Zhou Yexian não queria falar sobre como ela conseguiu seu diploma falso da Universidade de Sunderland, nem quanto pagou por ele. “Desculpe, você pegou a pessoa errada”, disse ela, após confirmar sua identidade num telefonema a um repórter que obteve seu curriculum vitae, diploma universitário falso, histórico acadêmico falso e certificado de um notário dizendo que os documentos eram verdadeiros.
O número de pessoas como Zhou (um pseudônimo), que usam qualificações educacionais forjadas para impulsionar suas carreiras, é impossível saber. Sites em chinês, no entanto, oferecem um leque de opções para aqueles com dinheiro para gastar: Sem sair do computador, pode-se encomendar um diploma falso e um histórico acadêmico da Universidade de Nova York, da Universidade Purdue ou de instituições de educação superior na Austrália, Canadá, China e Japão.
No caso de Zhou Yexian, cujo nome foi alterado pelo Epoch Times para proteger sua privacidade, os falsificadores provavelmente tomaram uma abordagem mais personalizada. O Epoch Times soube e obteve as credenciais problemáticas de Zhou de uma colega sua em Cingapura, que obteve os documentos por meio de um intermediário, quando estudaram juntas lá.
‘Rede de produção’
A colega de Zhou, depois de descobrir a falsificação e que Zhou conseguiu “um excelente emprego” em Pequim, ficou irritada com o que julgou ser uma situação injusta. A colega e outros começaram a perguntar discretamente sobre como funciona o processo e, depois de lerem um artigo do Epoch sobre universidades falsas na China, entraram em contato com o jornal.
Stacy B., uma das envolvidas, escreveu num e-mail ao Epoch Times: “Com base em nossas conversas com pessoas que utilizam diplomas falsos, descobrimos uma rede de produção estruturada para produzir diplomas falsos e também para proteger as pessoas que os utilizam, evitando qualquer investigação.”
Falsificadores abordam clientes – em sua maioria estudantes internacionais – em Cingapura, recebem o dinheiro, imprimem um diploma falso em outro país e em seguida enviam os documentos para Cingapura, disse Stacy B. (também um pseudônimo). Esses papéis imitam de perto os diplomas concedidos pelas universidades reais e vem junto com histórico acadêmico detalhado.
No caso de Zhou, seu histórico falso mostra três anos de estudo na Universidade de Sunderland, no Reino Unido, pelo qual ela ganhou honras num Bacharelado em Comércio, com especialização em gestão de negócios. Sua maior nota falsa foi de 83% num curso sobre comportamento organizacional.
Com o diploma e o histórico na mão, os falsificadores entram então num dos numerosos escritórios de advocacia em Cingapura e obtêm certificados de notários genuínos que autenticam os diplomas como verdadeiros.
Tornando-se real
Sally Choo, uma assistente no escritório de advocacia Lim Hin Chye & Co. em Cingapura, dirigido pelo Sr. Lim, um notário público, confirmou que o certificado notarial sobre o diploma falso de Zhou era real.
Junto com o certificado notarial havia outro certificado do diretor-financeiro da Academia de Direito de Cingapura, mostrando que o notário Lim Hin Chye é real. Este certificado também foi confirmado como autêntico pelo chefe-financeiro Low Hui Min num e-mail.
A falsificação começou quando o falsificador entrou no cartório do Sr. Lim. Sally Choo, a recepcionista e um assistente lá não se lembram de ter autenticado esse diploma particular; ela disse por telefone que eles não têm como confirmar a veracidade dos documentos que reconhecem firma.
“Pode ser qualquer pessoa” a entrar no cartório, disse ela. “Os diplomas parecem reais. Você não pode sequer dizer se eles são verdadeiros ou falsos.” Quando um repórter explicou que existem sites que vendem diplomas deste tipo, ela disse: “Você pode comprar um diploma na internet? Oh meu Deus.” Choo disse que nos casos em que eles suspeitaram que um diploma fosse falso, as escolas levaram meses ou mais de um ano para responder.
Então, qual é o objetivo de haver notários? “O notário é para verificar os originais e as fotocópias. Se você der o original, nós vamos certificá-lo”, disse ela. Os notários também recebem por isso 75 dólares de Cingapura (US$ 60). “Se não fizermos isso, eles irão a outro cartório”, disse Choo.
O certificado
Três funcionários da Universidade de Sunderland disseram que não há registro sobre Zhou na universidade.
Num e-mail seguinte, duas semanas depois de ter sido contatado pelo Epoch Times, Steve Heywood, o chefe de comunicações da Sunderland, escreveu para dizer que a instituição considera extremamente séria a questão dos certificados falsos. A universidade faz tudo em seu poder para combater diplomas falsos, disse ele.
“Embora lidemos com apenas alguns casos por ano, fomos notificados recentemente sobre um certificado potencialmente falso em circulação”, escreveu ele no e-mail. “Tomamos todas as medidas necessárias para ajudar em sua remoção, notificando vários órgãos competentes do país, bem como informamos o governo.”
Questionados sobre se isto era uma referência ao caso de Zhou, Heywood disse: “Não quero ser arrastado a falar sobre detalhes específicos, mas acho que você poderia colocar dois e dois juntos.”
A Universidade Purdue disse num e-mail que eles relatam todos os diplomas obtidos à Câmara Nacional dos Estudantes e que potenciais empregadores podem consultar por uma taxa.
Stacy B. disse que, quando ela e seus amigos contataram o atual empregador de Zhou, anexando um e-mail da Universidade de Sunderland e demonstrando que suas credenciais não eram reais, o empregador não tomou qualquer atitude.
Uma pesquisa na internet chinesa mostra que há pelo menos dezenas de sites que vendem diplomas falsos – bacharelados em áreas humanas e ciências, mestrados e até doutorados em assuntos de ciência animal até oncologia interdisciplinar.
Na seção de perguntas frequentes de um dos sites que vende diplomas falsos o caso é apresentado desta forma: “É útil ter um diploma falso?” A resposta era: “Claro que é… Na sociedade atual, todas as grandes empresas e unidades de trabalho dão grande atenção a ter um diploma. Se você não tiver um diploma real ou um diploma falso, então oportunidades podem ser perdidas!”