Descobrindo o planeta água

18/04/2013 18:27 Atualizado: 06/08/2013 17:33
Trinta milhões de toneladas métricas de vida marinha são capturadas acidentalmente e mortas a cada ano. Cada rede de arrasto a saúde dos oceanos é reduzida (Administração Nacional Oceânica e Atmosférica/Departamento de Comércio)

“Havia uma crença há muito tempo de que o mar, pelo menos, era inviolável, que ele estaria além da capacidade do homem de mudá-lo e espoliá-lo. Mas esta crença, infelizmente, tem se provado ingênua.” (Rachel Carson, “The Sea Around Us”, 1951)

Eu tive o imenso prazer de conhecer a mulher que mudou o mundo e lançou um movimento de conservação por meio de seus livros quando tinha apenas 16 anos. Rachel Carson já havia escrito “Silent Spring” (“Primavera Silenciosa”) e “The Sea Around Us” (“O oceano ao redor de nós”) quando eu estava em meu momento mais impressionáveis na vida. Minha carreira em ciências marinhas foi por causa dela e todos os dias eu a agradeço.

Eu digo frequentemente a meus alunos que, porque eu não poderia ser astronauta, eu me propus a explorar o “espaço-interior” e passar minha vida descobrindo o planeta água. Tudo que eu precisava era algum equipamento de mergulho e muito entusiasmo. Viajar até lá era simples! Se os seres humanos tivessem evoluído na Lua e decidido se estabelecer por aqui, eles teriam chamado este lugar de “Água” e não “Terra”.

Há cerca de 1,4 bilhões de quilômetros cúbicos de água distribuídos por 70,8% da superfície do planeta e 97,2% dessa água é oceano. O sangue que corre em nossas veias é pouco mais do que água do mar e nos referimos a ele como nosso “sangue vital” por boas razões. Cerca de 70% do oxigênio que respiramos é produzido pelos pequenos organismos que flutuam no mar (fitoplânctons) e seus antepassados foram a primeira forma de vida na Terra.

Nosso clima é impulsionado pelas correntes oceânicas e estudos recentes de 2009 sugerem que estas agora podem estar mudando drasticamente devido ao aquecimento global e derretimento do Ártico, causando inundações que afogarão as cidades de um quarto da população mundial.

Ecologistas falam sobre a biodiversidade; sobre a riqueza de espécies numa determinada área. Maior diversidade de seres vivos faz um planeta mais saudável. O mar suporta uma variedade incrível de vida, cerca de 80% de toda a vida conhecida na Terra. E ainda assim, nós gastamos muito mais dinheiro em pesquisa espacial do que na compreensão do “espaço-interior” dos mares.

Por que estamos tão desinteressados no aumento do nível do mar, quando 60% dos seres humanos do mundo vivem a 60 quilômetros do oceano? Por que despejamos 450 bilhões de metros cúbicos de resíduos tóxicos e não-biodegradáveis no mar a cada ano?

A pesca mundial supre cerca de 40% da proteína consumida por quase dois terços da população do mundo. Cerca de 38 milhões de pessoas vivem quase que exclusivamente da pesca, desembarcando 90-100 milhões de toneladas de peixe por ano.

Apesar dos grandes esforços, esses desembarques têm permanecido quase os mesmos desde o início da década de 1990. Continuamos a construir mais navios de pesca, alguns capazes de desembarcar 350 toneladas métricas por dia, mas os desembarques não crescem. A frota global é agora 250% maior do que a necessária para pegar o que os oceanos podem produzir de forma sustentável e muitos governos são forçados a subsidiar pescas economicamente inviáveis para manter a oferta de alimento para seu povo.

Nossos oceanos estão em crise! A FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) estima que 70% da pesca comercial já entrou em colapso ou está a caminho disso. A devastação é gigante, das enormes baleias até as anchovas peruanas. Infelizmente, muito da vida marinha nunca se recuperará e será perdida para sempre. Predadores maiores como o atum, tubarão e peixe-espada foram reduzidos a apenas 10% de seus números originais e algumas espécies estão ameaçadas de extinção. Fui informado que os estoques de pesca da Malásia foram removidos em cerca de 95%. Resta muito pouco.

A cada ano nós matamos e descartamos globalmente 30 milhões de toneladas de vida marinha capturadas acidentalmente (capturas acessórias), incluindo golfinhos, tartarugas, caranguejos e peixes juvenis. No norte da Austrália, 92% da captura não tem qualquer utilidade para os pescadores. À medida que removemos esses animais da cadeia alimentar, nós reduzimos a biodiversidade e estrangulamos os processos ecológicos do oceano.

Os recifes de corais são agora o ecossistema mais ameaçado do mundo. Estas pequenas “ilhas de vida” debaixo d’água estão ameaçadas pelas atividades humanas e, especialmente, pela acidificação. À medida que queimamos mais e mais combustíveis fósseis, contribuímos para níveis crescentes de dióxido de carbono na atmosfera, o aquecimento do planeta e a mudança do pH (acidez) do mar.

O limiar ácido para os corais é atingido quando seu ambiente excede 350 partes por milhão (ppm) de CO2. Tragicamente, isso aconteceu em torno de 1988 e em outubro de 2012 atingiu 391 ppm. Os níveis atuais são mais elevados do que em qualquer momento dos últimos 800 mil anos e provavelmente dos últimos 20 milhões de anos.

A crescente acidez dos oceanos tem um efeito desastroso para a vida marinha. Prevê-se a queda do pH 8,1 (agora) para pH 7,3 no ano de 2300. Um longo caminho? Não há necessidade de se preocupar?

Em pH 7,7 atingiremos o limite letal para moluscos de concha e recife de corais, suas conchas e esqueletos simplesmente se dissolverão e eles morrerão. Isso mesmo, recifes de corais e a vida marinha com concha morrerá!

Quando isso ocorrerá? A resposta chocante é que estudos científicos apontam unanimemente para 2065. De agora até lá, haverá enormes perturbações na cadeia alimentar ecológica, enquanto espécies desaparecem. De cerca de 2065 em diante, podemos esperar o rápido e catastrófico colapso da maioria da vida marinha. Esses dados correspondem a um grande programa de pesquisa científica (Science, novembro de 2006) que prevê que todo o estoque populacional de peixes no mundo atingirá o colapso em 2056. O ecossistema do oceano simplesmente falhará.

Esta situação é agora a questão ambiental mais urgente que enfrentamos e, como um cientista marinho, acredito que é a questão mais premente do planeta. Eu não estou sozinho e compartilho minhas preocupações com 155 cientistas marinhos seniores de 26 países que recentemente assinaram a Declaração de Mônaco (The Royal Society, 6 de julho de 2009), destacando a dupla ameaça da crescente acidificação dos oceanos e do aquecimento global.

Que criaturas espantosas nós somos! Os sinos de alerta têm soado desde que Rachel Carson publicou seu livro maravilhoso em 1951. Nos últimos 60 anos têm havido mais cientistas vivos e fazendo pesquisa do que todos os cientistas que viveram antes de nós. E ainda corremos cegamente no caminho da destruição dos oceanos e, possivelmente, de nós mesmos.

O Dr. Gerry Goeden é um ecologista marinho baseado na Malásia, pesquisador-associado e conselheiro da Universidade Nacional da Malásia e consultor marítimo do Andaman Resort, Langkawi.

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