Todas as moedas do mundo dependem de uma coisa: confiança. A confiança no bitcoin foi abalada na terça-feira por relatos de que seu maior negociador irá à falência por causa de uma falha de segurança.
“Correndo o risco de ser hiperbólico, isso poderia ser o fim do bitcoin, pelo menos para a maioria do público”, disse um relatório divulgado pela Mt. Gox, o maior câmbio de bitcoin do mundo e que tem sede em Tóquio. A própria empresa Mt. Gox não negou nem confirmou o relatório.
O “projeto de estratégia de crise”, publicado pela primeira vez no blog de bitcoin do empresário Ryan Selkis, afirma que a Mt. Gox perdeu 744.408 bitcoins (US$ 385.603.344 no preço de terça-feira), porque cibercriminosos invadiram as carteiras de bitcoin da empresa. As carteiras são instrumentos digitais que armazenam bitcoins e conectam as trocas de transações. Selkis afirma que obteve o relatório de uma fonte confiável e confirmou sua existência com outras fontes.
O jornal afirma que o roubo vem ocorrendo há anos e poderia explicar os problemas que os clientes da Mt. Gox vinham enfrentando ao fazer transações e sacar fundos nos últimos meses. Saques em moeda fiduciária não têm sido processados desde o início de fevereiro.
A empresa lançou a seguinte declaração na terça-feira: “No caso de reportagens recentes e possíveis repercussões nas operações e no mercado da Mt. Gox., uma decisão foi tomada de fechar todas as transações pelo momento, a fim de proteger o local e nossos usuários. Estaremos monitorando de perto a situação e reagindo em conformidade.”
No início deste mês, Mark Karpeles, CEO da Mt. Gox, demitiu-se do conselho-administrativo da Fundação Bitcoin, um grupo que busca legitimidade para a moeda. Cotas de preços na Mt. Gox na terça-feira não ultrapassavam US$ 150, enquanto outras bolsas negociavam bitcoins por mais de US$ 500.
Clientes prejudicados
O relatório sugere que bitcoins detidos em carteiras de clientes também foram roubados. E listou passivos em bitcoins e dólares muito maiores do que seus ativos. Isto também sugere que a Mt. Gox poderia ter usado ativos em dólar de clientes para comprar bitcoins para compensar o déficit, uma vez que não foram notificados dólares roubados.
Na torre de escritórios em Tóquio que hospeda a Mt. Gox, o comerciante de bitcoin Kolin Burges disse que tem cercado o prédio desde 14 de fevereiro, depois de voar de Londres, na esperança de recuperar os US$ 320 mil que ele tem presos em bitcoins com a Mt. Gox.
“Eu posso ter perdido todo o meu dinheiro”, disse Burgess, ao lado de cartazes que perguntam se a Mt. Gox está falida. “Isso não abalou minha confiança no bitcoin, mas abalou minha confiança nas bolsas de câmbio de bitcoin.”
Apenas uma maça ruim
Líderes de outras organizações de bitcoin culparam a Mt. Gox por negligência nos padrões de segurança, mas certificaram os clientes que o projeto Bitcoin continuará.
“Esta trágica violação da confiança dos usuários do Mt. Gox foi o resultado de ações de uma empresa isolada e não reflete a resiliência ou o valor do bitcoin e da indústria de moeda digital”, afirmaram seis CEOs de organizações importantes de bitcoin no blog Coinbase, um grande fabricante de carteiras de bitcoin.
“Como acontece com qualquer nova indústria, há certos maus atores que precisam ser eliminados, e é isso que estamos vendo hoje”, declararam os CEOs. Apesar das garantias, a queda nos preços acelerou desde o início dos problemas na Mt. Gox. O bitcoin atingiu seu máximo de US$ 1.153 em 4 dezembro de 2013 e agora é negociado por cerca de US$ 500.
Olhando para a história
Os especialistas em segurança admitem que roubar bitcoins é muito mais simples do que limpar contas bancárias, mas isso não significa que a moeda criptografada não pode evoluir. Quando o dinheiro ainda era baseado principalmente em moedas de ouro, houve assaltos a bancos individuais, mas a confiança no sistema persistiu e ele evoluiu.
Quando notas foram emitidas por diferentes bancos de forma descentralizada nos anos 1900, bancos individuais foram à falência e depositantes perderam todo o seu dinheiro. Mesmo hoje em dia, os recentes escândalos da Target confirmam que sistemas tradicionais de pagamento como cartões de crédito também não são 100% seguros.
A diferença está na forma como os diferentes atores absorvam as perdas. Depósitos bancários são agora segurados pelo FDIC e muitas empresas de cartão de crédito oferecem aos clientes um seguro contra fraudes. Empresas, câmbios e federações de bitcoin também poderiam oferecer seguro contra erros de empresas individuais – um movimento que protegeria os consumidores e aumentaria a confiança.