O designer do futuro, uma entrevista com o CEO da ONG&ONG

11/10/2015 10:08 Atualizado: 11/10/2015 10:08

Cingapura – “Você sabia que a Nokia existe há quase 150 anos? [Naquela época] a empresa era uma indústria de madeira! Quando cortavam árvores, eles levavam a madeira para o rio, para transportá-la flutuando pelas águas. Nokia é o nome de um rio na Finlândia, é por isso que a empresa escolheu este termo para criar sua marca. Até que, um belo dia, o filho disse a seu pai que eles não podiam cortar árvores para sempre e que eles deveriam mudar. Foi assim que se tornaram uma empresa de telefonia”, Ong Tze Boon termina a história com um sorriso.

Com 40 e poucos anos, Ong é o Presidente Executivo do Grupo de ONG&ONG – uma empresa de design de grande prestígio, com mais de 900 funcionários em 12 escritórios espalhados por Singapura, Malásia, Indonésia, Filipinas, Vietnã, Mianmar, Índia, Mongólia, China e EUA, e com uma receita para o ano de 2014-15 de mais de S$ 70 milhões (US $ 50 milhões).

Em uma conversa de duas horas com o Epoch Times em seu aconchegante escritório, Ong compartilhou suas filosofias de negócios e design, expressando suas ideias com histórias envolventes.

Ong passa a imagem de um homem articulado, seguro de si, opinativo e totalmente confiante. Entretanto, diante de todo seu talento, Ong ainda mantém uma personalidade moderada. Durante a entrevista, ele não enfatizava seu sucesso ou suas ações pessoais, deixava claro que preferia discutir ideias. Ele teve também o cuidado de não exagerar ou embelezar suas realizações.

Ele é, afinal, extremamente ciente de que nada em um negócio é permanente, exceto a mudança.

Ong Boon Tze em seu escritório aconchegante e suave, durante conversa de duas horas com o Epoch Times (Fred Fan / Epoch Times)
Ong Boon Tze em seu escritório aconchegante e suave, durante conversa de duas horas com o Epoch Times (Fred Fan / Epoch Times)

Filosofia da empresa

Ong herdou a empresa de sua mãe e de seu pai, o Sr. Ong Teng Cheong – o primeiro presidente eleito de Cingapura. Ambos foram diagnosticadas com câncer e faleceram, respectivamente, em 1999 e 2002.

Quando sua mãe faleceu, ele tinha apenas 31 anos. Como um novato no negócio, passar a gerenciar uma empresa de 62 funcionários com despesas mensais de cerca de US $ 350 mil foi uma experiência estressante – mas foram essas experiências que moldaram sua visão de negócios.

“Todo mundo tem um plano para criar um negócio, mas ninguém planeja como sair do negócio. Para mim, a grande questão é: como faço para passar adiante a minha empresa quando chegar a hora de eu partir? A primeira geração faleceu de câncer; eu não sabia o que fazer, e o estresse foi todo enfrentado por mim, porque não havia um plano de sucessão para a empresa. Houve apenas um chefe e um negócio, só isso. Meu trabalho é alterá-lo para um modelo de empresa”, explica Ong.

O inovador líder continua: “Minha missão é fazer um negócio corporativo, e o primeiro passo é fazê-lo crescer. As propriedades e associações mudam, mas a empresa precisa continuar.” Para Ong, uma verdadeira empresa é aquela que tem a capacidade de ser uma entidade autossustentável, que pode sobreviver e prosperar mesmo com a alteração de sócios ou funcionários.

“A empresa deve mudar sua mentalidade. Nem todo projeto é baseado no que eu penso. Tenho que promover os outros [e preencher] o mercado com muitos líderes capazes. Se alguma coisa me acontecer, a empresa ainda pode seguir em frente.”

O presidente também parece cauteloso em relação ao costume de ir passando a empresa para os novos membros da família.

“Estou tentando preparar a empresa, para que ela possa prosperar mesmo sem a família Ong. Só então poderemos passar o bastão. O sucessor não precisa ter o sobrenome Ong”.

Filosofia do design

Uma mistura entre razão e visão empreendedora compõem a filosofia de design de Ong. Além de ter feito mestrado em arquitetura em universidades americanas de prestígio, ele também iniciou um Programa de Desenvolvimento em Gestão Avançada de Imóveis na ‘Graduate School of Design’ de Harvard, para altos executivos e empresários bem-sucedidos.

Para Ong, design não se trata de subjetividade ou relativismo da arte; trata-se de utilidade, de resolução de problemas, e de atender às necessidades dos clientes. Alinhada a este objetivo, a ONG&ONG elaborou a estratégia de solução 360​​° em 2003, um conceito de design pioneiro que projeta a totalidade da experiência do usuário, para além da apreciação visual de qualquer objeto particular. O Sr. Ong, com seu talento para contar histórias, ilustrou vividamente esta ideia:

“Você já foi ao Botanic Gardens? Há cadeiras ali feitas de metal, que são aparafusadas ao chão. Quando você olha para a cadeira, o que você acha? Todo mundo comenta sobre o design, se é bonito ou feio, se é verde ou azul. Na realidade, não existe uma cor melhor; isso tudo depende do gosto de cada um.

Entretanto, há uma outra, menos conhecida, dimensão do design. Se esta cadeira é aparafusada ao chão, eu estou na verdade dizendo às pessoas – por favor, não mova minha cadeira, apenas sente-se aqui. Não apenas isso, eu também estou dizendo às pessoas para que se sentem desta maneira. Depois de sentar-se, naturalmente você olha para a frente. Portanto, colocando o parafuso, eu estou dizendo às pessoas onde sentar, como se sentar e para onde olhar.

Eu poderia até colocar um lago e alguns patos na frente da cadeira. Assim, depois de um passeio, você pode se sentar e olhar para o lago e para os patos. Que beleza! Eu também preciso fazer uma cadeira confortável, e controlar a luz do sol e a luz elétrica.”

“É assim que se projeta uma experiência, e é isso o que fazemos.”

O Hotel Quincy foi o primeiro projeto de design 360° da ONG&ONG (Cortesia de ONG&ONG)
O Hotel Quincy foi o primeiro projeto de design 360° da ONG&ONG (Cortesia de ONG&ONG)

Projetar uma experiência não é uma tarefa fácil. Requer controle e domínio de diversos ramos, e a capacidade de tecê-los e uni-los em uma única experiência. É um processo semelhante a diferentes engenheiros que trabalham em conjunto para criar “a experiência luxuosa” de um Porsche.

Ong enfatiza que o futuro do design é aquele em que os clientes contam com o conhecimento e a experiência dos designers para criar o que os clientes querem para amanhã.

“Nós nos preparamos para o futuro e o design é apenas um meio para um fim. Isso é tudo.”

Guiado por princípios éticos

Além do design, foi muito evidente durante a entrevista que Ong é norteado por fortes princípios.

Ele recitou uma frase do livro ‘The Great Learning’, escrito por Confúcio, quando questionado sobre os valores com os quais seus pais o educaram.

“Para governar bem seu Estado, é preciso primeiro harmonizar seu próprio clã. Para harmonizar seu próprio clã, é preciso primeiro cultivar a si mesmo. Para cultivar a si mesmo, é preciso primeiro corrigir sua mente.”

“O princípio fundamental é que se você quer fazer (algo), faça-o bem. Não seja corrupto”, explicou ele.

Ong também acredita que é preciso fazer as coisas certas, sempre visando a excelência em tudo que fazemos. Ele aconselha os jovens empreendedores: “Se as pessoas fazem negócios apenas por dinheiro, então eu acho – não existe certo ou errado, não estou criticando – mas para mim, não se trata de ganhar dinheiro, trata-se de fazer a coisa certa.”

“Porque quando você faz a coisa certa, o dinheiro é simplesmente uma consequência. Se você almeja a excelência, estas coisas virão como retorno. O dinheiro é apenas uma folha de resultados. Nós não estudamos porque queremos tirar a nota máxima. As pessoas que tiram notas boas são normalmente aquelas que gostam do assunto. É o que eu digo às pessoas: basta fazer o que você faz bem, que o dinheiro vai ao seu encontro. Então, o dinheiro não é o objetivo, o objetivo é fazer a coisa certa.”

“Entende o que é certo? Se eu estou em um negócio de restaurante, devo cozinhar bem. Se eu estou em um negócio de design, devo projetar bem”, acrescentou ele.

Centro da Audi em Cingapura (Cortesia da ONG&ONG)
Centro da Audi em Cingapura (Cortesia da ONG&ONG)

Concluindo

Ong é um pioneiro e um homem do futuro, mas seria precipitado rotulá-lo como um visionário. Para todas as suas inovações e sonhos, Ong é, em essência, racional sobre o seu negócio e sobre conceitos de design. Sua filosofia de negócios é uma de sucessão e sobrevivência. Sua filosofia de design, em última análise, se resume a antecipar e atender novas necessidades e exigências do mercado.

Como ele disse na entrevista, “Trata-se de atender às necessidades do cliente. E quando você chegar lá, você deve começar a perguntar a si mesmo, como um CEO, para onde isto vai? Para onde o mercado está indo? O que os clientes querem para o futuro?”

“No final das contas, fazer negócios trata-se de solucionar problemas para as pessoas.”

Ong não se limita a ideais específicos, e a única constante em seu vocabulário é “mudança”. Talvez seja essa potente combinação entre razão e previsão que fez dele o homem de sucesso que é hoje.