Dilma persuadiu Mujica a votar pela expulsão do Paraguai do Mercosul, aponta livro

12/05/2015 20:31 Atualizado: 12/05/2015 20:31

Um livro escrito pelos jornalistas uruguaios Andrés Danza e Ernesto Tulbovitz mostra que a presidente Dilma Rousseff interferiu pessoalmente, recorrendo a espiões cubanos, para punir o Paraguai ao persuadir José Mujica a eliminar o Paraguai do Mercosul. A eliminação aconteceu depois de o congresso do país ter deliberado pelo impeachment do presidente Fernando Lugo, aliado do PT, em 22 de junho de 2012, conforme reportagem publicada pelo site da Veja.

Naquele ano, um emissário de Mujica, que não aceitava a sanção ao Paraguai, foi chamado pela petista para uma reunião secreta em Brasília. Dilma inclusive mandou um avião do governo brasileiro buscá-lo em Montevidéu. Mujica autografou um trabalho que inclui a confissão de Lula ao ex-presidente uruguaio sobre o mensalão. O livro é sobre o ex-presidente do Uruguai José Mujica, e se chama ‘Uma Ovelha Negra no Poder’.

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Quando faltavam nove meses para a realização das eleições presidenciais no Paraguai, o então presidente Lugo sofreu um impeachment por má atuação em suas atribuições. Quem assumiu suas funções foi o vice-presidente, Federico Franco. O jogo democrático inclui a existência de dispositivos para destituir presidentes inaptos, criminosos ou corruptos. No Paraguai, tudo foi feito com base na Constituição, apesar das votações no Congresso e no Senado terem sido muito rápidas.

Intercederam pela absolvição de Lugo apenas um deputado e quatro senadores. Votaram por “la condena” (pela condenação) um total de 112 parlamentares. O presidente teve um prazo curto para apresentar sua defesa, mas isso não infringe as normas para um impeachment. Mesmo tendo acontecido em concordância com as leis paraguais, Brasil e Argentina insistiram que o procedimento indicava um “rompimento da democracia”.

Os governos do Brasil e da Argentina, então, se pronunciaram a favor da expulsão do Paraguai do grupo Mercosul, como forma de punir o governo transitório. Mujica, do Uruguai, era contrário à medida.

Uma passagem estarrecedora do livro de Danza e Tulbovitz, citada abaixo, mostra como o governo brasileiro persuadiu Mujica a mudar de ideia e como a presidente Dilma Rousseff foi essencial para isso. O trecho foi publicado no semanário Búsqueda, do qual Andrés Danza, um dos autores, é diretor de redação. Na prática, ele comprova, pela enésima vez, o quão mentirosa é a justificativa de Dilma de que não interfere na política de outros países:

“Quando Lugo foi destituído pelo Senado paraguaio e antes que se celebrasse a cúpula do Mercosul para resolver as sanções, uma das pessoas de maior confiança de Mujica recebeu uma chamada de Marco Aurélio Garcia, mão direita de Dilma.

‘Dilma quer transmitir uma mensagem muito importante para o presidente Mujica’, disse o funcionário brasileiro em uma mistura de português e espanhol. ‘Não tem problema, vamos estabelecer uma comunicação entre os dois presidentes’, foi a resposta do uruguaio. ‘Não, não pode haver comunicação nem por telefone, nem por email. É pessoalmente’, argumentou o brasileiro.

Um encontro tão fugaz e repentino entre presidentes levantaria suspeitas, motivo pelo qual o governo brasileiro resolveu enviar um avião a Montevidéu para transportar o emissário de Mujica à residência de Dilma, em Brasília. Assim foi feito, e quando o uruguaio chegou, Dilma estava esperando-o em seu escritório.

A conversa formal sobre questões gerais durou apenas poucos minutos porque não havia muito tempo. “Vamos ao que interessa”, interrompeu Dilma e o emissário tomou uma caderneta e começou a anotar o que a presidente brasileira informava.

‘Sem anotações’, disse ela e fez com que ele rasgasse o papel. ‘Esta reunião nunca aconteceu’. Durante a conversa, Dilma mostrou a ele fotos, gravações e informes dos serviços de inteligência brasileiros, venezuelanos e cubanos, que registravam como foi gestado um ‘golpe de estado’ contra Lugo por um grupo de ‘mafiosos’ que, a partir da queda do presidente, assumiram o poder.

‘O Brasil necessita que o Paraguai fique de fora do Mercosul para, dessa forma, acelerar as eleições no país’, concluiu Dilma. Na semana seguinte, no início do julho de 2012, todos os presidentes do Mercosul votavam, em uma cúpula na cidade argentina de Mendoza, a suspensão do Paraguai.”

Não são permitidas dubiedades na Constituição Federal. Os fundamentos da política internacional brasileira são mencionados em seu artigo 4º, entre eles a autodeterminação dos povos e a não-intervenção. Esses princípios, no entanto, só são lembrados pelo governo brasileiro quando se tenta explicar sua inércia diante do desrespeito aos direitos humanos em países estimados pelo PT, como Cuba e Venezuela.

Se a revelação feita pelo livro estiver certa, Dilma fez uso de informações colhidas pelos espiões desses países para interferir num assunto interno do Paraguai.