Dirigindo numa movimentada estrada, Tang Huiqing mostrou o terreno onde ficava a oficina de sua irmã.
Quatro anos atrás, funcionários do governo informaram à irmã de Tang que Chengdu estava se expandindo em direção ao campo e que sua aldeia precisava ceder espaço à cidade, noticiou o New York Times.
Uma agricultora que já havia passado pela transição para o trabalho industrial, a irmã de Tang construiu uma pequena oficina para trabalhar com o marido. Os funcionários a informaram de que a estrutura seria demolida.
“Minha irmã subiu no telhado da oficina e disse: ‘Se quiserem, podem demolir’”, conta Tang. A voz dela fraqueja quando ela descreve como a irmã despejou óleo diesel nas roupas e, depois de apelar à equipe de demolição que fosse embora, ateou fogo às vestes. Ela morreu 16 dias mais tarde.
Nos últimos cinco anos, pelo menos 39 agricultores chineses recorreram a essa forma drástica de protesto.
Os números, computados com base em reportagens da imprensa e dados de organizações de defesa dos direitos humanos e são um lembrete sombrio de como a nova onda de urbanização planificada na China atropela os agricultores.
O projeto é conduzido de cima para baixo e difere bastante da migração, geralmente voluntária, de camponeses para as cidades nos anos 1980, 1990 e 2000.
Além dos suicídios por imolação, agricultores se matam de outras maneiras para protestar contra a desapropriação e o confisco de terras.
Uma organização não governamental chinesa, a Civil Rights and Livelihood Watch, reportou que, além dos seis suicídios por imolação no ano passado, houve outros 15 suicídios entre agricultores.
Muitos camponeses morrem quando se recusam a deixar suas propriedades. No ano passado, um agricultor de Changsha não cedeu às exigências das autoridades e foi atropelado por um rolo compressor. No mês passado, uma menina de quatro anos foi atropelada por uma escavadeira e morreu.
As políticas do governo parecem causar dezenas de milhares de episódios de inquietação registrados pelas autoridades a cada ano. Pesquisadores chineses estimaram que, em 2010, o país teve 180 mil protestos, a maioria dos quais relacionados a questões de terra.
Esta matéria foi originalmente publicada pelo blogue Pesadelo Chinês