Detalhes da fuga de Wang Lijun para o consulado norte-americano

09/03/2012 00:00 Atualizado: 09/03/2012 00:00

Wang Lijun, antigo chefe da Secretaria de Segurança Pública de Chongqing, em março de 2011. (Feng Li/Getty Images)Congressista norte-americano promete investigação

Ainda não está claro o desenrolar da fuga de Wang Lijun para o consulado norte-americano, mas especulações e comentários já tomaram conta da internet. Oficiais dos EUA também carecem de informações detalhadas, e foi prometida uma investigação parlamentar.

Wang Lijun era vice-prefeito e chefe da polícia da cidade de Chongqing, no sudoeste da China, e braço-direito de Bo Xilai, um linha-dura ultra-esquerdista, que tem disputado posição entre os mais poderosos do Partido Comunista Chinês (PCCh). Wang foi inesperadamente destituído de seus cargos em 2 de fevereiro para assumir um cargo de pequena importância no dia 5. No dia seguinte, Wang fugiu para o consulado norte-americano em Chengdu.

O seguinte relato conta detalhes da fuga de Wang, com veracidade não confirmada, por ser retirado de redes sociais chinesas. Aqui, serve apenas como referência ao leitor.

Às 17 horas do dia 6 de fevereiro, Wang voltava para sua moradia. A vigilância reportou que “tudo estava normal”; três grupos de três agentes cada foram postos em torno do prédio, enquanto outros três grupos dariam cobertura.

Pela janela, Wang observou por meia hora, e quando deduziu que a segurança estava relaxada, maquiou-se com a aparência de uma idosa e deixou o local dirigindo calmamente com um carro previamente preparado com uma placa comum. Após sair do local, colocou a placa do carro de polícia e saiu a toda velocidade.

Ao se aproximar de Chengdu, Wang entrou em contato pelo celular com o consulado norte-americano, “Sou o vice-prefeito de Chongqing, Wang Lijun, estou requisitando abrigo político, logo chegarei ao perímetro urbano de Chengdu.” Após 30 minutos, às 21 horas do dia 6, Wang dirigiu para dentro do consulado.

O cônsul norte-americano, Peter Haymond e diversos assistentes já estavam esperando e receberam Wang numa sala de conferência. Wang então pediu asilo político, mediante apresentação de evidências de que sua vida estaria em perigo: fotos de seus subordinados presos secretamente e torturados até a morte, bem como um vídeo com relatos sobre um possível plano de Bo Xilai para eliminar Wang; o plano envolveria possibilidades de ação como suicídio forjado, acidente de carro, desaparecimento, e forjar um falso caso e executar Wang no ato de sua fuga.

Após longa conversação, os norte-americanos demonstraram aceitar o asilo político requerido, mas enfatizaram a necessidade de aprovação de Gary Locke, embaixador norte-americano em Pequim. Às 23 horas, Locke recebeu o telefonema de Chengdu sobre o caso, e imediatamente notificou a Casa Branca. Sob arranjos dos norte-americanos, Wang falou com seus familiares, em código, que estava bem.

Às 5 horas do dia 7, Locke notificou ao consulado de Chengdu que o pedido de asilo político de Wang foi negado pela Casa Branca; esta, porém, delegou a Locke direitos de conceder, dentro do possível, assistência humanitária a Wang. Às 6 horas, no café-da-manhã, norte-americanos cogitavam como ajudar Wang, e este próprio declarou que “se renderia à liderança do Partido, mas não a Bo Xilai”.

Wang explicou que fugiu para o consulado norte-americano mediante perigo de assassinato por Bo Xilai; após discussão, os norte-americanos também concordaram que esse seria o único motivo aceitável pelos chineses. Às 8 horas do dia 7, Locke informou o caso aos chineses. O Partido imediatamente despachou agentes para Chengdu para trazer Wang em segurança a Pequim, e ao mesmo tempo investigar Bo Xilai e Huang Qifan (prefeito de Chongqing), usando Wang como pretexto.

Às 7 horas do dia 7, a equipe de vigilância deu-se conta de que Wang havia escapado. Por meio de informantes em Pequim, Bo soube do paradeiro de Wang, e despachou Huang, junto a 70 viaturas, para Chengdu. Mediante o cerco armado de policiais de Chongqing ao consulado, os norte-americanos informaram o embaixador Locke, que informou a situação ao PCCh.

Contrariada, a liderança do PCCh ordenou ao secretário do Partido da província de Sichuan que garantisse a segurança de Wang, bem como dos funcionários norte-americanos no consulado. O departamento de segurança e a polícia provincial foram mobilizados para dispersar a polícia de Chongqing e aguardar a chegada das lideranças da Central do Partido. Às 12 horas, as forças de Huang foram expulsas de Chengdu. Às 14 horas, Guo Qiang, vice-ministro do Departamento de Segurança Pública chegou a Chengdu com uma tropa de elite e assumiu o comando.

Às 15 horas, Guo encontrou-se com Bo para pedir explicações. Uma hora depois, Guo transmitiu a Wang por telefone um recado de Hu Jintao; “não injustiçaremos um inocente nem omitiremos um malfeitor; o Comitê Central cuidará do seu caso com justiça”. Wang declarou que aceita a investigação, que admitirá seus crimes e não admitirá o que não fez. Além disso, acusou Bo e seus familiares de corrupção.

Às 16 horas e 30 minutos, Wang conversou por uma hora com o cônsul norte-americano, fornecendo-o uma série de documentos. Às 18 horas do dia 7, Wang deixou o consulado sozinho; sendo escoltado para Pequim pelo vice-ministro do Departamento de Segurança Pública às 8 horas do dia 8 de fevereiro.

Enquanto não é possível ainda confirmar o que ocorreu exatamente no consulado de Chengdu, Bill Gertz do Washington Free Beacon, citando um oficial norte-americano anônimo, reportou que a administração de Obama negou asilo a Wang Lijun por receio de irritar o regime chinês.

A congressista norte-americana Dana Rohrabacher, presidente do subcomitê de vigilância e investigação da Assembleia de Relações Exteriores, prometeu investigar a condução do caso de Wang, segundo também reportagem de Gertz.