PRAGA, República Tcheca – Depois de mais de 20 anos, a justiça foi finalmente servida para o escritor e dissidente checo Petr Placak.
Em junho de 1989, apenas cinco meses antes do regime comunista ser derrubado no que era então a Tchecoslováquia, Placak participou de um protesto ambiental na capital de Praga, onde três agentes secretos violentamente arrastaram-no e o colocaram em sua viatura.
Eles então levaram-no para dentro da floresta, onde ele foi retirado do carro e espancado. “Eles me bateram com os punhos no meu estômago e peito. Quando caí no chão, eles chutaram minha cabeça com força total várias vezes e depois continuaram a me socar”, lembra Placak, que também descreveu o incidente em seu livro seminal chamado Fizl.
Quando os agentes pararam de espancá-lo, roubaram sua bolsa com sua identidade e dinheiro, e deixaram-no numa estrada na floresta. Em seguida, mais de 20 anos se passaram.
Em 15 de maio, os três agressores foram condenados pelo tribunal do distrito de Praga por abuso de poder sobre o incidente. Os ex-agentes secretos Antonin Prchal, de 62 anos, e Ladislav Irovsky, de 55, foram condenados a 18 e 12 meses respectivamente. O motorista Petr Vrbicky, de 47 anos, foi condenado a uma pena suspensa de dois anos e colocado em liberdade condicional por três anos. O quarto agente envolvido no incidente não está mais vivo.
“Claro, congratulo-me com o veredito e estou satisfeito, pois não tem havido mais sentenças desde novembro de 89 [quando o regime comunista foi derrubado]. Este é um dos poucos casos que tiveram uma conclusão”, disse Placak em entrevista por telefone após o veredito.
Este caso, que foi aberto em 2007, foi a terceira tentativa do dissidente de levar seus agressores à justiça. Uma queixa criminal inicial, arquivada logo após o incidente, foi simplesmente ignorada pelo regime comunista.
Poucos meses depois, após a pacífica Revolução de Veludo em novembro de 1989, Placak apresentou sua segunda denúncia criminal. O caso foi investigado por promotores militares, mas não deu em nada. Como ele soube mais tarde, agentes secretos militares da era comunista ainda tinham poder e simplesmente varreram seu caso para debaixo do tapete.
Em sua terceira tentativa, ele apresentou ao Gabinete de Documentação e Investigação de Crimes do Comunismo, uma subdivisão da polícia checa. Cinco anos após a abertura do caso em 2007, e 23 anos após o incidente, ele finalmente viu justiça.
Placak nasceu em 1964, filho do ativista anticomunista Bedrich Placak. Petr Placak, desde tenra idade, foi ativo no movimento popular na esperança de um dia ver seu país livre do comunismo.
“O que queríamos: acima de tudo viver como gostamos, fazer nossas próprias coisas, ter nosso próprio mundo, independente do regime. E, naturalmente, quando o regime nos incomodava, nós então fazíamos o mesmo. Foi mútuo”, disse ele conforme citado pelo Post Bellum (latim para “pós-guerra”), uma organização checa criada em 2001 por jornalistas e historiadores para gravar testemunhos dos que sofreram nas quatro décadas de regime comunista.
Embora Placak diga que sente satisfação pessoal com o veredito do tribunal, há uma questão maior. “Sobre a questão de resolver-se com nosso passado comunista, ainda temos um monte de dívidas”, disse ele, insinuando os inúmeros crimes do regime comunista perpetrados contra cidadãos que nunca foram punidos.