Devemos respeitar os professores e valorizar as ações virtuosas

01/04/2014 15:00 Atualizado: 01/04/2014 16:39

Respeitar os professores e valorizar a virtude é parte da ética tradicional praticada pelo povo chinês. Professores que ensinam moralidade, conhecimento e valores, ensinam às pessoas as formas corretas de se interagir um com o outro e com a sociedade como um todo. Eles exemplificam as virtudes.

No passado os chineses costumavam estudar o “Clássico dos Ritos”, que é um dos “Cinco Clássicos Chineses” do cânone confuciano. Foi dito nos “Registros sobre a Educação”, um dos 49 capítulos do Clássico dos Ritos: “Ao garantir a devida reverência ao mestre, a virtude que ele personifica é considerada honorável. Quando isto é feito, as pessoas saberão como respeitar o aprendizado.”

Para manter o respeito ao professor e reverenciar a virtude, os estudantes não devem apenas mostrar respeito e cortesia, mas também trazerem o respeito em seus corações e sinceramente seguirem os ensinamentos transmitidos por eles e pelas virtudes.

Escritura “Clássico dos Ritos” de Confúcio (Reprodução)
Escritura “Clássico dos Ritos” de Confúcio (Reprodução)

Yin Xi honra Lao Tsé

Dizia-se que Yin Xi era um erudito da Dinastia Zhou do Oeste (1100-711 a.C.). Ele começou a gostar de livros antigos ainda jovem e tinha grande conhecimento em astronomia e muitas outras áreas de interesse.

Um dia, ele observava o clima celestial e viu uma névoa roxa no horizonte a leste que não se dissipava. Para ele isto significava que um sábio viria daquela direção e passaria através do Passo de Hangu. Pelo fato de estar encarregado de permitir que as pessoas passassem através do Passo em seu caminho para o oeste, ele ordenou que os guardas o informassem imediatamente se eles vissem alguém com uma aparência incomum nos próximos dias.

Ele também enviou pessoas para limparem as estradas e queimarem incenso em preparação para saudar o sábio. Alguns dias depois, ele recebeu relatórios de que um velho homem de cabelos brancos e compleição física divina vinha sentado num carro de bois em direção ao Passo indo para o oeste. Ele foi imediatamente saudar o velho sábio.

Ele ajoelhou-se a doze metros do carro e disse, “Yin Xi, oficial chefe do Passo de Hangu, saúda o sábio!” O ancião respondeu, “Eu sou apenas um cidadão comum. Você poderia me dizer por que está realizando este ritual extraordinário?” Yin Xi explicou, “Eu estive esperando dias por sua chegada, após ter visto as indicações que um ser divino logo chegaria. É minha sincera esperança que sua santidade me ilumine.”

O velho homem perguntou, “Quais foram as indicações que você viu?” Yin Xi respondeu, “No décimo mês do ano passado, a Estrela do Sábio moveu-se pelo céu do oeste no inverno. No inicio deste mês, uma suave brisa passou enquanto uma névoa roxa floresceu no horizonte ao leste. Portanto, eu sabia que um sábio passaria por aqui a caminho do oeste.”

“A névoa roxa era tão vasta que se estendia por 10.000 milhas, uma indicação que este não seria um sábio qualquer. A névoa roxa era guiada pela Estrela do Boi, o que me informou que o sábio iria chegar num carro de bois. Hoje, ao ver sua santidade com vosso semblante extraordinário e transcendental, eu seria incapaz de expressar minha gratidão se você me aconselhasse em minha pratica de cultivo.”

O ancião ficou satisfeito em ver a sinceridade de Yin assim como seu benevolente coração e comportamento cortês. Ele sorriu, “Você me reconheceu, o velho homem. Eu também estou ciente de você. Eu estou aqui para oferecer-lhe a salvação.” Yin ficou contente e reverenciou o sábio.

Quando ele perguntou o nome do velho sábio, este respondeu, “Meu nome é vasto. No momento meu sobrenome é Li e o nome que me foi dado, Bo Yang. As pessoas me chamam de Lao Dan.” Yin queimou incenso, se prostrou e completou o ritual de honra a Lao Tsé como seu professor. Tsé é um titulo cortês usado no lugar do nome de uma pessoa.

Lao Tsé ficou brevemente no Passo de Hangu, tempo suficiente apenas para registrar algo que é difícil definir ou descrever, e que ele chamou de “Tao”. Nesta obra, ele transmitiu seus entendimentos sobre o universo, o homem e a sociedade. Ele deu a Yin Xi um manuscrito de 5 mil palavras chamado de Tao Te Ching. Yin Xi seguiu as instruções de Lao Tsé para cultivar sua mente e seu corpo, promoveu os ensinamentos da Escola Tao na gestão da região e no beneficio do mundo, e teve sucesso em seu cultivo. Ele foi honrado por gerações posteriores como Yin, o Homem Verdadeiro.

Lao Tsé encontrando Yin Xi no Passo de Hangu, por Shang Xi, séc. XV (Imagem da internet)
Lao Tsé encontrando Yin Xi no Passo de Hangu, por Shang Xi, séc. XV (Imagem da internet)

Confúcio e seus discípulos

Confúcio (551-479 a.C.) foi um renomado pensador, filósofo e educador. Conta a lenda que ele tinha mais de 3 mil estudantes, 72 dos quais eram discípulos que estavam sempre com ele. Confúcio praticava seus próprios ensinamentos. Sua busca pela verdade, ideais e integridade pessoal, assim como sua justeza, bondade, humildade e cortesia e sua lealdade e cuidado para com as pessoas comuns inspiraram seus estudantes e gerações posteriores.

Os estudantes de Confúcio respeitavam-no profundamente, tratavam-no como pai, realizavam suas decisões como se fossem as deles próprios e consideravam seus comprometimentos a causas honoráveis como seus mais altos propósitos. Seu estudante Yan Hui ficava “contente em continuar pobre enquanto se focava em sua busca pelo Tao”, cultivava-se, e seguia estritamente os ensinamentos de Confúcio.

Outro estudante, Mi Zijian, mantinha a lei e a ordem tocando um instrumento de cordas, imbuindo virtude com músicas harmônicas, e encorajando as pessoas a se estabelecerem em um local e trabalharem arduamente. Ainda outro estudante, Zi Xia, compilava anais, promovia a educação e guiava o público com bondade.

Os estudantes de Confúcio o seguiram numa longa e árdua jornada para divulgar seus ensinamentos em diferentes países. Quando outras pessoas difamavam seu professor, eles defendiam-no e exaltavam seu nobre caráter. Zi Gong apontou solenemente a falta de consciência de um dos ofensores em ver as próprias deficiências. Zeng Can enalteceu Confúcio como uma pessoa com grande virtude “tão puro como se tivesse sido lavado pelas ondas de um grande rio no qual brilha o sol de outono, e tão sagrado como o infinito universo”. Ele exerceu e implementou as políticas benignas que Confúcio pregava. Ele foi citado, dizendo:

“Um estudioso deve ter força e determinação porque ele carrega grandes responsabilidades e tem uma longa jornada a sua frente. Suas responsabilidades não serão solenes se ele tem como objetivo realizar políticas benignas por todo o país? Sua jornada não será longa se ele encorajar a justiça por toda a eternidade?”

O Imperador Taizong da Dinastia Tang

O Imperador Taizong da Dinastia Tang (599-649 d.C.) era amplamente reconhecido como um sábio governante na historia chinesa. Ele prestava atenção especial na educação e selecionava professores para os príncipes, tais como Li Gang, Zhang Xuansu, Wei Zheng e Wang Gui, todos eles homens de grandes virtudes que eram altamente estimados.

Em uma ocasião, Li Gang teve um problema em seus pés que o deixou incapacitado de andar. A corte imperial tinha regras estritas contra oficiais andarem de carruagem que fosse carregada nos ombros de homens. Era esperado que os oficiais andassem com muita atenção.

Quando o Imperador Taizong soube do problema nos pés de Li Gang, ele decretou que Li Gang teria o privilégio de andar em tais carruagens na corte imperial. Ele ainda ordenou que o príncipe cumprimentasse o professor quando ele chegasse à corte.

Em outra ocasião, ele descobriu que seu quarto filho, Li Tai, não estava sendo respeitoso com seu professor Wang Gui. Ele criticou seu filho em frente à Wang Gui: “Na próxima vez que você vir seu professor, você deve ser tão respeitoso com ele quanto é comigo. Até mesmo o menor desvio não será permitido.” A partir de então, Li Tai passou a ser cortês e respeitoso com seu professor. Seu trabalho escolar também melhorou. As regras estritas da família do Imperador Taizong diziam que todos os príncipes deveriam respeitar seus professores e valorizar o ensinamento que lhes era dado.

O Imperador Taizong emitiu um decreto que dizia, “Eu conduzi um meticuloso estudo comparativo sobre imperadores e reis sábios. Todos eles tiveram grandes professores, sem exceção. O Imperador Amarelo aprendeu com Tai Dian, Zhuanxu aprendeu com Lu Tu, Yao aprendeu com Yin Shou, Shun aprendeu com Wu Chengzhao, Tang aprendeu com Wei Zibo, Rei Wen de Zhou aprendeu com Zigi e Rei Wu de Zhao aprendeu com Guo Shu… Se o indivíduo não aprende, não há como entender os princípios passados dos tempos antigos. Não há nenhum homem que não compreenda tais coisas e ainda assim consiga governar o país e manter a paz.”

Ele decretou que seus filhos tinham de respeitar seus professores tanto quanto respeitavam a ele. Além do mais, ele encorajou os professores a serem diretos quando apontassem as deficiências dos príncipes. A habilidade dos professores em cumprir suas grandes responsabilidades foi em grande parte devido ao entendimento, apoio e encorajamento do Imperador Taizang.

Quando o nono filho, Li Zhi, foi apontado como o príncipe da coroa, o Imperador Taizang estabeleceu regras ainda mais rigorosas para ele. Ele tinha de se por de pé sempre que seu professor ou seu pai estivesse falando, e ele deveria se lembrar de suas palavras e depois exprimir sua gratidão.

Há um antigo ditado que diz “Aquele que é seu professor por um dia é seu pai pelo resto da vida.” Histórias sobre os antigos respeitando seus professores e valorizando a virtude personificada por seus mentores foram passadas através das gerações como contos inspiradores. Tais histórias são admiradas pelas pessoas de hoje com um senso de moralidade e por aqueles que aderem a ideais elevados. Tudo isto se iniciou com o respeito aos professores e o apreço à virtude.

Os antigos sábios respeitavam e valorizavam os professores que ensinavam as virtudes.

Este artigo pertence a série “Histórias da antiga China”; para ler outros artigos da série, clique aqui.