Dissidente exilada fala sobre os protestos na Venezuela

18/02/2014 15:00 Atualizado: 18/02/2014 16:50

Trazemos um artigo que explica, resumidamente, o que são os protestos na Venezuela e quais têm sido as reações a ele. Especialmente enviado para o nosso site e com a tradução realizada por Lourival Filho, serve para situar as pessoas, ainda mais pela pouca importância e clareza com que os fatos ocorridos por lá têm sido relatados pela nossa imprensa.

Como e por que começaram os protestos?

Os protestos na Venezuela, chamados 12F, são uma série de manifestações convocadas no último dia 12 pelos líderes da oposição venezuelana María Corina Machado e Leopoldo López, juntamente com estudantes universitários contra o governo do bolivariano Nicolás Maduro, herdeiro político de Hugo Chavéz. A principal motivação é a insatisfação com a violação dos direitos civis, a escassez crônica de produtos e altos níveis de violência contra a população por grupos armados do regime.

O presidente Nicolás Maduro também convocou seus partidários e anunciou que as manifestações “sem permissão” estavam proibidas após os atos de violência no país. Isso ocorre porque a lei venezuelana exige uma autorização municipal para qualquer manifestação pública. Nicolas Maduro lembrou os meios de comunicação que a transmissão de imagens violentas está proibida pela Lei de Responsabilidade Social de Rádio e Televisão. Como consequência disso, o sinal da TV a cabo do canal internacional NTN24 foi bloqueado por estar “enviando mensagens e imagens que incitam a violência” sem o conhecimento do regime, o que foi confirmado pelo próprio Maduro que também acusou a agência internacional AFP de estar à frente de uma manipulação da mídia.

Pela TV Nacional, durante a comemoração do bicentenário da Batalha de La Victoria, Maduro ordenou militarizar as principais cidades do país e assegurou que os protestos eram parte de um “golpe de Estado” e prometeu justiça para os crimes que ocorreram.

O governo reprime violentamente os manifestantes

Até hoje ocorrem marchas convocadas por líderes políticos e estudantis em 38 cidades, com a presença maciça de pessoas contra e a favor do regime. Em Caracas, ao final do horário de expediente no Ministério Público, deu-se início a um confronto entre os guardas e os manifestantes que terminou com feridos. Houve troca de tiros entre vários grupos. Maduro culpa os adversários pela violência, já a oposição acusa os coletivos armados e as guerrilhas do regime.

O Fórum Penal venezuelano afirmou que a Polícia Nacional Bolivariana (PNB) manipulou evidências do uso de arma de fogo contra manifestantes na cidade de Barquisimeto, capital do estado de Lara, para não ser incriminada. Durante distúrbios noturnos no município Chacao de Caracas, o estudante Robert Redman morreu após ser baleado por desconhecidos.

No domingo (16), oficiais de polícia executaram um mandado de prisão do líder de oposição Leopoldo López, mas felizmente não o encontraram. É relatado que um tribunal, a pedido do Ministério Público, ordenou sua prisão acusando-o de vários crimes, incluindo terrorismo, incitamento à prática de crime, danos materiais e homicídio.

O governo censura e ataca na internet

Em Caracas, usuários da rede social Twitter informam que não podem exibir imagens pois o regime bloqueou. O Site Twitter Inc. também informou seu bloqueio ao governo da Venezuela. A conta de Twitter NTN24 Venezuela (@ NTN24ve) foi ‘hackeada’ por pessoas ligadas ao regime.

O que dizem as autoridades e entidades?

O ex-presidente da Costa Rica, Oscar Arias Sanchez, afirma que o regime venezuelano “reprime a crítica e a dissidência”.

O ex-presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, disse que a Colômbia deve “acompanhar o grito democrático da Venezuela, hoje ensanguentado e pisoteado pelas ditaduras chavista e castrista.”

O Movimiento Nacional Independentista Hostosiano de Porto Rico respaldou o regime de Nicolás Maduro ao qual alertou de “ameaça iminente de golpe de Estado”.

A Anistia Internacional pediu que a Venezuela investigue urgentemente a morte de três pessoas durante os protestos em 12 de fevereiro.

O Partido Comunista do Chile se solidarizou com o regime venezuelano e condenou as manifestações de golpistas.

O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, rejeitou a violência durante os protestos e pediu para cessarem o confronto e iniciarem um amplo diálogo com o respeito pela lei e convivência. Também pediu para investigar de maneira “verdadeira, objetiva e transparente” as mortes durantes os protestos.

A União Europeia disse que continua preocupada com a situação na Venezuela e pediu diálogo pacífico entre as partes. Num comunicado, também salientou que “a liberdade de expressão e o direito de participar em manifestações pacíficas são essenciais”.

A ALBA (Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América) rechaçou a violência e manifestou seu apoio ao regime de Maduro.

A Organização das Nações Unidas (ONU) pediu ao regime venezuelano para processar os responsáveis por ataques aos manifestantes antigoverno e que os punam com sanções adequadas.

O governo do Equador condenou a violência e expressou solidariedade por meio de um comunicado de sua chancelaria.

O governo da Bolívia acusou a oposição venezuelana de golpista.

O Ministério das Relações Exteriores de Cuba condenou a oposição venezuelana por tentativa de golpe e manifestou apoio a Maduro.

O governo da Nicarágua acusou a “direita fascista” pela violência e manifestou apoio a Maduro.

O governo da Argentina manifestou seu apoio a Maduro e chamou a oposição de desestabilizadora e golpista.

Eladio Loizaga, chanceler do Paraguai, que estava na Venezuela para fortalecer relações bilaterais, disse após uma reunião com Elias Jaua, ministro das Relações Exteriores da Venezuela, “não acompanhar qualquer tipo de violência”, mas “processos democráticos”.

O Departamento de Estado dos Estados Unidos pediu respeito à liberdade de expressão, aos direitos humanos e diálogo na Venezuela.

O governo da Costa Rica lamentou a violência, instou as autoridades venezuelanas para que “investiguem e descubram os responsáveis pelas vítimas e feridos”, e acrescentou que existe a esperança de que “consigam um via de solução pelo diálogo e compreensão”.

O chanceler panamenho Francisco Alvarez de Soto disse que seu governo está preocupado com a situação na Venezuela e entende que é um processo interno, mas faz votos de paz e que se respeitem os direitos humanos, a tolerância e o diálogo.

O governo colombiano, por meio de uma declaração, lamentou a violência e expressou condolências às famílias, ao povo e ao governo venezuelano. Também fez um chamado pelo diálogo e disse que a estabilidade na Venezuela é importante para a Colômbia, a própria Venezuela e a região.

O secretário-executivo da coalizão de oposição Mesa de la Unidad Democrática, Ramon Guillermo Aveledo, rejeitou a violência e disse: “São dias de luto.”

O MUD e a Conferência Episcopal da Venezuela (CEV) pediram para que os coletivos e os grupos guerrilheiros sejam desarmados.

Os protestos continuarão

Estudantes entregaram um documento para a sede da Organização dos Estados Americanos (OEA) na Venezuela para pedir que a agência tome medidas após os acontecimentos violentos que ocorreram em 12 de fevereiro.

Leopoldo López e Maria Corina Machado acusaram Maduro de suspender garantias, não respeitar os direitos humanos e pedem que os protestos continuem.

Emma Amaya é socióloga, psicóloga, dissidente do regime e atualmente encontra-se no exílio

Esse conteúdo foi originalmente publicado no portal Reaçonaria

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