Dezenas de milhares marcham pela democracia em Hong Kong

06/07/2014 13:38 Atualizado: 06/07/2014 13:38

Um mar de manifestantes tomou as ruas de Hong Kong numa marcha em 1º de julho, exigindo seus direitos civis, a capacidade de eleger seus próprios representantes e, acima de tudo, maior liberdade e a não intromissão do Partido Comunista Chinês (PCC), que se aproxima cada vez mais ameaçadoramente do outro lado da fronteira.

Notavelmente, a marcha de 1º de julho deste ano ocorreu apenas alguns dias após a conclusão de um referendo não-oficial em que cerca de 800 mil cidadãos de Hong Kong manifestaram seu desejo pelo sufrágio universal – uma pessoa, um voto; e a capacidade de eleger candidatos, bem como o chefe-executivo – ao invés do atual processo gerenciado por Pequim, onde o PCC escolhe os candidatos de seu interesse.

A marcha deste ano equiparou-se em número a participação de 2003-2004, quando mais de 500 mil em anos consecutivos protestaram contra a tentativa de Pequim de implementar uma lei antissubversão chamada Artigo 23, que teria severamente reprimido os direitos civis na parcialmente autônoma cidade-estado.

Hong Kong, anteriormente uma colônia britânica, foi organizada como uma Região Administrativa Especial da República Popular da China desde 1997, quando foi prometida um alto grau de autonomia e sem alterações em seu sistema político por pelo menos 50 anos.

Desde 2003, no entanto, a infiltração, agitação e intimidação de comunistas chineses têm procurado reverter algumas das liberdades que os residentes de Hong Kong têm usufruído, e a pressão de Pequim tem se intensificado com o passar dos anos.

O Escritório de Propaganda Exterior do PCC, também conhecido como Gabinete de Informação do Conselho de Estado, publicou recentemente um livro branco em que deixou claro que a autonomia de Hong Kong é uma concessão da liderança do Partido Comunista, e que a cidade não é soberana.

Os residentes de Hong Kong interpretaram o livro branco como uma ameaça, e a luta em defesa de seus direitos ganhou força com o recente referendo e a marcha.

Seis campos de futebol

Grupos que se aglomeravam desde a manhã deixaram o Parque Vitória, no centro de Hong Kong, às 15h30 para um giro pelo distrito central de negócios. Seis campos de futebol de pessoas esperaram pelo início da marcha, apesar da chuva que apareceu intermitentemente e às vezes com força. Quatro horas após o primeiro contingente dar a largada, o último grupo de manifestantes deixou o Parque Vitória.

A Frente Civil de Direitos Humanos de Hong Kong, o grupo organizador da marcha, disse que seu cálculo conservador era que 510 mil pessoas se juntaram à marcha deste ano, o que seria a maior aglomeração desde 2003-2004.

Jornalistas que cobriram tanto as marchas de 2003, 2004 e deste ano disseram que muito mais pessoas estiveram presentes desta vez. O website de notícias Boxun estimou o número de participantes em 1 milhão. A população de Hong Kong é de aproximadamente 7 milhões.

Os manifestantes gritaram slogans e agitaram faixar que diziam: “Nós escolhemos o nosso governo”, “Leung Chun-ying deve renunciar”, “Sufrágio Universal Já! Indicação Não!” e “Diga não ao fascismo da República Popular da China”.

Presença de chineses do continente

Um número de chineses do continente também marchou na parada deste ano. Wang Yanfang, esposa do advogado chinês Tang Jingling, que foi preso no mês passado por “subversão do poder do Estado”, viajou especialmente para Hong Kong para participar na manifestação, segundo a Radio Free Asia (RFA). Acompanhando Wang, mais de 10 parentes e amigos ativistas se juntaram à parada.

Um repórter do Epoch Times encontrou vários peticionários de Pequim, que foram protestar contra as autoridades comunistas, além de mais de uma dúzia de residentes de Macau, outra Região Administrativa Especial, que é semiautônoma de Pequim.

Su Jiahao, um membro do grupo civil “Consciência Macau”, disse ao Epoch Times que foi lá para “aprender com o espírito democrático” de Hong Kong. “Acho tudo isso muito significativo, a postura pela democracia e a liberdade, dizer ao Partido Comunista que não temos medo”, disse Su.

A mídia estatal chinesa, rigidamente controlada pelas autoridades de propaganda e censura, especialmente sobre temas politicamente sensíveis, como o protesto democrático em Hong Kong, se manteve em grande parte em silêncio sobre a grande manifestação, exceto por um punhado de relatos superficiais.

Resultados de pesquisa no Baidu, o principal engenho de busca na internet chinesa, mostravam inúmeros artigos negativos sobre o protesto, chamando-o de “farsa”, enquanto davam destaque àqueles em Hong Kong que se opunham a tomar medidas contra Pequim aumentar seu controle na região. O único artigo disponível sobre a marcha, traduzido da Reuters, foi excluído.

Apesar do apagão oficial, muitos internautas chineses compartilharam seu entusiasmo sobre o protesto nas mídias sociais. “Parabéns Hong Kong” foi um refrão comum. No Weibo.com, um serviço de mídia social na China similar ao Twitter, as mensagens foram apagadas, mas podiam ser vistas no Free Weibo, um website no estrangeiro que reúne as mensagens censuradas.

Estado policial

Alguns chineses do continente tentaram estender seu apoio a Hong Kong, promovendo o movimento “Ocupar Shenzhen”. Shenzhen, na China continental, localiza-se na fronteira direta com Hong Kong.

Um anúncio online dizia: “Esperamos que os chineses do continente que se dedicam a promover a transição democrática na China, ativistas de direitos e partidários do sufrágio universal em Hong Kong participem da ocupação da praça cívica e dos espaços perto da sede do governo em Shenzhen… para expressar apoio pelas pessoas de Hong Kong.”

Mas as tentativas de organizar protestos de rua reais na China são reprimidas rapidamente com frequência pela polícia, muitas vezes violentamente. A RFA informou que, quando cerca de uma dúzia de manifestantes chegou à praça central de Shenzhen às 10 horas de 1º de julho, eles foram atacados por um batalhão de policiais à paisana antes que pudessem levantar qualquer de suas faixas.