O alto custo de tratar certas doenças, especialmente HIV/AIDS, quando conjugado com os custos indiretos resultantes da perda de produtividade do trabalhador, está tendo um sério impacto negativo nas economias africanas. Mais esforço deve ser feito para aumentar os cuidados primários, especialmente nas zonas rurais, acompanhados da promoção da saúde, prevenção de doenças e melhoria da educação para todas as idades.
O continente africano é a região do mundo mais afetada pela pandemia de HIV/AIDS, que está revertendo décadas de melhoria da expectativa de vida, progresso educacional e crescimento econômico. Por exemplo, em Lesoto, onde a expectativa de vida era de 60 anos em 1995, caiu para 35 anos em 2010. Na África Subsaariana, onde a expectativa de vida era de 62, por causa do HIV/AIDS, agora é de 47.
Porque os professores em áreas rurais dos países em desenvolvimento têm melhores salários do que a população local, eles viajam mais e tendem a desenvolver relações sexuais com estudantes e mulheres locais, algumas das quais já estão infectadas pelo HIV. Como resultado, o HIV/AIDS está matando professores num ritmo mais rápido do que substitutos podem ser treinados.
Na Zâmbia, verificou-se que dois professores morrem para cada um que se gradua na escola de formação. A pandemia afeta não só a oferta de professores, mas a qualidade e a gestão da educação a nível local, regional e nacional.
Um relatório do Banco Mundial estima que o HIV/AIDS pode reduzir o crescimento do PIB em 1% ao ano em alguns países da África Subsaariana, devido à contínua perda de trabalhadores qualificados e não qualificados no auge da vida.
Na África do Sul, o HIV/AIDS pode reduzir o PIB em até 17% na próxima década.
Além disso, estima-se que o HIV/AIDS diminua a produção agrícola em até 20% em muitos países africanos. Segundo previsões de peritos, em 2015, a África do Sul terá 50 milhões de pessoas a menos do que num cenário sem HIV/AIDS.
Funcionários da saúde pública ainda tem que lidar com o estigma da AIDS que persiste na maioria dos países africanos. O progresso na conscientização da AIDS tem sido lento, apesar dos esforços de ONGs na educação e no trabalho.
Além disso, o progresso tem sido dificultado, particularmente nas áreas rurais, porque os serviços de saúde e infraestrutura são inadequados e a falta de pessoal médico treinado é generalizada. Para os sistemas de saúde serem eficazes, os recursos devem ser redirecionados dos cuidados de saúde em ambientes urbanos com equipamento de alta tecnologia para os cuidados primários e preventivos.
O HIV/AIDS não é a única preocupação. A África do Sul tem a maior taxa de mortalidade por tuberculose per capita mundial, seguido pelo Zimbábue e Moçambique. Há preocupação com o crescente número de casos de tuberculose multirresistente (TBMR), bem como com a tuberculose extensivamente resistente (TBXDR), em vários países.
Muitas doenças que afetam crianças e adultos poderiam ser resolvidas com recursos mínimos se os recursos fossem empregados de forma estratégica.
Diarreia e infecções respiratórias, sarampo, malária e desnutrição representam as maiores ameaças à saúde das crianças. A malária é a principal causa de morte entre as crianças africanas menores de 5 anos de idade. Estima-se que as mulheres africanas têm aproximadamente 175 vezes mais probabilidade de morrer durante o parto e a gravidez do que mulheres em países industrializados.
Os problemas de saúde são agravados pela falta de profissionais de saúde, que se deve em parte ao êxodo contínuo de médicos e enfermeiros para nações industrializadas. Além dos problemas diretamente relacionados com o setor da saúde, a corrupção drena recursos críticos necessários para melhorar a saúde das pessoas e a educação.
Estima-se que a corrupção custe às economias africanas mais de 148 bilhões de dólares por ano. Em comparação, países da África Subsaariana receberam 15 bilhões de dólares em ajuda ao desenvolvimento em 2011. A prática generalizada de subornar funcionários do governo por empresas estrangeiras deve ser cerceada. Com este objetivo em mente, as nações industrializadas devem cumprir as leis nacionais e internacionais que lidam com esta questão.
Nos últimos anos, a ênfase foi colocada na ajuda econômica à África. No entanto, países africanos precisam de um tipo diferente de ajuda. Eles precisam que seus recursos humanos sejam treinados em seus próprios países, pois precisam de mais ajuda na prevenção de doenças importantes, de mais educação para todos os níveis etários e de melhores condições de comércio para seus produtos.
Países africanos não precisam de mais ajuda monetária dada de forma irresponsável e que acaba nos bolsos de autoridades governamentais e membros das elites dos países.
César Chelala é um consultor internacional de saúde pública. Ele realizou missões relacionadas à saúde em 50 países em todo o mundo, muitos delas na África.