A notícia da China ter posicionado mísseis antiaéreos no Mar do Sul da China apareceu nas manchetes no mês passado. No entanto, os mísseis são apenas parte de uma mudança mais ampla que provavelmente levará o conflito a um novo nível.
As mudanças começaram em 30 de janeiro, quando o USS Curtis Wilbur, um navio de guerra da Marinha dos EUA, passou a 12 milhas náuticas da Ilha de Triton, na cadeia de ilhas de Paracel, no Mar do Sul da China.
A manobra foi parte de uma missão de “liberdade de navegação”, e foi apoiada por Taiwan e Vietnã, que também reivindicam a Ilha de Triton. A China, por sua vez, que também reivindica a ilha, não ficou feliz.
Fontes estatais dentro da China inundaram a mídia com notícias sobre agressões dos EUA, e afirmaram que os Estados Unidos tentaram estabelecer a “hegemonia” no Mar do Sul da China.
Expliquei a ironia da narrativa chinesa em uma reportagem anterior, apontando que, na realidade, a situação é o oposto. A China é quem está literalmente tentando estabelecer a hegemonia sobre a região, enquanto os Estados Unidos estão tentando manter os padrões da liberdade de trânsito através de águas que são críticas para o comércio internacional.
Leia também:
• China começa a construir base militar no nordeste da África
• A história das viagens de genocidas chineses à Cuba
• Canal da Nicarágua: a peça chave do plano de expansão da China
No entanto, independentemente das intenções, a contrapartida do regime chinês foi uma resposta militar intensificada contra os Estados Unidos e seus aliados, o que pode elevar as tensões no Mar do Sul da China a um ponto de ebulição.
As imagens de satélite, a partir de 14 de fevereiro, mostraram que a China havia implantado sistemas de mísseis antiaéreos (mísseis superfície-ar ou SAMs) em Woody Island, na cadeia de Ilhas de Paracel.
O regime chinês afirmou que os mísseis já estavam lá há anos, se isso for verdade, os militares chineses mantiveram-os escondidos por todo este tempo. Imagens de satélite mostram que os mísseis apareceram em algum momento entre 03 e 14 de fevereiro. Os relatórios anteriores dizem que a China começou a armar suas ilhas artificiais em torno de maio de 2015.
Enquanto os mísseis viraram o centro das atenções na mídia global, houveram, no entanto, vários outros desenvolvimentos de peso semelhantes.
A China pode estar construindo uma nova base de helicópteros para operações de guerra antissubmarinos (anti-submarine warfare – ASW), de acordo com uma reportagem da USNI News, uma fonte de notícias do U.S. Naval Institute. Analistas de defesa observaram anteriormente que os submarinos seriam um divisor de águas para os Estados Unidos, se houvesse uma guerra com a China.
A nova base antissubmarino “pode sinalizar um avanço nas capacidades de guerra antissubmarino da China em todo o Mar do Sul da China”, afirma uma reportagem de Victor Robert Lee do The Diplomat.
“Uma rede de bases de helicóptero e pontos de reabastecimento espalhadas por todo o Mar do Sul da China, usando nada mais do que as bases que já sabemos que a China está construindo, faria quase quaisquer coordenadas no mar acessíveis”, afirma Lee.
People’s Daily, um dos principais porta-vozes do regime chinês, em seguida, publicou um comentário dizendo que a China deve “ensinar uma lição aos Estados Unidos” se os Estados Unidos continuarem a suas operações de liberdade de navegação no Mar do Sul da China.
Foi publicado no comentário que as forças chinesas devem disparar tiros de advertência e acertar navios dos EUA.
Meios de comunicação chineses agora estão relatando que o regime chinês pode instalar mísseis antinavio, e outras armas no Mar do Sul da China.
Li Jie, pesquisador sênior do Instituto de Pesquisa e Estudos Militares Navais PLA, disse ao South China Morning Post que a China implantará armas mais avançadas se os Estados Unidos “forçarem a barra”.
Frente ao aumento das tensões com a China, os Estados Unidos agora visam expandir um protocolo naval para a segurança dos navios que se encontram no mar, chamado de Código Para Encontros Não Planejados no Mar.
As alterações propostas editariam regras para incluir os navios não militares, descrito pelo Vice-Almirante Joseph Aucoin, comandante da Sétima Frota dos EUA com base no Japão, de acordo com o The Diplomat.
Uma das principais razões para as alterações consideradas, de acordo com o The Diplomat, é que o regime chinês está implementando novos grandes navios de guarda costeira “pintados de branco em vez de cinza da Marinha.” A China tem utilizado barcos da guarda costeira e barcos de pesca como parte de sua estratégia militar na região.
Outras nações também estão com estratégias cada vez mais acirradas no intuito de desafiar as reivindicações da China. Os Estados Unidos estão pedindo à Austrália para começar suas próprias operações de liberdade de navegação, o Vietnã está construindo suas forças armadas, tropas nas Filipinas estão “se preparando para o pior” na possibilidade de uma disputa com a China e o Japão, e está considerando começar suas próprias patrulhas navais.
A questão agora é: Qual será a dimensão da reação da China, e como outras nações irão lidar com as ações do gigante asiático na construção de estruturas militares em seu impulso para controlar o trânsito na região?