Está posto o dilema para Dilma Rousseff, que é saber o que fazer com a questão da economia. O ministro Guido Mantega está demissionário e se arrasta no cargo feito um morto-vivo. Quem conhece os meandros do poder sabe que um ministro da Fazenda fraco é meio caminho andado para o desastre, sobretudo numa hora em que decisões difíceis precisam ser tomadas. É ele quem tem de dizer “não” aos demais ministros, em nome da presidente.
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Por que Guido Mantega ainda não foi substituído? Quem segura o ministro é o próprio Lula, é a sua cota pessoal. Só sairá quando o ex-presidente assim decidir. Será na escolha do nome que ficarão claros os caminhos que Dilma Rousseff escolheu. Um nome igual ou à esquerda do atual ministro significará a ampliação da política supostamente desenvolvimentista, a mesma que desarrumou as contas públicas e desalinhou os preços relativos. Um nome mais conservador significará a sinalização de que a inflação, de fato, será combatida.
O problema é que a crença reinante no PT, mesmo depois de doze anos exercendo o poder, é que a chamada teoria econômica convencional está errada. Mudar essa crença não é tarefa de um dia. Um ministro da Fazenda que entre cortando gastos e aumentando juros é tudo que o PT abomina. Se depender de suas lideranças isso não acontecerá.
Mas o fato é que a inflação está subindo, o câmbio depreciando, os preços estão desalinhados e o ministro está demissionário. A escolha terá que ser feita. Ao escolher o novo ministro os rumos do futuro serão imediatamente clareados. Se, por exemplo, vier o Henrique Meirelles, teremos uma gestão sob a economia convencional. Se vier um Arno Augustin, teremos a persistência do desenvolvimentismo.
É bom que se diga que a chamada economia convencional é a única que fornece ferramental compatível com o combate aos problemas da crise econômica. Ela “sabe” que a lei da escassez existe e que o Estado não cria riquezas, quando muito a distribui, não sem antes dilapidar boa parte do que se arrecada com impostos. As leis econômicas são naturais e não sujeitas ao controle de nenhum governo. Ou se as respeita, ou não. O que Dilma Rousseff fez nos últimos anos foi simplesmente ignorar as leis econômicas.
O desenvolvimentismo pretende ser a teoria alternativa para inspirar governantes. Sua raiz esquerdista é evidente e ela parte da crença de que tudo é vontade política (incluindo a escassez) e que a emissão de moeda para “desenvolver” a economia não é um problema em si. Toda vez que os governantes brasileiros entraram nessa barca furada levaram o país à crise econômica. É precisamente essa a origem dos problemas econômicos atuais, que Dilma Rousseff, enquanto presidente da República, quis pôr o pé no acelerador do desenvolvimento. Envidou todos os esforços para isso.
O que conseguiu? Apenas fazer retornar a inflação, que se aproxima dos dois dígitos, e reduzir o crescimento do produto. De quebra, ressuscitou o fantasma dos déficits na balança comercial, com os quais o país quebrará de novo. Pior, administra o câmbio, queimando as preciosas reservas internacionais, impedindo o ajuste natural via sistema de preços. Essa política está entrando em colapso.
O meu ponto é que não apenas o nome para o Ministério da Fazenda está em jogo, mas toda uma crença política que é defendida ferreamente pelos integrantes do PT, mesmo que alguns deles saibam que a crença é errada e puramente ideológica. O desenvolvimentismo empobrece e desorganiza a economia, aprofundando as injustiças sociais. A ortodoxia econômica é que pode refazer as bases para a retomada do desenvolvimento e da melhoria da distribuição de renda. Simples assim.
Nivaldo Cordeiro é economista e mestre em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV/SP), ocupou vários cargos na administração federal. Foi professor universitário e empresário em São Paulo