Desemprego teria provocado ataque incendiário

03/09/2012 08:59 Atualizado: 03/09/2012 08:59
Candidatos a emprego conferem as vagas oferecidas numa feira de empregos em Hefei, Anhui, leste da China, em 26 de fevereiro de 2011. (AFP/AFP/Getty Images)

Uma funcionária descontente de uma empresa estatal de fornecimento de água no sul da China, que matou três administradores pondo fogo neles, ressalta o clima econômico desfavorável em muitas pequenas e médias empresas na China, escreveu uma economista.

A mulher Shi Yanfei realizou o ataque na semana passada antes de saltar para a morte na cidade de Shaoyang, localizada na província de Hunan. A mídia estatal disse que o acontecido foi por vingança, porque um de seus filhos não foi contratado, embora outro esteja empregado no local.

He Qinglian, uma economista nascida em Shaoyang e que vive nos Estados Unidos, disse num artigo publicado no Human Rights Bi-Weekly que apesar de que o ataque não deve ser incentivado, Shi Yanfei é uma de numerosos chineses desesperados que foram marginalizados pelo alto desemprego e sombrias perspectivas de trabalho.

“É extremamente difícil encontrar um emprego em cidades pequenas de segundo ou terceiro nível e as pessoas comuns não veem esperança”, escreveu ela, ressaltando que Shaoyang se encaixa nessa categoria. Em Shaoyang, oito em cada nove residentes em idade de trabalho, ou 4 milhões de pessoas, estão desempregados, segundo dados do governo. Milhões mais deixaram a cidade em busca de trabalho em outros lugares.

E na China, funcionários de empresas estatais, como a empresa de água, se envolvem em práticas nepotistas regularmente. “As empresas estatais têm uma tradição de contratar principalmente de famílias de funcionários […] dando origem a novos conflitos”, disse He Qinglian.

Com isto em mente, muitas cidades menores na China estão atoladas numa situação sem brilho econômico. Como resultado, as empresas estatais de água e eletricidade, que fornecem benefícios e salários relativamente estáveis, têm os empregos mais cobiçados.

“Vendo tais números [de alto desemprego] é fácil entender que um emprego numa empresa de fornecimento de água seja considerado uma coisa preciosa para as pessoas em Shaoyang”, escreveu He Qinglian.

Desde que esses postos de trabalho em empresas estatais e empregos públicos estão em alta demanda, as pessoas recorrerão a todos os meios e usarão seus contatos pessoais para assegurá-los. Mas é difícil, diz ela, para as pessoas comuns cujos familiares não trabalham lá conseguirem esses empregos, porque muitos funcionários de empresas estatais prometem empregos para seus filhos.

A situação em Shaoyang, com sua elevada taxa de desemprego, é semelhante em muitas cidades de médio porte na China. A taxa de desemprego poderia ser um importante catalisador da turbulência na China, disse a economista, lembrando que isso foi o fator determinante para a convulsão social na Tunísia que derrubou o presidente Zine El Abidine Ben Ali e desencadeou a Primavera Árabe no ano passado.

Usando uma terminologia chinesa, ela descreveu o ataque de Shi Yanfei como, “a história de uma pessoa comum que foi transformado num demônio por dificuldades”, porque antes do incidente, “ela era apenas uma mãe chinesa comum que queria ver seus filhos se tornarem independentes economicamente.”

He Qinglian advertiu que tragédias semelhantes podem ocorrer no futuro. “Há dezenas de milhares de mães que se encontram em situação semelhante. Qualquer uma delas […] poderia se tornar a próxima Shi Yanfei.”