WASHINGTON – O regime chinês deveria parar de manipular sua moeda e de roubar a propriedade intelectual de empresas norte-americanas, disse Gary Locke, o embaixador dos EUA para a China, em observações feitas na capital dos EUA na quinta-feira. Ou isso é o que ele poderia ter dito se tivesse falado francamente.
O que ele realmente disse foi que, “Em nossa relação econômica, acreditamos que transformar nossa retórica em realidade exige justiça tanto política quanto na prática. Isso significa garantir a igualdade de condições para a competição saudável entre as empresas norte-americanas e chinesas… Justiça significa acabar com as práticas desleais de distorção monetária e melhorar a proteção da propriedade intelectual para permitir que inovações prosperarem.”
Posteriormente em seus comentários preparados, Locke disse que os Estados Unidos e a China deveriam “falar francamente um ao outro” sobre suas diferenças.
Foi o primeiro discurso de Locke desde que se tornou embaixador, “um dos trabalhos mais desafiadores e interessantes do mundo”, conforme descrito por Douglas H. Paal, o moderador do evento e vice-presidente de pesquisa do Fundo Carnegie para a Paz Internacional, onde a discussão foi realizada.
A linguagem usada, mesmo quando pedindo conversa franca, foi uma demonstração tangível da complexidade da relação entre os dois países e da ortodoxia diplomática vigente dos EUA que o Partido Comunista Chinês (PCC) não responde bem às críticas, mesmo que em sua recente viagem à China a secretária de Estado norte-americana Hillary Clinton tenha sido atacada impiedosamente pela imprensa estatal chinesa.
O restante do discurso de Locke foi dedicado a um exame de vários outros aspectos do relacionamento, empregando platitudes, truísmos e notas de esperança e desacordo cuidadas.
“É natural que nem sempre concordemos. Há questões sobre as quais temos diferenças muito reais, como os direitos humanos universais e as liberdades fundamentais.” Novamente, foi a capacidade de “falar francamente” que foi descrita como fundamental, apesar do fracasso dos EUA de pressionar publicamente pela libertação de muitos advogados de direitos civis detidos e outros injustamente presos na China.
Entretanto, os Estados Unidos foram pontuais sobre alguns assuntos. Locke defendeu a publicação contínua feita pela embaixada norte-americana das leituras de poluição PM 2,5, o que irritou as autoridades chinesas porque elas dizem que isso infringe a soberania chinesa. A PM 2,5 é uma medida de partículas aéreas de 2,5 microns ou menos. A exposição constante a concentrações de PM 2,5 no nível encontrado em Pequim é equivalente a “fumar dois maços de cigarros por dia”, disse Locke. Ele argumentou que a apresentação desta informação pela embaixada criou um ponto de encontro para o povo chinês exigir melhores proteções ambientais do Partido Comunista.
Esse é um bom exemplo de como os Estados Unidos podem influenciar a opinião, embora isso não seja bem-vindo pelo regime chinês. Quando mais disso pudermos ver melhor.