Discurso do chefe anticorrupção visa aliados do ex-líder chinês

16/09/2014 12:54 Atualizado: 16/09/2014 12:54

Wang Qishan, o coordenador da campanha anticorrupção do líder chinês Xi Jinping, anunciou recentemente três tipos de funcionários que devem ser seriamente investigados. Uma dessas categorias retrata os altos funcionários aliados do ex-líder chinês Jiang Zemin.

Wang Qishan, secretário do Comitê Central de Inspeção Disciplinar (CCID), participou recentemente da 7ª reunião da 12ª Conferência Consultiva Política Popular (CCPP), que começou no dia 25 de agosto de 2014. A CCPP é um órgão consultivo oficial do Partido Comunista Chinês (PCC).

De acordo com Wang, o primeiro tipo de funcionários que precisa ser investigado seriamente são aqueles que continuam envolvidos em corrupção e politicagem após o 18º Congresso do PCC em 2012 (foi nessa reunião que o novo líder Xi Jinping foi empossado); o segundo tipo são os funcionários que têm muitas queixas apresentadas contra eles por cidadãos; e o terceiro são aqueles que têm uma história de corrupção embasando seu carreirismo.

Zhang Dejiang, Zhang Gaoli e Liu Yunshan são membros do Comitê Permanente do Politburo do PCC, o corpo de elite de sete homens que constitui o topo da hierarquia do PCC. Estes três funcionários se encaixam na descrição de Wang sobre o segundo tipo de funcionários que devem ser seriamente investigados, pois há várias denúncias contra eles.

Estes três são também membros da facção do ex-líder chinês Jiang Zemin. Eles temem ser destituídos e têm imposto resistência ao governo de Xi Jinping em cada passo do caminho para evitar serem derrubados e presos.

Em seu discurso, o funcionário disciplinar Wang Qishan disse que o objetivo é garantir que os funcionários “não se atrevam a cometer corrupção, não possam se corromper e não desejem ser corruptos”. Ele sugeriu que, enquanto a campanha anticorrupção tem feito os funcionários temerem a corrupção, a campanha está apenas tratando os sintomas e não a causa da corrupção e politicagem.

Wang não deixou claro qual é a causa da corrupção na geração atual de funcionários.

Durante seu mandato, o ex-líder chinês Jiang Zemin promoveu funcionários leais a ele e que realizaram sua perseguição brutal ao Falun Gong. Jiang recompensou sua lealdade com oportunidades de corrupção e eles desviaram grandes somas de dinheiro. Seu roubo de recursos públicos e a enorme desigualdade de renda resultante levaram a protestos em massa e agitação civil.

Os asseclas de Jiang têm sido os principais alvos da campanha, ou expurgo político, de Xi Jinping.

Criando problemas

Após o 18º Congresso do PCC, Liu Yunshan, o diretor do Departamento de Propaganda, criou incidentes para combater as políticas de Xi Jinping. Em janeiro de 2013, sob o comando de Tuo Zhen – o chefe de propaganda da província de Guangdong apoiado por Liu Yunshan –, o jornal Semanário do Sul foi forçado a substituir seu editorial pronto de Ano Novo por outro glorificando o Partido Comunista Chinês. O editorial original de Ano Novo, intitulado ‘Sonho da China, Sonho do Constitucionalismo’, apelava pelo estabelecimento de direitos na Constituição.

Xi Jinping tem tomado medidas para enfraquecer a facção de Liu Yunshan, substituindo e prendendo os aliados de Liu nos principais meios de comunicação estatais, como a Xinhua, o Diário do Povo, o Diário de Pequim e a CCTV.

Zhang Dejiang, outro aliado de Jiang Zemin e presidente do Comitê Permanente do Congresso Popular Nacional – o legislativo-carimbo do PCC –, também tem trabalhado contra Xi Jinping. Quando Xi Jinping tentou abolir no ano passado o sistema de 60 anos de reeducação pelo trabalho forçado, Zhang Dejiang resistiu não executando as propostas de Xi Jinping e basicamente ignorou suas diretrizes.

Quando Wang Qishan tentou sobrepor-se a regra não escrita de impunidade concedida aos membros do Comitê Permanente do Politburo, Zhang Dejiang tentou reunir os altos funcionários para se opor a Wang, mas no final Wang venceu.

Depois que o ex-chefe da segurança pública Zhou Yongkang foi preso, Xi Jinping queria conduzir uma investigação completa sobre os inúmeros crimes de Zhou, incluindo peculato, assassinato e abuso de poder, enquanto Zhang Dejiang insistia em limitar as acusações contra Zhou a apenas corrupção.

Em 10 de junho, sob as ordens de Zhang Dejiang e Liu Yunshan, as autoridades chinesas lançaram um papel branco, ou uma série de diretrizes políticas, declarando que “o alto grau de autonomia [de Hong Kong]… vem apenas da autorização da liderança central”, o que foi visto por muitos como Pequim afirmando seu domínio sobre os assuntos de Hong Kong.

Em 31 de agosto, o regime chinês declarou oficialmente que a candidatura para chefe-executivo de Hong Kong deve ser aprovada por um comitê de nomeação de Pequim, negando assim a possibilidade de uma eleição aberta. O resultado tem sido um grande descontentamento em Hong Kong, que pode levar a manifestações de massa. Analistas dizem que Zhang Dejiang criou caos intencionalmente para tumultuar o governo de Xi Jinping.

Zhang Gaoli, o terceiro membro da facção de Jiang Zemin, é governador da província de Shandong e chefe do PCC em Tianjin. Durante seu mandato, empresas de capital privado em Tianjin tomaram dinheiro emprestado dos cidadãos ilegalmente, alegando que os investimentos eram garantidos pelo governo de Tianjin e que os investidores seriam recompensados com altos retornos.

Quando as empresas foram fechadas e investigadas posteriormente, no entanto, as vítimas foram defraudadas em 100 bilhões de yuanes (US$ 16 bilhões). Quando ocorreu um incêndio em 30 de junho em Tianjin, que custou mais de 300 vidas, principalmente mulheres e crianças, Zhang Gaoli ordenou o silêncio total da mídia.