Disputa com as Filipinas usada na luta de poder do regime chinês

19/05/2012 03:00 Atualizado: 19/05/2012 03:00

Barcos de pesca, conhecidos localmente como 'barcos mãe' que são usados para transportar os peixes capturados em torno do recife Scarborough, no Mar da China Meridional, em 10 de maio de 2012. Por anos, os pescadores filipinos e chineses compartilharam pacificamente as riquezas em torno do pequeno banco de areia ao sul do Mar da China Meridional, mas as ameaças de hoje, o assédio e o medo têm substituído a camaradagem no oceano. (Ted Aljibe/AFP/Getty Images)A condução da disputa territorial do regime chinês com as Filipinas no Mar da China Meridional se tornou uma arma política entre as facções do Partido Comunista Chinês (PCC). Um artigo de jornal de destaque em 15 de maio é o exemplo mais recente do atual presidente chinês Hu Jintao trabalhando para transformar essa disputa política externa para sua vantagem política interna, segundo analistas.

Na terça-feira, o Diário do Exército da Liberação (DEL) da China publicou um artigo intitulado, “Oficiais precisam se tornar modelos em considerar a situação política global e respeitar a disciplina”. Analistas acreditam que o artigo serve como um aviso para os militares que permanecem fiéis a Zhou Yongkang. O DEL é publicado pela Comissão Militar Central, que é liderada por Hu.

Zhou lidera a facção previamente encabeçada por Jiang Zemin, chamada de “gangue da dívida de sangue”, porque seus membros estão associados por sua responsabilidade na perseguição ao Falun Gong. Jiang, o ex-líder do PCC, está em estado vegetativo, e Zhou mesmo está em apuros. Em 13 de maio, o Financial Times relatou que Zhou havia entregado seu poder sobre o Comitê dos Assuntos Político-Legislativos, o órgão do Partido que controla quase todos os aspectos da aplicação da lei na China.

O ministro da propaganda Li Changchun também faz parte da mesma gangue. Em 8 de maio, a edição internacional do Diário do Povo que ele controla publicou um editorial impetuoso, “O recife Scarborough: Não há necessidade de tolerar caso se tornar intolerável”.

Isto se seguiu a um artigo de 7 de maio na revista Nanfengchuan, em que Qiao Liang, um general antiamericano do Exército da Liberação Popular (ELP), disse que a questão do Mar da China Meridional é uma carta nas mãos dos Estados Unidos. “Devemos aprender com os norte-americanos”, disse Qiao, “explodir sua embaixada e depois dizer que foi um erro”. Qiao se referia ao bombardeio dos EUA da embaixada chinesa em Belgrado, Iugoslávia, em 1999, durante os esforços da OTAN para acabar com a guerra iugoslava contra Kosovo. A intenção do artigo do Diário do Povo e da entrevista de Qiao foi criticar a política de Hu Jintao numa base nacionalistas.

Em 12 de maio, um artigo do DEL criticou aqueles como Qiao que insistem numa resposta mais forte como “pescar em águas turvas para chegar à frente através do caos”. O artigo afirmava que uma solução diplomática era possível na disputa sobre o recife Scarborough e acusou os provocadores de quererem começar uma guerra de raiva e desencadear um grande conflito com os Estados Unidos.

O inimigo mais poderoso que Hu Jintao e o primeiro-ministro Wen Jiabao enfrentam entre os militares em relação à disputa com as Filipinas sobre a pequena ilha no Mar da China Meridional é Liang Guanglie. O ministro da Defesa é um velho amigo de Bo Xilai, um membro da gangue da dívida de sangue e ex-chefe deposto do PCC em Chongqing. Liang tem insistido para que medidas fortes sejam tomadas a respeito do conflito do Mar do Sul da China.

O colunista Li Tianxiao do Epoch Times escreveu que Liang procura ganhar três coisas, “Primeiro, isso pode desviar a atenção de Hu e Wen longe de perseguir e punir Bo Xilai e Zhou Yongkong. Segundo, isso permite que a facção de Jiang Zemin mantenha e expanda sua influência nas forças armadas. Terceiro, isto pode colocar Hu Jintao numa situação difícil, se Hu não enfatizar o conflito no Mar da China Meridional, então, isso pode enfraquecer o controle de Hu sobre os militares e marcar Hu como trazendo humilhação para o país. Se Hu se envolver num conflito na região, então isso enfraquecerá e diminuirá a punição de Bo Xilai e Zhou Yongkang.”

“Liang Guanglie seguiu a prática usual no PCC: Quem grita mais alto sobre o patriotismo e a soberania territorial tem o direito de falar e ganha autoridade”, escreveu Li. “Liang pensou que poderia estrangular Hu Jintao.”

A mídia porta-voz do regime chinês, Xinhua, informou em 12 de maio que Guo Boxiong, o vice-presidente da Comissão Militar Central, visitou as tropas estacionadas em Hong Kong, Macau, e na província de Hubei. Ele enfatizou a importância de aprender a estratégia militar do presidente Hu. Guo também pediu ao exército na Região Militar de Guangzhou e na Região Militar de Jinan para seguirem incondicionalmente os comandos de Hu.

Li acredita que com as ações de Guo, Hu usou a disputa no Mar da China Meridional para reforçar sua autoridade. “Liang subestimou Hu. Hu realmente usou a situação e tomou a iniciativa longe de Liang. Hu usou a situação do recife Scarborough para fortalecer seu controle sobre os militares”, escreveu Li. “Por esta razão, Hu também se tornou mais firme a respeito do conflito do recife Scarborough. Hu virou o plano para desviar a atenção de Liang em seu próprio benefício, usando-o para fortalecer sua própria posição no exército, usando isso para preparar o terreno para punir Zhou Yongkang, atacar Jiang Zemin, e limpar o resto da gangue da dívida de sangue.”

Devido à intervenção de Hu e Wen, o impasse entre a China e as Filipinas foi mais uma vez amenizado. Em 16 de maio, depois de um impasse de um mês entre as marinhas dos dois países, a China anunciou a proibição da pesca na região, e as Filipinas seguiram com sua proibição da pesca própria com a finalidade de repor os estoques de peixes.