Diretor do SETI tem esperanças por viagem interestelar

07/06/2012 03:00 Atualizado: 06/08/2013 18:51

O telescópio espacial James Webb da próxima geração da NASA é baixado no Simulator de Ambiente Espaço e câmara de vácuo com um guindaste, para testar sua capacidade de suportar as temperaturas frias do espaço, no Centro de Voo Espacial Goddard da NASA, em Maryland, EUA. (Chris Gunn/NASA)Colonos voadores de colônias fora do planeta poderiam se tornar uma realidade se alguns dos mais recentes programas da NASA se concretizarem. A missão Kepler da NASA já encontrou 61 planetas potencialmente habitáveis, e este número tem aumentado. Enquanto isso, os pesquisadores estão construindo uma nave espacial capaz de fazer viagens interestelares no âmbito do programa “100 Year Starship”, liderado pela NASA e pelo DARPA, um ramo de pesquisa das forças armadas norte-americanas.

Para Jill Tarter, diretora de pesquisas por vida inteligente em outros lugares do Instituto SETI, esses são sinais de anos de trabalho dando frutos. “Depois de todo esse tempo, é realmente gratificante ter uma ideia melhor de onde apontar o telescópio”, disse ela.

O Instituto SETI é uma organização privada, sem fins lucrativos, que se propõe a explorar e compreender a prevalência e a natureza da vida no universo. O SETI teve projetos patrocinados pela NASA, a Fundação de Ciência Nacional e o Departamento de Energia, entre outros.

Depois de convencer o mundo que eles não estão relacionados com o cara usando um chapéu de alumínio e voando sobre Roswell, a organização estabeleceu credibilidade integrando a busca de vida e planetas habitáveis fora do nosso próprio. Por exemplo, enquanto a Missão Kepler encontra planetas potencialmente habitáveis, o Instituto SETI usa seu telescópio especial ATA para escanear outros 2.321 exoplanetas por vida possível.

A organização está agora se preparando para o SETIcon 2, uma conferência a ser realizada em Santa Clara, Califórnia, entre 22 e 24 de junho. Tarter disse que exoplanetas serão um grande tema, mas não envolverão somente gráficos e teorias. Eles também estão convidando autores de ficção científica e ex-astronautas para falar sobre a interação da ciência e imaginação.

E a interação da ciência e imaginação é algo que não recebe seu devido respeito. Tarter observou que com o voo espacial, por exemplo, isso passou da imaginação para a ficção científica até um projeto do governo, e agora para o mercado comercial. Voos espaciais e a busca por mundos habitáveis são os próximos na lista.

Tarter estava entre os que organizaram o programa “100 Year Starship”, que está sendo impulsionado por diferentes expectativas entre seus interessados. O DARPA quer fazer avançar as tecnologias atuais como fez a viagem para a lua, enquanto a NASA pretende utilizá-lo para reavivar o interesse em CTEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática) entre os estudantes.

Há grande sobreposição entre os sistemas necessários para uma viagem interestelar e sistemas que podem ter valor aqui na terra. Entre eles estão os sistemas de suporte à vida, ecossistemas fechados e sustentação da vida humana no espaço restrito de uma nave espacial com mínimo consumo de energia. “A esperança é, e eu acho que é um pouco de ficção científica e um pouco de fato científico, que estes desafios tecnológicos individuais retroalimentarão e se tornarão rentáveis aqui na Terra, e financiarão a próxima fase de pesquisa sobre naves espaciais”, disse Tarter.

Mas Tarter tem esperanças ainda maiores. Um programa para viagem interestelar e colonização de mundos habitáveis tem ligação estreita com encontrar vida em outros planetas.

Ela disse que se vida for encontrada fora da Terra, “então sabemos que ela é onipresente em todo o universo”. “Em física, você conta de um até o infinito, por isso, se você tiver apenas um exemplo de algo e isso é tudo que você tem, a vida como conhecida neste planeta, você não sabe se ela é única”, disse Tarter. “Mas assim que você encontra um segundo exemplo, você pode começar a fazer uma estimativa de quantas há, e haverá muitas.” “Se alguma dessa vida é inteligente e usa tecnologia, então podemos calcular nosso lugar no cosmos e ver como nos encaixamos”, disse ela.

Uma grande parte da pesquisa do SETI é em torno da verificação de sinais que podem apontar para vida em algum lugar além da Terra no universo. A pesquisa da organização tem sido referida como “a arqueologia do futuro”. “Qualquer sinal que recebamos, viajando na velocidade da luz, levaria um tempo para chegar aqui. Se houver alguma informação codificada, ela nos diria sobre seu passado”, disse Tarter.

Mas, mesmo um sinal vago ou indecifrável seria útil, disse ela, pois poderia significar, “é possível para nós mesmos, como uma civilização tecnológica, sobreviver por muito tempo”. Isso sugeriria, ela acrescentou, que “é possível para nós termos um futuro”.

E para a sociedade de hoje, que está apenas começando a explorar a tecnologia de voo espacial e sistemas computacionais, isso seria um raio de esperança. “Isso não resolverá nosso problema, mas nos mostrará […] existe um caminho para envelhecer, se tornar uma civilização tecnológica de longa duração”, disse ela. “Seria extremamente motivador e positivo ver que é possível ir além de nossa adolescência tecnológica, em que encontramos tantas razões para termos sentimentos negativos sobre o futuro.”

A busca por vida em outros lugares também poderia explicar muito sobre a vida mesma. Pesquisadores muitas vezes se surpreendem ao descobrir o que são conhecidos como extremófilos, microrganismos capazes de viver em ambientes considerados inóspitos para a vida. Entre eles estão os micróbios que vivem em águas nucleares, ácido de bateria em ebulição e gelo ártico.

“Os micróbios estão realmente recebendo o respeito que merecem, e temos começado a perceber que as condições favoráveis à vida são muito mais amplas do que jamais imaginamos”, disse Tarter. “Na verdade, há provavelmente muito mais condições habitáveis reais lá fora do que estabelecemos antes.” No entanto, ela acrescentou, “Esses são micróbios, e a equipe com que trabalho tem interesse em encontrar um matemático.”

Assim, o SETI tem escaneado por sinais de rádio específicos e sinais ópticos. Ele também tem buscado mais planetas por bioassinaturas, que inclui encontrar um planeta candidato, fotografá-lo e, em seguida, realizar um ensaio químico de sua atmosfera.