Geralmente, temos uma imagem das estátuas gregas e romanas como exibidas tradicionalmente nos museus, sem cores exceto pela apresentada por seu material bruto. No entanto, muitas delas foram originalmente pintadas em cores vivas de ouro, vermelho, azul, amarelo e toda uma gama de tons.
“A impressão de esculturas de calcário e mármore branco domina nossa imagem da antiguidade clássica no mundo mediterrâneo. Fascinados pela aura de pureza do material, nos concentramos exclusivamente na forma. No entanto, sabemos que a arquitetura e escultura antiga eram pintadas em cores vivas”, destacou o Museu de História da Arte de Viena, descrevendo a gloriosa exposição “Deuses em cor”, que tem percorrido o mundo.
Anos atrás, o arqueólogo Vinzenz Brinkmann, ex-curador do Museu Glyptothek, e Raimund Wünsche, visando corrigir esse equívoco popular, prepararam uma exposição itinerante que até hoje percorre os museus para mostrar como pareciam as estátuas clássicas da antiguidade. Atualmente, a exposição tem se expandido.
Para mostrar a grande diferença entre o que se vê hoje e como foi no passado, fizeram-se réplicas das obras originais e pintaram-nas com os mesmos pigmentos identificados em análises do revestimento desgastado. Uma técnica fotográfica especial, que utiliza luz ultravioleta, destaca como luziam as estátuas originais. Identificaram-se assim os desenhos e cores que à primeira vista não eram percebidos.
“O que se via quando se caminhava através de uma antiga cidade, um cemitério ou um santuário”, explica Susanne Ebbinghaus, curadora de arte antiga do Museu Sackler, “seriam esculturas coloridas: mármore pintado, bronze colorido, imagens de ouro e marfim.”
“Isso muda completamente nossa imagem do mundo antigo”, destacou Ebbinghaus, segundo a revista Archeology, do Instituto Arqueológico da América.
Em vez do Calígula romano pálido visto hoje nos museus, sua imagem pintada tinha as maçãs do rosto coloridas mostrando suas bochechas arredondadas, seus lábios ligeiramente vermelhos e seus cabelos castanhos claros.
De um arqueiro troiano emergiam várias cores em que dominava o amarelo, no frontão do que foi o Templo de Aphaes em Aegina. Sua pintura alegre com calças coloridas é claramente evidenciada pela luz ultravioleta.
Ebbinghaus e outros arqueólogos pensam que a maioria não presta atenção nos vestígios de pigmentos das estátuas antigas que eram de base mineral com aglutinantes orgânicos e que foram se desintegrando ao longo do tempo. É por isso que muitos dos restos de pintura nas estátuas acabam perdidos durante a limpeza.
Com uma técnica chamada “luz rasa”, aproxima-se uma lâmpada cuidadosamente de modo que o percurso da luz seja praticamente paralelo à superfície do objeto. Quando usado em pinturas, isto revela as pinceladas, a areia e a poeira. Em estátuas, o efeito é mais sutil, pois a pintura desapareceu num ritmo diferente. No entanto, os padrões elaborados se tornam visíveis com a luz ultravioleta.
A luz ultravioleta faz com que muitos compostos orgânicos se tornem fluorescentes, diferente das tintas modernas, que os utilizam pouco. Este método pode identificar o padrão do desenho e a cor. A espectroscopia de raios-x também é usada.
A pintura das estátuas e relevos também é encontrada na Mesoamérica. No reinado Maia na Bacia de Mirador no norte da Guatemala, os belos relevos que dominaram o estilo das imponentes construções eram pintados com pigmentos que aderiam à camada de argila, geralmente da cor vermelha.