Dilma vai repensar ministério após listão do Petrolão

20/12/2014 17:16 Atualizado: 20/12/2014 17:16

A presidente Dilma Rousseff tomou a decisão de reconsiderar quais serão os nomes que irão fazer parte do ministério do segundo mandato, após conhecer a lista feita pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa dos favorecidos do esquema de corrupção na estatal, lista essa feita em 80 depoimentos que consumiram duas semanas entre agosto e setembro, conforme divulgou o jornal O Estado de S. Paulo.

Quem lidera a lista de políticos surpreendidos no Petrolão é a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), ex-chefe da Casa Civil e concorrente derrotada ao governo do Paraná. Houve a ratificação, por parte do doleiro Alberto Youssef, das palavras do ex-diretor da estatal, que confirmou o envolvimento da senadora no esquema.

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A primeira vítima, porém, do escrutínio de Dilma deverá ser o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), antes cotado para o primeiro escalão do governo. Mesmo que o início da investigação e acusação contra políticos envolvidos na Operação Lava Jato só deverá ser feita em fevereiro de 2015 pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a presidente não quer convocar para a equipe nomes suspeitos. A partir de 2015, Alves tinha assento garantido no Ministério do Turismo ou na Secretaria dos Portos, pois perdeu a eleição para o governo do Rio Grande do Norte.

Dilma considera que não pode ignorar as declarações das delações premiadas à Polícia Federal, porque seria o mesmo que levar o escândalo da Petrobras para dentro do Palácio do Planalto. Publicamente ela tem declarado que é preciso esperar pelas provas, mas na prática deu indicações de que não se exporá aos mesmos riscos de seu primeiro ano de governo, em 2011, quando sete de seus ministros foram derrubados por denúncias de corrupção.

Na lista dos políticos acusados por Costa de terem se favorecido do esquema de corrupção que vigorava na Petrobras, estão ministro e ex-ministros do governo Dilma Rousseff (PT), deputados, senadores, governador e ex-governadores, sendo 8 do PT, 8 do PMDB, 10 do PP, 1 do PSB e 1 do PSDB.

Também foram citados no depoimento de Costa o ex-ministro da Casa Civil Antonio Palocci (PT), condutor da campanha de Dilma na eleição de 2010, e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), os quais desmentiram “veementemente” a denúncia. O atual ministro do Turismo, Vinícius Lages, é um dos patrocinados de Renan no governo. Porém, a implicação do aliado na lista de Costa não afetará a escalação do ministério, segundo auxiliares de Dilma.

Parlamentares da base de apoio ao governo do PT no Congresso Nacional fazem parte da lista do Estadão como prováveis beneficiários do carrossel de corrupção e caixa 2 que giravam na petrolífera entre 2004 e 2012. O site UCHO.INFO declarou que tem uma relação ainda maior com os nomes dos envolvidos no assalto aos cofres da Petrobras, pois muitos parlamentares de segundo escalão, o chamado baixo clero, receberam o dinheiro das mãos de caciques partidários.

Nomes que até então ainda não haviam sido mencionados estão entre os acusados da lista do UCHO, como o governador do Acre, Tião Viana (PT), reeleito em 2014, além dos deputados Vander Luiz dos Santos Loubet (PT-MS), Alexandre José dos Santos (PMDB-RJ), Luiz Fernando Faria (PP-MG) e José Otávio Germano (PP-RS). Da parte dos parlamentares, ao todo foram mencionados sete senadores e onze deputados federais.

De todos os beneficiários do Petrolão, Gleisi Hoffmann é privilegiada. Ela é a única cujos detalhes do envolvimento no esquema são conhecidos. Os delatores revelaram que o marido de Gleisi, Paulo Bernardo da Silva, ministro das Comunicações, solicitou R$ 1 milhão ao diretor da Petrobras, que por sua vez pediu a Alberto Youssef para que o pagamento fosse providenciado. O doleiro dividou o pagamento do valor em quatro parcelas, em dinheiro, que foi entregue em um shopping no centro de Curitiba.

Foi visível o pânico de Gleisi depois que os depoimentos de Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef vazaram para a mídia. Depois do vazamento, ela visitou vários gabinetes de senadores, pedindo que não fosse chamada para depor na CPMI da Petrobras. Desse vexame ela escapou, porque a comissão finalizou os trabalhos com a aprovação do relatório final, de autoria do petista Marco Maia (RS). Mas ela ainda corre o risco de perder o mandato parlamentar por quebra de decoro. Por muito menos do que isso, o ex-petista André Vargas perdeu o mandato de deputado federal por ter viajado com a família em um jato fretado por Youssef.

Ultimamente tem sido difícil o relacionamento do governo com sua base aliada no Congresso e, como se não fosse o bastante, o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), é favorito para comandar a Casa. Ele concorrerá à sucessão de Henrique Eduardo Alves à presidência da Câmara contra os deputados Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Júlio Delgado (PSB-MG).

Os oponentes de Dilma estão à espera de que muitos de seus aliados sejam atingidos com a Operação Lava Jato até fevereiro. Ao ser questionada pela colega da Argentina, Cristina Kirchner, se anunciaria logo os novos ministros, a presidente não escondeu os problemas para montar a equipe. Você não sabe como é difícil no Brasil”, desabafou ela.

Na segunda-feira (22), o vice-presidente Michel Temer, líder do PMDB, deverá conversar com Dilma e com a bancada da Câmara sobre a composição do Ministério. O PMDB tem atualmente cinco cadeiras no primeiro escalão, e quer ampliar para seis. Também cobiçado pelo Pros – que já dirige a pasta – e pelo PP, o Ministério da Integração Nacional é o grande desejo do PMDB, que atualmente controla Minas e Energia, Previdência Social, Agricultura, Turismo e Aviação Civil.