Os frutos extraordinários de uma investigação sobre a corrupção de um chefe de logística do Exército da Libertação Popular (ELP) foram expostos na mídia chinesa pela primeira vez. A polícia militar trabalhou por duas noites para apreender quatro caminhões em despojos de uma das casas de Gu Junshan: entre os itens confiscados estava uma estátua maciça de ouro de Mao Tsé-tung, um lavatório de ouro e um barco de ouro.
Caixas do caro licor chinês Maotai, uma bebida favorita entre funcionários comunistas chineses, também foram apreendidas. Elas foram encontradas em túneis subterrâneos de 30 metros de comprimento que ligavam a mansão de Gu Junshan com as casas de seus irmãos de ambos os lados. As casas estão localizadas na cidade natal da família em Puyang, na província de Henan.
Mas eles eram repositórios de apenas uma fração dos bens que Gu Junshan, o ex-chefe de logística militar, acumulou ao longo de uma carreira de corrupção nas forças armadas chinesas.
Entre seus outros bens havia apartamentos e terrenos em áreas-chave de Pequim e Shanghai. Estes ele tomou para si por seu papel como chefe de logística. Então, ele vendia a terra para construtoras e promotores imobiliários, e subornaria e distribuiria alguns apartamentos para outros oficiais do ELP cuja lealdade ele comprou.
O tenente-general Gu Junshan teria sido detido em janeiro ou fevereiro de 2012, mas só agora os vazamentos para a mídia chinesa revelaram os detalhes do que foi encontrado pelos investigadores e como Gu Junshan conduzia seu império. Os ataques a sua mansão teriam ocorrido em janeiro de 2012.
A revista de negócios Caixin foi a primeira a relatar os detalhes. Analistas das complexas alianças políticas da China sugeriram que a Caixin se tornou uma espécie de porta-voz não oficial de Wang Qishan, a terceira figura mais poderosa no quadro atual do Partido Comunista Chinês e que conduz as recentes iniciativas anticorrupção do regime. Wang Qishan é o secretário-geral do Comitê Central de Inspeção Disciplinar, o órgão que vigia e pune os funcionários do regime.
Uma das acusações específicas contra Gu Junshan é que ele receberia 6% da venda de terras de propriedade militar para desenvolvedores imobiliários. Sua mansão em sua cidade natal de Puyang teria sido modelada conforme os palácios imperiais da China: ela tinha estátuas, uma fonte, grandes jardins e alojamentos para seus serviçais, segundo a Caixin.
A corrupção nas forças militares chinesas é um problema muito maior do que a corrupção na vida civil, porque as autoridades militares estão isoladas da opinião pública e, na maioria das vezes, de jornalistas incômodos.
Outro aspecto saliente da destruição política do tenente-general Gu Junshan é o fato de que ele foi promovido no serviço militar pelo general Jia Tingan. O general Jia, vice-diretor do Departamento Político Geral do ELP, é um oficial de alto escalão do Partido Comunista. Por anos, ele foi um colaborador próximo do ex-líder chinês Jiang Zemin, e, segundo a mídia chinesa no exterior citando fontes no regime, era um dos principais secretários de Jiang.
Nesta leitura, a eliminação de Gu Junshan faz parte da limpeza da velha guarda conduzida pela nova liderança comunista chinesa. A derrubada de Gu Junshan teria sido orquestrada pelo general Liu Yuan, outro militar de alto escalão com forte pedigree comunista.