Discurso do vice-presidente chinês mantêm-se na linha do Partido

16/02/2012 03:00 Atualizado: 16/02/2012 03:00

O vice-presidente chinês Xi Jinping fala aos líderes do setor público e privado no almoço formal oferecido pelo Conselho Comercial China-EUA e pelo Comitê Nacional sobre Assuntos da China-EUA com o apoio de diversas organizações colaboradoras em Washington em 15 de fevereiro de 2012. (Jewel Samad/AFP/Getty Images)No discurso, que consistiu sobretudo de clichês, parte de avisos e diversos momentos de propaganda, o vice-presidente da República Popular da China, Xi Jinping, deu seu maior discurso político em sua presente visita aos Estados Unidos a uma audiência de homens de negócios e líderes políticos no Marriott Wardman Park Hotel em 15 de fevereiro.

O discurso de Xi enfatizou reiteradamente o respeito mútuo e a cooperação estratégica entre a China e os Estados Unidos, enumerou uma série de números e factoides que pretendiam demonstrar que a melhor política que os Estados Unidos poderiam seguir era a de não interferência nos assuntos que a China considera internos.

Uma série de comentários preliminares e panegíricos precederam o discurso de Xi, feitos pelo presidente do Conselho Comercial China-EUA, Jonh Frisbee; o presidente e CEO da Coca-Cola, Muhtar Kent; o secretário do comércio, Jonh Bryson; a presidente do Comitê Nacional sobre Assuntos da China-EUA, Carla A. Hills; e, finalmente, Henry Kissinger; todos desejaram as boas vindas ao convidado chinês.

Um tema chave que Xi enfatizou foi o de “mútuo respeito e mútuo benefício”. O que significa, “Eu vim para aprofundar o importante acordo estabelecido entre Hu Jintao e o Presidente Obama, e avançar na construção de uma parceria cooperativa entre a China e os Estados Unidos baseada no respeito mútuo e benefício mútuo.”

Cerca de metade do discurso consistiu em afirmações semelhantes.

Xi afirmou que décadas de relações entre a China e os EUA, desde a aproximação de Nixon em 1972, trouxeram “estabilidade e prosperidade à região da Ásia-Pacífico e ao mundo como um todo”, e comparou os laços entre os dois países como um “rio irrefreável que continua a correr vigorosamente”.

O presumível novo líder do Partido Comunista Chinês (PCCh) veio este outono também para alertar os Estados Unidos. Ele disse que os Estados Unidos devem aderir à política de “uma só China, oporem-se à independência de Taiwan e apoiarem a paz entre os dois territórios com ações concretas”. Isto pode ser uma referência à venda de armas dos Estados Unidos a Taiwan.

Xi também afirmou, “Esperamos que os EUA possam honrar o seu compromisso de manter o Tibete como parte da China e tratar os assuntos relacionados com o Tibete de uma forma prudente.”

Xi acrescentou, “A história demonstrou que quando tratamos de forma conveniente os nossos mútuos interesses, a relação China-EUA crescerá sem percalços e com estabilidade. De outro modo encontrará problemas.”

Contudo, Xi usou o termo “cooperação” ou “cooperativo” mais de vinte vezes na apresentação de 15 minutos.

Greg Autry, coautor do livro “Morte pela China” e um crítico da atual relação entre a China e os EUA, disse em entrevista ao Epoch Times, “a necessidade constante de Xi reiterar estas afirmações torna claro que existe uma tensão subjacente na relação”.

Sobre o desejo de cooperação e harmonia, Clyde Prestowitz, fundador e presidente do Instituto de Economia Estratégica, não duvida que Xi Jinping esteja sendo sincero sobre o relacionamento harmonioso. Mas estas intenções falham no que diz respeito a reconhecer “os aspectos que serão causa de desentendimento”, disse Prestowiz numa entrevista telefônica.

A dinâmica subjacente é que os Estados Unidos e a China terão sempre dificuldade em “respeitar as regras do jogo”, como formuladas recentemente pelo Presidente Obama, porque na realidade eles estão jogando de forma totalmente diferente no campo econômico, comercial, e industrial, de acordo com Prestowitz.

Nas partes aparentemente substanciais do discurso de Xi, diversas afirmações foram feitas que não parecem ser totalmente verdadeiras ou que podem ser percebidas como propaganda, de acordo com estes peritos.

Por exemplo, Xi afirma que “a reforma dos mecanismos cambiais do Renminbi” teve um “papel importante” na redução do superávit da balança comercial da China. Contudo, Prestowitz nota que na realidade os mecanismos cambiais da China não alteraram muita coisa.

“Eles intervêm todos os dias nos mercados de câmbio, compram milhões de dólares todos os dias para manter o dólar como uma moeda sobrevalorizada”, diz Prestowitz. “Não há como afirmar que a atual política ajuda a situação.”

Xi também afirmou que se os Estados Unidos levantarem as restrições à exportação de produtos civis de alta-tecnologia “o mais brevemente possível”, isto poderá equilibrar a balança comercial entre a China e os Estados Unidos. Prestowitz diz que isto não faria grande diferença. “A quantidade de exportações em potencial é realmente pequena. Nada do que estão afirmando teria impacto significativo na balança comercial. É apenas uma opinião propagandista.”

Greg Autry pensa que pode haver algo mais desfavorável na sugestão de Xi. “O que eles querem é que os EUA exportem produtos de alta tecnologia para que eles os possam copiar, frequentemente para fins militares, e começar a fabricar produtos de tecnologia cada vez mais alta na China, o que roubará muitos dos últimos empregos valiosos que ainda existem nos Estados Unidos”, disse ele.

Já no final de seu discurso, Xi divergiu para contar uma pequena história aparentemente sem relação com os assuntos já endereçados. A história de um homem velho que no seu leito de morte recorda com ternura sua infância numa cidade chinesa em particular. As memórias da infância do homem, passadas na China antes da Revolução Comunista, tinham o intuito de fortalecer os laços entre a China e os Estados Unidos.

Xi também afirmou que em seu encontro com os líderes do congresso Harry Reid e John Boehner (R-Ohio) em 16 de fevereiro, os dois lados haviam “chegado a novos e importantes consensos e alcançado resultados proveitosos”. Uma porta voz de Boehner, Brittany Bramell, pode apenas reportar ao Epoch Times um comunicado feito pelo gabinete de Boehner. O comunicado não descreve a discussão como proveitosa ou se refere a qualquer consenso que tenha sido alcançado.

Ao invés disso, a nota afirma que Boehner e seu colega da Casa Branca, Eric Cantor, expressaram preocupações sobre a corrente violação de direitos humanos na China. Eles entregaram a Xi uma carta acerca de Gao Zhisheng, um advogado de direitos civis atualmente na cadeia na China que tem sido torturado múltiplas vezes sobre custódia extrajudicial nos últimos anos. O gabinete cedeu uma foto do encontro em que Boehner fixa com uma expressão consternada o visitante chinês.