Em 27 de janeiro de cada ano, as Nações Unidas recordam o Holocausto que matou pessoas de origem judaica e muitas mais durante a Segunda Guerra Mundial. O dia também comemora a libertação do campo de extermínio nazista de Auschwitz-Birkenau, na Polônia, em 27 de janeiro de 1945.
Cerca de 6 milhões de judeus foram mortos por políticas racistas dos nazistas. Em 1942, o jovem polonês Jan Karski tentou convencer os líderes Aliados sobre os campos de extermínio nazistas que ele havia testemunhado. O juiz Felix Frankfurter, da Suprema Corte dos EUA, ele mesmo judeu, disse: “Eu não disse que esse jovem está mentindo. Eu disse que sou incapaz de acreditar nele. Há uma diferença.”
Nós sabemos a verdade hoje, mas muito menos pessoas lembram dos pelo menos 38 milhões de chineses mortos por Mao Tsé-tung. E com muita dificuldade só recentemente tem sido reconhecida pela comunidade internacional a sistemática perseguição ao Falun Gong – uma prática benigna de qigong da escola Buda praticada por 70-100 milhões na China – e sujeita a uma perseguição genocida desde 1999.
Eu citei o juiz Frankfurter num artigo que escrevi para meu jornal regional, o Yorkshire Post, em meu regresso de uma visita de estudo à China em 2006. Tenho escrito muitos artigos semelhantes desde então.
Como vice-presidente do Parlamento Europeu para a Democracia e os Direitos Humanos, encontrei secretamente em Pequim ex-prisioneiros de consciência do Falun Gong. Um deles me disse que seu amigo havia desaparecido de sua cela na prisão e depois ele viu seu corpo no hospital do presídio com buracos de onde os órgãos claramente foram removidos para a venda.
Governos reconhecem os fatos
A resolução do Parlamento Europeu em 12 de dezembro, que eu apoiei, condena inequivocamente a extração forçada de órgãos promovida pelo regime chinês, especialmente de prisioneiros de consciência do Falun Gong.
Na mesma semana, um comitê do Congresso dos EUA aprovou uma resolução em paralelo, e um abaixo-assinado com 1,5 milhão de assinaturas foi apresentado às Nações Unidas.
Esta resposta global veio depois de uma série de resoluções semelhantes de parlamentos e associações profissionais nos últimos tempos.
Essas ações estão fechando a lacuna de credibilidade sobre o crime de genocídio de selecionar e matar prisioneiros, especialmente os praticantes do Falun Gong, por seus órgãos vitais. Eles são os únicos prisioneiros na China a terem seu sangue e urina testados como parte do processo de seleção de compatibilidade tecidual, e milhares foram literalmente assassinados por ordem de um dos 169 centros de transplante por toda a China. Cerca de 10 mil cirurgias de transplante são realizadas a cada ano e os órgãos vêm na maior parte dos presos, pois a doação de órgãos praticamente não existe na China, por razões culturais.
Desde que a perseguição ao Falun Gong começou em 1999, os pesquisadores David Kilgour e David Matas estimam que dezenas de milhares de pessoas tenham perdido suas vidas por meio da extração forçada de órgãos.
Advogado Gao Zhisheng
Tenho feito campanha contra este crime terrível contra a humanidade desde a minha visita a Pequim em 2006.
Lá, eu também tive meu primeiro contato com Gao Zhisheng, um advogado cristão de direitos humanos, que, por reportar sobre a perseguição aos praticantes do Falun Gong e defende-los judicialmente, teve seu escritório de advocacia fechado em Pequim em 2005.
Depois de minha visita, Gao e eu mantivemos contato sobre a reforma na China, mas ele foi preso em 15 de agosto de 2006 e mais tarde foi condenado por “subversão” e sofreu uma série de prisões, detenções domiciliares e um longo período de desaparecimento.
Isso não impediu suas atividades nos primeiros momentos, o que o levou a escrever cartas abertas, e a publicá-las com meu auxílio, ao Parlamento Europeu e ao Congresso dos EUA. Eventualmente, ele foi silenciado numa prisão desconhecida e remota.
Segundo a mídia, membros de sua família finalmente fizeram contato com ele em janeiro de 2013 numa prisão na província de Xinjiang. Felizmente, sua esposa, filho e filha, que conheci em Washington em março de 2013, conseguiram se refugiar nos Estados Unidos.
Em 2 de dezembro de 2012, eu abri a série mais recente de audiências sobre os direitos humanos na China, no Parlamento Europeu, em Bruxelas, com um apelo pela libertação de Gao, amplificado por um testemunho em vídeo de sua filha Gege.
Um dos “crimes” de Gao foi um encontro que ele teve com o ex-relator da ONU sobre tortura, o Dr. Manfred Nowak, no início de 2006. Nowak – meu antecessor, quando eu recebi em 2013 a Medalha de Honra do Centro Interuniversitário Europeu para os Direitos Humanos e a Democratização – afirmou que dois terços dos prisioneiros submetidos ao sistema de “reeducação pelo trabalho forçado” em toda a China eram praticantes do Falun Gong.
Eu não tenho dúvida, depois de me reunir com centenas de exilados ex-prisioneiros de consciência do Falun Gong, de que isso é verdade, e, ainda mais, que milhares de praticantes perderam suas vidas no vil comércio de transplante de órgãos organizado pelo Exército da Libertação Popular.
Esta atividade é contrária ao Artigo 2º da Convenção sobre Genocídio. Eu estou fazendo campanha por um registo internacional daqueles que torturam e matam, para ser preservado para futuras ações judiciais nos termos do Tribunal Penal Internacional. Isso só pode ser feito quando a China for livre.
Diferentemente da China, a União Europeia (UE) é uma democracia. Em 22-25 de maio, eleições serão realizadas em toda a UE, inclusive em minha região, Yorkshire & Humber. Eu mudei de partido (eu me tornei um liberal-democrata em 2010, quando o Partido Conservador se tornou demasiado antieuropeu), mas espero ser reeleito para continuar no Parlamento Europeu por mais cinco anos e espalhar a verdade sobre a perseguição e a morte de praticantes do Falun Gong.
Edward McMillan-Scott, membro do Parlamento Europeu (UK Liberal Democrata), é vice-presidente do Parlamento Europeu para a Democracia e os Direitos Humanos