é bastante similar a documentos relativos ao Falun Gong publicados abertamente pelo regime. Os relatórios são carimbados com selos oficiais da Agência 610 e têm números de cópias, bem como níveis de sigilo, como visto em outros documentos internos.
Escala impressionante
Os relatórios vieram de uma filial da Agência 610 na província chinesa de Sichuan, conforme relatado pela NTDTV em 24 de novembro.
Um deles, apresentado por um oficial chamado Yu Daming em 23 de abril de 2013, veio com os rótulos “ultrassecreto” e “muito urgente”. Seu conteúdo continha os termos “Falun Gong”, “13 de maio” e “25 de abril” e as atividades dos praticantes em relação a estas datas, que são termos sensíveis para as autoridades comunistas.
13 de maio de 1992 é a data que o Falun Gong foi introduzido pela primeira vez ao público no Nordeste da China.
25 de abril de 1999 é a data de uma manifestação pacífica espontânea em Pequim que contou com a presença de 10 mil praticantes do Falun Gong diante de Zhongnanhai, o complexo da liderança do PCC.
Os manifestantes estavam lá para protestar contra a detenção ilegal e o espancamento de praticantes na cidade de Tianjin, que fica perto de Pequim. Na ocasião, o premiê chinês Zhu Rongji convidou vários praticantes para entrarem no complexo e resolver as preocupações imediatas, mas, naquela noite, Jiang Zemin, o então secretário-geral do Partido Comunista, enviou uma carta ao Politburo do PCC lançando as bases para perseguir o Falun Gong.
O relatório de 23 de abril de 2013, apresentado por Yu Daming, observava a escala impressionante que os praticantes do Falun Gong divulgam materiais e informações sensíveis.
Citando estatísticas recolhidas pelas autoridades de censura, o relatório diz que 20 milhões de mensagens de texto com materiais do Falun Gong foram enviadas entre janeiro e abril de 2013, ou 3,7 vezes o total detectado em 2012.
O relatório menciona o vice-presidente de uma empresa de comunicações de Sichuan e praticante do Falun Gong que teria comprado vários telefones celulares, que ele então usou para enviar mensagens de texto. Ele também criou um blog que contém artigos sobre o Falun Gong, que recebeu 110 mil visitas antes de ser censurado e encerrado.
O relatório também expressou preocupação com os esforços dos praticantes do Falun Gong que incentivam o povo chinês a renunciar ao Partido Comunista, expondo a história e as características do PCC. Entre novembro de 2012 e abril de 2013, o relatório disse que 160 mil telefonemas desta natureza foram feitos apenas na província de Shandong. Muitos dos telefonemas foram dirigidos a quadros do PCC, incluindo aqueles estacionados em outras províncias.
O movimento de renúncia ao PCC, conhecido em chinês como ‘Tuidang’, surgiu em 2004 com a publicação pelo Epoch Times da série editorial ‘Nove Comentários sobre o Partido Comunista’, que mais tarde foi lançada como um livro.
Até dezembro deste ano, o website Tuidang já registrou mais de 188 milhões de renúncias ao PCC e suas organizações afiliadas.
Sete milhões de chamadas telefônicas a cada seis meses
O segundo relatório da filial da Agência 610 diz respeito ao volume de chamadas telefônicas feitas por praticantes do Falun Gong na China para esclarecer os fatos da perseguição e explicar sobre o movimento Tuidang.
Emitido em 28 de abril de 2013, o relatório afirma que, após o terremoto de magnitude 7 em Lushan em 20 de abril, as autoridades chinesas receberam ligações em massa instando-os a abandonarem o PCC.
O relatório revelou que, durante o período de seis meses de outubro de 2012 a março de 2013, um centro de segurança digital do PCC interceptou 909 mil telefonemas dirigidos a Sichuan provenientes de fora das fronteiras chinesas, ou uma média de 5 mil chamadas por dia. No mesmo período, 7,272 milhões de chamadas estrangeiras foram interceptadas por todo o país, uma estimativa provavelmente muito menor do que o número total de ligações completadas com sucesso.
O ramo de Sichuan da Agência 610 não pôde ser contatado para comentar o assunto.
Mudança nos ventos políticos
Desde 20 de julho de 1999, o Falun Gong tem sido constantemente perseguido numa escala e intensidade não vista desde a Revolução Cultural (1966-1976), quando milhões de pessoas foram mortas ou levadas ao suicídio por terem opiniões políticas supostamente não ortodoxas.
Praticantes do Falun Gong sofrem expulsão do emprego e seus filhos são negados educação. De acordo com o Centro de Informações do Falun Dafa, milhões de praticantes estiveram ou estão atualmente em campos de trabalho forçado e outras áreas de detenção. Os presos são submetidos regularmente à lavagem cerebral e torturas, incluindo choque elétrico, injeção de drogas perigosas, fome, etc. Praticantes do sexo feminino sofrem estupros e abortos forçados.
O Centro de Informações documentou mais de 3.800 mortes por tortura e abusos, mas, por causa da dificuldade de se obter informações da China, esse número seria apenas uma pequena fração do número real.
Investigadores das alegações da extração forçada de órgãos de praticantes vivos do Falun Gong estimam que 65 mil foram assassinados em hospitais em toda a China para a venda lucrativa de seus órgãos no período de 2000-2008. A extração forçada de órgãos continua na China e os investigadores afirma que os praticantes do Falun Gong são a principal fonte de órgãos para transplante na China.
Embora Jiang Zemin tenha deixado de exercer suas posições oficiais de liderança em 2002 e 2003, ele deixou para trás uma extensa rede de asseclas e comparsas, muitos dos quais alcançaram seus altos cargos como recompensa pelo entusiasmo que demonstraram na perseguição ao Falun Gong.
Esta facção política, vinculada por seus crimes e benfeitor comuns, tem lutado para manter sua influência e poder no PCC. Com a ascensão de Xi Jinping, um político com papel reduzido na repressão ao Falun Gong, como novo líder do regime, os subordinados de Jiang Zemin têm sido submetidos a uma série de investigações e expurgos. Por meio do processo extrajudicial do PCC chamado ‘shuanggui’, os membros do PCC podem ser detidos indefinidamente, e alguns são torturados para se extrair confissões.
O regime não deu indicação de que acabará com a perseguição ao Falun Gong, apesar de um número de funcionários que estava envolvido ter sido derrubado nas investigações de corrupção. Estes incluem o ex-chefe da segurança Zhou Yongkang e o chefe da Agência 610 Li Dongsheng.
Dezenas de milhares de funcionários, um número grande mas desconhecido dos que desempenharam papéis de diferentes graus na perseguição ao Falun Gong, encontraram um destino semelhante. Os indivíduos da Agência 610 e de outros órgãos responsáveis pela perseguição sentem agora que o tempo está se esgotando para eles.