Descobrindo o lado escuro das explosões de raios gama

23/12/2010 03:00 Atualizado: 14/11/2014 00:12
Os raios gama são tão poderosos que podem atravessar planetas e galáxias. (NASA)
Os raios gama são tão poderosos que podem atravessar planetas e galáxias (NASA)

O observatório ESO no Chile informou na semana passada que para explicar as chamadas explosões escuras de raios gama “não se requer explicações exóticas”, porque a falta de clareza é revelada com o instrumento Grond, e na maior parte se deve à presença de poeira entre a Terra e a explosão.

Todas as explosões energéticas de raios gama emitem raios-x, e criam um brilho crepuscular, mas se constatou que apenas metade delas emite luz visível e o resto permanece misteriosamente no escuro.

“Estudar o brilho crepuscular é vital para promover nossa compreensão dos objetos que se transformam em explosões de raios gama e o que eles nos dizem sobre a formação de estrelas no início do universo”, explica Jochen Greiner, em seu estudo do Max-Planck de Física Extraterrestre em Garching bei München, Alemanha, informou o ESO. Ele é o autor principal do recente estudo publicado na revista Astronomia & Astrofísica em 16 de dezembro.

De acordo com os astrônomos, as explosões de raios gama no universo emitem radiação de alta energia, sendo tão fugaz que em alguns casos duram menos de um segundo e, em outros, vários minutos. Mas há também algumas emissões menos energéticas, porém de maior duração, que se apresentam semanas ou anos após uma explosão inicial. Este evento os astrônomos chamam de brilho crepuscular da explosão.

Juntando a informação fornecida pelo satélite Swift da NASA, lançado em 2004, com novas observações feitas pelo Detector Ótico Infravermelho de Raios Gama (Grond, em inglês) pode-se solucionar a questão do brilho crepuscular que estava oculto. O Grond é um instrumento de observação e monitoramento de explosões de raios gama que está instalado no telescópio MPG/ESO de 2,2 metros de La Silla, no Chile.

Uma das características do Grond é sua capacidade de responder rapidamente. Ele pode observar uma explosão minutos após um alerta do Swift, fazendo uso do Modo de Resposta Rápida. Ele também tem a capacidade de observar simultaneamente através de sete filtros as partes visíveis como o infravermelho próximo do espectro.

Com todos estes equipamentos, os astrônomos puderam determinar com precisão a quantidade de luz emitida pelo brilho em comprimentos de onda muito diferentes, desde os raios-x de elevada energia até os raios infravermelhos nas proximidades da explosão.

Foi determinado com esta informação que o que obscurece é a quantidade de poeira existente entre a Terra e a explosão, impedindo que a luz emitida seja visível.

A equipe de astrônomos, além do Grond, utilizou para suas observações outros telescópios grandes como o ‘Very Large Telescope’ (VLT) do ESO, que constatou que um grande número de explosões é atenuado até 60-80% de sua intensidade original, e nas explosões mais distantes, o observador pode ver apenas 30 a 50% da luz inicial, tudo isso devido à poeira que obscurece.

“Comparado com muitos instrumentos em grandes telescópios, o Grond é um instrumento de baixo custo e relativamente simples, no entanto, tem sido capaz de resolver definitivamente o mistério que envolve as explosões de raios gama”, disse Greiner.

Onda de luz destruiu uma grande estrela e afetou metade da Terra em 1998

Em 27 de agosto de 1998, houve um importante evento de explosão de raios-gama. Nesta data, uma onda de luz varreu o sistema solar e eletrificou o topo da nossa atmosfera, cegando sete satélites científicos e interrompendo as comunicações de rádio em metade da Terra.

O astrofísico norte-americano Dale Frail, do Observatório Nacional de Radioastronomia dos Estados Unidos, disse à revista Superinteressante brasileira que a fonte de energia teria sido uma enorme explosão proveniente de uma estrela bilhões de vezes mais distante que o Sol, que teria ocorrido durante a gênese da atual civilização humana.

“O estrondo liberou em um segundo, mais energia do que o Sol emite em centenas de anos”, disse Frail.

A explosão destruiu uma estrela ultradensa da constelação da Águia, mas, ao atravessar a Via Láctea, perdeu força e chegou muito débil ao nosso planeta. Esta foi a primeira vez que os astrônomos registraram o efeito de uma estrela distante sobre a Terra.

A astrofísica é uma ciência que investiga dados tais como a massa, temperatura, composição química e o movimento dos corpos celestes através do estudo da luz emitida por eles.

Diferente das energias mecânicas, ondas sonoras, aquáticas, em cordas, etc., a luz não precisa de um suporte material para se propagar e, por conseguinte, também pode atravessar a vácuo.

A energia da luz, também chamada radiação eletromagnética, é classificada de acordo com sua frequência vibracional: rádio, micro-ondas, infravermelho, visível, ultravioleta, raios-x, raios gama.

A luz visível para o olho humano é apenas uma pequena fracção do espectro eletromagnético. As ondas de rádio usadas em telecomunicações (rádio, televisão, etc.), têm dimensões similares a dos objetos do nosso cotidiano, por isso, podem ser facilmente interceptadas por uma cadeia de montanhas, por exemplo.

Os raios gama, por sua vez, existem no nível subatômico e, portanto, podem atravessar planetas e sistemas cósmicos.