O diabetes, que está atingindo proporções epidêmicas na China, não apenas tem um efeito sério na saúde do povo chinês, mas também na economia do país. Estima-se que 92,4 milhões de adultos, com 20 anos ou mais, têm diabetes e que 148,2 milhões de adultos têm pré-diabetes, uma condição que é um fator de risco para o desenvolvimento de diabetes e/ou doença cardiovascular.
Estes números indicam que a China superou à Índia e se tornou o país com a maior população de diabéticos no mundo. O grande número de pessoas afetadas por diabetes exige a implementação de políticas para lidar efetivamente com esta situação.
Há dois tipos de diabetes: tipo 1 e tipo 2. No tipo 1, que se inicia na infância, o corpo não produz insulina suficiente, às vezes nenhuma, porque o sistema imunológico destruiu as células produtoras de insulina.
A maioria dos casos de diabetes é do tipo 2. Esta é uma forma da doença que resulta da resistência à insulina, em que as células não conseguem utilizar adequadamente a insulina. Por vezes, a diabetes tipo 2 é combinada com uma falta de insulina.
A causa do diabetes tipo 1 é ainda desconhecida, embora fatores genéticos, virais e ambientais possam ser importantes no desenvolvimento da doença.
Já a diabetes tipo 2 tem também um componente genético, mas está intimamente relacionada com um estilo de vida não saudável e, especialmente, com a obesidade. No entanto, é importante indicar que, embora a obesidade seja um fator de risco significativo para este tipo de diabetes, nem todas as pessoas obesas tem diabetes tipo 2 e nem todos os indivíduos com diabetes tipo 2 são obesos.
O diabetes tipo 2 já responde por 90-95% de todos os casos de diabetes entre adultos. De particular importância é a constatação de que a maioria dos casos de diabetes não é diagnosticada e tratada. Ao contrário do diabetes tipo 1, a maioria dos casos de diabetes tipo 2 pode ser prevenida levando-se uma vida saudável e evitando a obesidade.
Consequências econômicas
A epidemia de diabetes não é apenas um problema de saúde pública, mas também tem repercussões econômicas graves. Um estudo de 2007 estimou que os custos médicos do diabetes e suas complicações correspondiam a 18,2% do total das despesas de saúde na China. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que o diabetes, doenças cardíacas e acidente vascular cerebral custarão à China aproximadamente US$ 558 bilhões entre 2006 e 2015.
Especialistas acreditam que o rápido desenvolvimento econômico da China associado ao aumento da urbanização, sedentarismo, dieta não saudável e obesidade são fatores importantes para o desenvolvimento do diabetes. Até pouco mais de uma década atrás, o diabetes era relativamente raro na China. No entanto, na última década, o problema tornou-se muito mais frequente e tem andado de mãos dadas com as drásticas mudanças no estilo de vida.
Toxinas ambientais também podem contribuir para o aumento recente na taxa de diabetes tipo 2. Esta é a opinião de alguns especialistas, que encontraram uma correlação entre a concentração de bisfenol A, um componente de alguns plásticos, na urina e a incidência de diabetes tipo 2.
Foi verificado que a obesidade contribui com aproximadamente 55% do diabetes tipo 2. Um estudo sobre a importância dos fatores de estilo de vida mostrou que aqueles que tinham altos níveis de atividade física, uma dieta saudável, não fumavam e consumiam álcool com moderação tiveram incidência de diabetes 82% menor. Quando um peso normal era incluído na avaliação, a taxa de incidência de diabetes foi 89% menor.
O aumento da taxa de obesidade infantil entre 1960 e 2000 teria provocado o aumento do diabetes tipo 2 em crianças e adolescentes. Havia mais de 60 milhões de pessoas obesas na China e outras 200 milhões que estavam acima do peso, segundo uma pesquisa nacional de 2004.
A diabetes tipo 2 afeta cerca de 8% dos adultos nos Estados Unidos. Essa proporção aumenta para 18,3% entre norte-americanos de 60 anos ou mais, segundo estatísticas da Associação Americana de Diabetes. Em comparação, a prevalência mundial de diabetes em grupos de todas as idades foi estimada em 2,8% em 2000 e subirá para 4,4% em 2030. Atualmente, a taxa de crescimento do diabetes na China é muito mais rápida do que na Europa e nos Estados Unidos.
O diabetes e suas consequências se tornaram um problema de saúde pública, não só na China, mas também em muitos países industrializados. Para evitar maiores danos à saúde das pessoas, é urgente desenvolver e instituir estratégias nacionais para a prevenção, identificação e tratamento do diabetes na população em geral. A educação e a prevenção, no entanto, continuam a ser as melhores e menos onerosas estratégias para lidar com esta doença.
Dr. César Chelala é um consultor internacional em saúde pública