Indianas que imigram para as cidades em busca de uma vida melhor encontram pouco alívio
PUDUCHERRY, Índia – Apesar da beleza cênica e segurança da vida de aldeia na Índia, quando não há renda nem dinheiro para comprar comida para as crianças famintas ou um marido endividado, alcoólatra ou doente, muitas mulheres rurais não têm escolha a não ser imigrar para as cidades.
Não qualificadas para uma profissão e vulneráveis, a maioria destas imigrantes termina no trabalho doméstico ou no setor de construção, juntando-se a milhões de outros imigrantes nas crescentes favelas urbanas da Índia, um sinal do rápido crescimento da economia informal da Índia nas últimas décadas.
Bhubneshvari, de 40 anos, imigrou cerca de 50 quilômetros de sua aldeia de Tirukovilur no estado de Tamil Nadu para a cidade de Puducherry mais de uma década atrás, devido à pobreza.
“Meu pai era o único cuidando de mim e meu filho. Meu marido nunca cuidou de nós. Ele se casou novamente três anos depois de se casar comigo. Ele também costumava consumir bebida alcoólica e batia em mim e em sua outra esposa. Quando meu pai morreu, eu não tive opção a não ser mudar para a cidade e procurar trabalho”, diz Bhubneshvari.
O trabalho não vem facilmente nas cidades para mulheres como Bhubneshvari que não possuem habilidades para se sustentar no mercado formal e não estão mentalmente preparadas ou apoiadas para buscar educação e iniciar uma carreira.
Normas socioculturais ainda dizem que as mulheres na Índia só tem status social depois que são casadas. A noção de casamento como a segurança na vida ronda a psique de muitos pais que criam suas filhas na Índia rural. Ao invés de educá-las para serem independentes, muitos pais, assolados pela pobreza, tendem a casar suas filhas assim que encontram um pretendente apropriado.
Isso mantém as mulheres em muitas comunidades economicamente mal preparadas para a vida uma vez que foram ensinadas a esperar que seus pais ou maridos cuidassem delas, mesmo que essa situação acabe sendo na maior parte antagônica.
“Estudei até 10º padrão [10º ano], mas meu pai nunca me deixou trabalhar. Ele escolheu um noivo para mim. Antes de nos casarmos, meu marido disse que trabalhava numa empresa de exportação de vestuário, então, meu pai achou que ele teria dinheiro suficiente para cuidar de mim. No entanto, mais tarde, vim a saber que ele trabalha como alfaiate em casa e é alcoólatra. Muitas vezes me pergunto por que me casei!”, diz Bhubneshvari.
A maioria dessas mulheres mal preparadas que imigram para as cidades acaba em setores não organizados, como o trabalho doméstico, a construção civil ou como catadoras de trapos e de lixo.
“O único trabalho que eu poderia fazer na cidade era trabalho doméstico. Comecei a trabalhar em três casas. Meu trabalho envolvia lavar pratos e roupas e limpeza pelo qual eu ganhava 1.500 rupias (27 dólares) por mês”, diz Bhubneshvari.
Embora inicialmente as cidades pareçam a terra da oportunidade, elas logo se tornam uma difícil luta pela sobrevivência.
“Eu moro num casebre de barro com telhado de folha de lona pelo qual pago 500 rúpias (9 dólares) de aluguel. Temos uma área aberta comum para tomar banho e lavar pratos. Usamos os banheiros da comunidade próxima e temos de pagar 1 rupia por uso”, explica Bhubneshvari, que muitas vezes tem de lutar para receber o pagamento pelo trabalho extra que faz nas casas de famílias ricas. Às vezes, ela sente que as pessoas mais ricas não querem pagar adequadamente.
Junto com essas mulheres carentes, seus filhos também imigram. Com a persistência da pobreza, a pressão para adicionar renda para a família se agiganta e muitas crianças abandonam a escola para trabalhar. “Meu filho não se sente inclinado a ir para a escola. Ele faz 2 mil rúpias (37 dólares) carregando e descarregando petiscos e refrigerantes para lojas”, disse Bhubneshvari.
A vida dura das cidades muitas vezes estimula pensamentos de poupar para retornar para a aldeia. “Meu filho economizou 500 rúpias (9 dólares) a cada mês num plano de economia e tem cerca de 50 mil rúpias (917 dólares). Com mais 20 mil rúpias (367 dólares) que tenho por vender meu colar de ouro, nós podemos construir uma casa na aldeia. No entanto, temos que acomodar todos nela, meu marido, sua outra esposa, seu filho e minha sogra”, disse Bhubneshvari.
No caso de Bhubneshvari, ela imigrou apenas uma curta distância e pode facilmente voltar para sua aldeia a qualquer momento. Existem outras mulheres pobres que imigram distâncias muito maiores em busca de trabalho.
Reena, de 29 anos, deixou sua aldeia na região de Parganas na Bengala Ocidental, no leste da Índia, para encontrar trabalho em Jammu, no extremo norte da Índia, uma distância que leva duas noites e três dias para cobrir de trem.
Nascida na mais abjeta pobreza e sem nunca ter ido à escola, Reena diz que trabalhou toda sua vida. “Eu trabalho desde que me lembro de quando era criança. Meus pais eram muito pobres e trabalhavam de manhã à noite e não havia ninguém para cuidar de mim.”
Ao contrário de Bhubneshvari, Reena casou por sua própria escolha com 17 anos. Um ano depois, ela teve de sair em busca de trabalho porque seu marido não contribuía com qualquer coisa para a esposa e o bebê.
Ela migrou há 11 anos, para onde alguns outros de sua aldeia já estavam vivendo e começou a trabalhar como empregada doméstica, porque era tudo que sabia fazer.
“Estou cansada de trabalhar e quero sossegar de volta em minha aldeia, mas não tenho nada, nem casa, nem terra. Eu trabalho horas extras para economizar dinheiro para poder comprar um terreno e construir uma casa. Eu trabalho em oito casas todos os dias e ganho 6-7 mil rúpias (120-140 dólares) por mês. Os preços estão nas alturas, eu espero que possa poupar o suficiente e comprar um terreno em breve”, acrescenta Reena.
O filho mais velho de Reena, de 12 anos, deixou de frequentar a escola e não há nada mais que ela possa fazer sobre isso. Ela não sabe sobre o paradeiro de seu marido também. “Eu não sei se ele está vivo ou morto, eu não o vejo há dois anos. Ele costumava beber muito”, diz ela.
Crianças que abandonam a escola em tais circunstâncias ficam privadas de educação e, portanto, continuam o mesmo círculo vicioso. E enquanto suas mães trabalham duro de manhã à noite, as crianças também estão privadas da assistência familiar que cada criança tem direito. Além disso, viver como uma imigrante e parte da classe baixa, também as torna vulneráveis a muitas outras condições adversas, tanto física como psicologicamente.
Reena está feliz que, pelo menos, seu filho caçula frequenta a escola e ela se considera afortunada por outras razões. “Minha vida ainda é melhor. Quando eu penso sobre a vida de muitas outras mulheres que trabalham muito duro, são espancadas por seus maridos e vivem na extrema miséria, eu percebo que sou mais feliz!”, disse Reena.