Desaprovação de Gilberto Carvalho a Dilma tem significado amplo

13/11/2014 09:53 Atualizado: 13/11/2014 09:53

Incrível, politicamente incrível. Numa entrevista contundente e sobretudo surpreendente à BBC Brasil, reproduzida pelos principais jornais brasileiros, entre os quais O Globo e Folha de São Paulo, o ministro Gilberto Carvalho, chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, dirigiu fortes críticas à própria presidente Dilma que o nomeou para o cargo. E cuja manutenção no posto, que é de confiança, depende totalmente dela.

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A entrevista, tanto pela forma quanto sob o ângulo do conteúdo, representa uma situação de choque na estrutura administrativa do Palácio do Planalto. Sobretudo porque Gilberto Carvalho, que atuou na campanha da reeleição, ao responder uma pergunta natural a respeito de sua permanência, afirmou: “Preciso trabalhar. Acumulei experiências, se ela me convidar a ficar no governo, eu vou ficar”. Uma contradição.

Como poderá ele ser convidado a ficar depois da entrevista? Pois no texto assinalou que “Dilma falhou no diálogo com atores (setores) da economia e da política”, acrescentando que “deixou de ampliar o diálogo com a sociedade e avançou pouco em relação à demanda dos movimentos sociais”. Quanto à questão indígena, “faltaram competência e clareza” assinalou. E logo em seguida destacou que a reforma agrária avançou pouco.

Pontos negativos

Gilberto Carvalho apresentou, portanto, um elenco bastante negativo de fatos importantes, principalmente se considerarmos que, todos esses, foram pontos essenciais colocados por Dilma Rousseff durante seu primeiro governo, além de projetados como compromissos em sua campanha para conquistar o segundo mandato que lhe foi proporcionado pelas urnas deste ano. Além de marcas apresentadas já sob forma de avanços obtidos.

Os novos compromissos seriam assim a sequência de obstáculos ultrapassados. Mas se contesta, como contestou, tudo isso, por que o Secretário Geral da Presidência da República não se dirigiu à presidente no decorrer dos últimos meses, vésperas que foram da decisão final de mantê-la no poder? E, outra pergunta, qual o motivo de escolher este momento para tornar públicas suas críticas, as quais, de forma indisfarçável, chamam atenção para uma onda divergente dentro do próprio partido, o PT?

Posição do PT

A voz de Gilberto Carvalho não pode exprimir logicamente uma manifestação isolada. No fundo da questão, reflete o pensamento de uma corrente partidária, pois, caso contrário, ficaria se tornando num personagem isolado num cenário que se divide entre o aplauso e a resistência a diversos atos e decisões da presidente tomados em relação à legenda.

Caso contrário, as críticas formuladas não encontrariam sentido por falta de um alvo concreto, principalmente depois de assegurada a vitória eleitoral, o que conduz, não só a partido, mas o país ao alvorecer de uma nova etapa de governo, acrescentando em mais quatro anos a duração de um ciclo de poder. Isso porque, na entrevista, cuidadosamente redigida, Carvalho focaliza como um lado negativo que atribui à presidente o de não ouvir os diferentes na busca de um consenso, de uma síntese.

Talvez, é possível, a busca desse consenso, dessa síntese, esteja figurando como um dos fatores principais dentro de um objetivo mais amplo envolvendo o Partido dos Trabalhadores no momento em que a etapa agora mais importante seja a formação do novo governo, de cuja equipe dificilmente Gilberto Carvalho poderá fazer parte. Se assim for, terá ele agido em nome de quem? Representando qual corrente?

Tribuna da Internet