Disputa sobre ilhas produz atos extremos contra japoneses na China

15/09/2012 10:39 Atualizado: 15/09/2012 10:39
Manifestantes anti-Japão gritam em frente à embaixada japonesa em Pequim, em 13 de setembro de 2012. (Mark Ralston/AFP/Getty Images)

Ideias têm consequências. Um japonês que recentemente teve seu macarrão quente jogado em seu rosto enquanto comia num restaurante em Shanghai descobriu isso da maneira mais difícil.

Assim também um Honda, um carro fabricado no Japão, que foi incendiado por seu dono numa rua de Shanghai em 13 de setembro, fazendo a rua ser fechada até que os bombeiros chegassem. O manifestante incendiário pendurou bandeiras anti-Japão numa cerca próxima para se certificar de seu ponto era claro.

Os atos de violência e destruição ocorreram poucos dias depois de o Japão anunciar em 11 de setembro a intenção de comprar as ilhas Senkaku, que a China afirma serem parte de seu território. Elas foram compradas de cidadãos japoneses.

Grandes multidões também se reuniram em frente à embaixada japonesa. Motoristas de ônibus foram orientados a não parar naquela rua durante o dia, segundo a mídia estatal chinesa.

“Boicote aos produtos japoneses” foi o segundo tópico mais popular no Weibo, a versão chinesa do Twitter, na quinta-feira. Muitas postagens documentaram atos extremos de ódio.

O usuário ‘Xiaohai1819’ do Weibo da cidade de Chongqing enviou uma foto de uma roda de carro sem parafusos na manhã de quinta-feira.

“Hoje, alguns jovens nacionalistas levaram os parafusos das rodas do meu carro japonês, quando estacionei no Shapangba”, escreveu ele. “Se isso acontecesse com um motorista menos experiente, podia ter custado a vida de uma pessoa!”

Sua foto foi repostada mais de 27 mil vezes e atraiu mais de 5 mil comentários. Muitas das declarações refletiram sobre e expressaram desaprovação pelo nacionalismo extremo exibido.

“Enfim, os carros são fabricados por fábricas chinesas. Tais atos ferem os patrimônios do povo chinês”, comentou o usuário ‘Siyingruan’.

“Quando você boicota produtos japoneses, dezenas de milhares de chineses acabarão nas ruas. A taxa de desemprego na China aumentará. As pessoas no Japão sofrerão também. Imagine se os japoneses também boicotarem produtos chineses, quantas fábricas em cidades e vilas rurais fecharão?”, escreveu um usuário do Weibo que reside no Japão.

“O que eles fizeram foi criar distúrbio e isso não está de forma alguma relacionado com o amor a pátria.”

O extremismo na China tem suas raízes. Depois que o Partido Comunista tomou o poder na China em 1949, o uso da propaganda para influenciar a opinião pública tanto em assuntos domésticos quanto internacionais se tornou um componente essencial do governo do regime comunista.

“Na verdade, a Revolução Cultural nunca terminou”, comentou o usuário ‘Inthekitchennng’. “Eu prefiro olhar para um país que respeite a democracia, os direitos humanos e os valores universais.”

“Antes que a China se torne um Estado democrático, acho que será melhor se o Partido Comunista Chinês parar de expandir sua influência. Quanto mais seu poder aumenta, mais as pessoas sofrerão”, comentou o economista He Qinglian no Twitter. “Acho que os problemas com as ilhas Senkaku não são tão urgentes como o emprego, déficits e os direitos humanos.”