Dez maneiras de entender o Movimento Ocupar Central em Hong Kong

10/11/2014 15:11 Atualizado: 10/11/2014 15:11

1. Adolescentes, jovens e pessoas de meia idade

Os três principais grupos que defendem o movimento Ocupar Central de Hong Kong são: o Escolarismo, a Federação dos Estudantes de Hong Kong e a troika do Ocupar Central, que são compostos respectivamente por estudantes do ensino médio, estudantes universitários e intelectuais de meia-idade.

Essa combinação perfeita – adolescentes, jovens e pessoas de meia-idade – representa a maioria e o futuro de Hong Kong, e envia uma mensagem explícita: o comunismo é impopular em Hong Kong e o Partido Comunista não terá futuro em Hong Kong.

Dito isso, há duas possibilidades expressas por meio de duas perguntas: Quem viverá mais tempo, os jovens de Hong Kong ou os patriarcas políticos de Pequim? O que perseverará, os valores universais defendidos pelo povo de Hong Kong ou a ditadura de partido único imposta pelos líderes do Partido Comunista Chinês (PCC) que vivem em Zhongnanhai (a sede do PCC)?

2. Ilegalidade contra ilegalidade

Pequim acusou o movimento Ocupar Central de ser ilegal. No entanto, a desobediência civil é uma forma de enfrentamento ilegal destinada a restaurar a legalidade ainda que por meio da ilegalidade.

Uma coisa é certa, o governo do regime de Pequim foi o primeiro a agir ilegalmente – eles violaram a “Lei Básica” (a Constituição de Hong Kong), romperam o modelo de “um país, dois sistemas” e não cumpriram as promessas estabelecidas na Declaração Conjunta Sino-Britânica.

Sendo assim, os cidadãos de Hong Kong simplesmente seguiram o modelo. É um tipo de ilegalidade contra a ilegalidade,  é como o velho ditado chinês “para subjugar o inimigo, conheça seus pontos fortes”.

3. As consequências da violência

Ao longo do movimento Ocupar Central com Amor e Paz, os ocupantes sempre defenderam o pacifismo e o amor a Hong Kong. Eles não jogam garrafa ou papel no chão e inclusive recolhem o lixo que encontram no chão e fazem coleta seletiva. Para mostrar que estão desarmados, eles erguem as mãos vazias durante as manifestações.

Manifestantes que agem assim é sem dúvida algo incomum. No entanto, seguindo ordens do regime de Pequim, o governo de Hong Kong, na primeira oportunidade que teve, usou grande quantidade de gás lacrimogêneo e spray de pimenta para tentar dispersar à força os manifestantes.

Essa ação do governo, por sua vez, desencadeou outro protesto em grande escala do qual participaram mais de 200 mil cidadãos de Hong Kong. O movimento Ocupar Central, inicialmente local, estendeu-se por toda a Hong Kong. Em Hong Kong, um lugar que por muitas décadas é bem civilizado, o caos é de fato uma consequência da violência do governo.

4. Vermelho versus Preto

Como noticiado, as autoridades de Pequim só propuseram negociar tendo como pano de fundo “nenhuma exigência e sem derramamento de sangue”, depois de várias tentativas agressivas de acabar com o crescente movimento Ocupar Central, mas na prática o que as autoridades fizeram foi mobilizar o submundo para, por meio de bandidos e marginais, intimidar, assediar e atacar violentamente os manifestantes.

O aparecimento de homens mascarados que derrubaram barricadas à força não é diferente dos terroristas no Oriente Médio e é de natureza igualmente má. Foi sob intimidação incessante e agressões verbais dessas forças do mal que Chow Ting, um dos membro do grupo Escolarismo, abandonou o movimento.

O vermelho (do comunismo) e o preto (da Tríade, uma mega organização criminosa) há muito tempo se referem e pertencem à mesma família. Não deveria ser surpresa que o ex-membro do Politburo, Bo Xilai, tenha caído pouco depois de lançar a campanha “cantando o vermelho e lutando contra o preto”, que foi uma tentativa, na megacidade de Chongqing, de reviver o fervor maoísta, enquanto fingia combater o crime organizado. Se algo é autocontraditório, só pode estar condenado ao colapso, não é mesmo?

5. Preto e Branco

Os que são contra o movimento Ocupar Central não só encurralaram os manifestantes como também participaram da derrubada à força das barricadas. Não descarto a possibilidade de que, entre os que estão contra o movimento, haja residentes pró-comunistas e gângsteres.

Na verdade, a maior especialidade do PCC sempre foi instigar a luta entre grupos e pessoas. Mas as pessoas não esperavam que, após 65 anos no poder, o regime chinês voltasse a fazer isso.

No entanto, preto e branco são coisas distintas. Os anti-Ocupar Central, ao se associarem com o submundo, inadvertidamente provaram que aqueles que se associam ao submundo, na realidade, não diferem em natureza daqueles do submundo.

6. Povo de Hong Kong versus povo chinês

As pessoas da China continental não entendem a luta do povo de Hong Kong por liberdade e até mesmo desdenham ou os condenam por isso. Elas dizem: “O povo de Hong Kong tem desfrutado de muita democracia e liberdade, mas ainda assim, eles não estão satisfeitos. O povo de Hong Kong foi mimado.”

Esse tipo de mentalidade sugere que as pessoas da China continental não devem desfrutar de democracia e liberdade, e que isso também vale para o povo de Hong Kong.

Isso é semelhante aos chineses dizerem que os pássaros engaiolados zombam dos pássaros no céu ou que animais domesticados zombam dos animais selvagens. A liderança de Zhongnanhai deve estar secretamente se deleitando com o sucesso de sua política de gaiola e sua filosofia de “criar porcos”.

Nascidos em ambientes diferentes, o conceito de democracia do povo de Hong Kong, com valores universais e independência individual, difere enormemente do nacionalismo e da escravidão individual dos chineses do continente, tanto quanto a água difere do fogo.

7. O escândalo sobre o chefe-executivo

Em meio aos acalorados protestos pró-democracia, um escândalo envolvendo o chefe-executivo de Hong Kong, Leung Chun-ying, veio à tona. Ele foi acusado de receber aproximadamente US$ 6,5 milhões em fundos secretos e sem declará-los.

Quem tornou essa notícia pública? O público duvida que foi o próprio regime de Pequim que vazou a notícia. No entanto, as pressões e medidas para forçar Leung Chun-ying a se demitir podem ser uma solução intermediária perfeita, já que pode evitar constrangimentos para ambos os lados.

Pequim poderá pedir a Leung que renuncie sob o pretexto de uma investigação de corrupção e assim abrandar a revolta do povo de Hong Kong, que ao ver isso como uma vitória, ou um primeiro passo, possivelmente se acalmará.

8. Revolução Colorida

Pequim refere-se ao movimento Ocupar Central como uma “revolução colorida” [movimentos contra a tirania que adotam uma cor ou um tipo de flor como símbolo]. No entanto, revolução colorida não é um termo negativo, mas sim algo positivo.

Todas as revoluções coloridas que ocorreram no mundo foram movimentos populares para derrubar a tirania por meio da ocupação das ruas ou do início de uma revolução como, por exemplo, a “Revolução do Veludo”, a “Revolução das Tulipas”, a “Revolução Laranja”, a “Revolução do Jasmim”, e assim por diante.

O regime chinês, ao definir o movimento Ocupar Central como revolução colorida, fez o mesmo que concordar que o regime de Pequim é ditatorial e tirânico. Na realidade, o movimento Ocupar Central de Hong Kong foi apelidado pelo público de “Revolução Guarda-Chuva” [devido ao uso de guarda-chuvas como forma de proteção contra o spray de pimenta e o gás lacrimogêneo lançado pela polícia].

Como a Revolução Guarda-Chuva é uma revolução anti-ditadura e uma luta pela liberdade, no fundo, ela acaba sendo uma grande revolução colorida.

9. Forças estrangeiras

Pequim disse que há forças estrangeiras por trás dos manifestantes do movimento Ocupar Central de Hong Kong, e explicitamente disse que essa força é o governo dos EUA.

Essa acusação sugere que os chineses, o que inclui os cidadãos de Hong Kong, são todos súditos obedientes ou uma massa que supostamente não critica ou protesta contra o regime chinês. Isso também sugere que se chineses estão criticando ou protestando contra o regime, eles devem estar sendo apoiados e comandados do estrangeiro, que tudo é uma conspiração arquitetada por estrangeiros.

Na realidade, essa afirmação do regime chinês humilha o povo chinês e equivale a dizer: “Vocês são todos escravos, vocês nasceram para ser escravos e têm QI mais baixos que o dos estrangeiros. Sem serem comandados do estrangeiro, como vocês teriam ideias de crítica, protesto e rebelião?”

10. Efeito cascata

O movimento Ocupar Central tem atraído a atenção mundial. Pessoas do mundo inteiro estão conscientes de que os cidadãos de Hong Kong não concordam nem aceitam mais a dominação do Partido Comunista.

A campanha pró-independência de Taiwan usa slogans como: “Se você votar no KMT, Taiwan se tornará como Hong Kong”, “O povo de Taiwan está preocupado que  a Taiwan de manhã possa ficar como a Hong Kong de hoje”.

Inclusive o presidente de Taiwan, Ma Ying-jeou, com tendências pró-China, teve de deixar claro que Taiwan não aceitará a políticade  “um país, dois sistemas” e que ele apoia firmemente a luta do povo de Hong Kong pelo genuíno sufrágio universal.

Além disso, Ma parafraseou Deng Xiaoping que disse “deixemos algums pessoas ficarem ricas primeiro” – ao pedir a Pequim: “Deixem algumas pessoas obterem a democracia primeiro”.

Obviamente, o movimento Ocupar Central está expandindo seu efeito cascata.

Chen Pokong foi membro do movimento estudantil pró-democracia de 1989 na China. Depois de duas vezes preso, Chen exilou-se nos Estados Unidos. Ele escreve regularmente e é autor de vários livros sobre a China e sua política.