Desafios e caminhos para o manejo florestal sustentável

29/01/2013 11:08 Atualizado: 06/08/2013 16:06
Terra Indígena, Amazonas (Cortesia de Eduardo Rizzo Guimarães)
Terra Indígena, Amazonas (Cortesia de Eduardo Rizzo Guimarães)

Manejo Florestal Sustentável (MFS) pode ser definido como uso da floresta para determinado fim, garantindo retorno econômico, benefício social e ganho ambiental da atividade. No mundo há cerca de 1,6 bilhões de hectares de florestas que são manejados de forma sustentável, segundo a Food and Agriculture Organization of United Nations (FAO), dados de 2010.

Em 12 anos de estudo, o engenheiro florestal Ederson Augusto Zanetti, consultor e ex-pesquisador da Universidade Federal do Paraná (UFPR), elencou critérios e indicadores em 20 países para poder situar a Amazônia brasileira no contexto mundial de MFS. Na tese finalizada em 2012, Ederson concluiu que o Brasil, quando avaliado em sua totalidade, é o primeiro país do mundo em avanço do MFS.

“[O setor florestal brasileiro] ele é o mais atrativo do mundo em termos de investimento (…) esse setor tem avançado no Piauí, no Maranhão, em Tocantins; são estados que têm desenvolvido programas florestais de suporte à indústria, atração de investimento, geração de emprego e renda e (…) atraem investimento do mundo inteiro”, explicou Ederson.

Para a Amazônia brasileira, quando avaliada segundo os critérios e indicadores do estudo, a classificação do MFS na região cai para 7ª colocação. O consultor explica que o fato da legislação regional ser mais rígida e as alternativas silviculturas de outras regiões do país não poderem ser usadas na Amazônia causa exclusão social no processo de gestão florestal. Além disso, Ederson aponta que as tecnologias silviculturais na Amazônia são “arcaicas”.

“O corte seletivo com regeneração natural mina a produtividade da florestal, acaba com seu potencial genético”, diz Ederson.

A regeneração natural é uma forma de manejo florestal que seleciona as árvores de certo diâmetro para corte visando o aproveitamento da madeira. Entretanto, estas árvores são também fornecedoras de sementes e promovem variabilidade genética para a floresta. Uma vez que são retiradas, apenas algumas árvores maiores serão fornecedoras de sementes e a variabilidade genética é reduzida.

“A gente observa o sucesso das florestas no mundo inteiro: a grande maioria das plantações florestais é de espécies nativas”, argumenta.

No Brasil a grande maioria de plantações é de espécies introduzidas, em sua maioria eucalipto e pinus. Estima-se que estas duas espécies são plantadas em uma área de 6,5 milhões de hectares distribuídos em quase todos os estados do país, segundo a Associação Brasileira dos Produtores de Florestas Plantadas (ABRAF).

É importante salientar que Ederson não nega a importância do eucalipto como abastecimento de madeira para energia e outras finalidades, como polpa e papel, mas aponta que é preciso mais investimento em plantações de florestas nativas no sentido de se chegar ao manejo florestal sustentável no país.

Valorização socioeconômica na Amazônia

Riberinhos pescando o Jaraqui no Rio Uatumã, Amazonas (Cortesia de Eduardo Rizzo Guimarães)
Riberinhos pescando o Jaraqui no Rio Uatumã, Amazonas (Cortesia de Eduardo Rizzo Guimarães)

Segundo o estudo, o desenvolvimento do manejo sustentável da floresta amazônica precisa incluir as pessoas. Não apenas o ambiente precisa ser o foco, mas a geração de renda da população e inclusão social nas políticas públicas é parte do processo para que a Amazônia se desenvolva com o restante do país.

É prioritário o desenvolvimento da educação, saúde e saneamento básico na Amazônia, aponta Ederson.

“O principal problema [da Amazônia] é a exclusão social e econômica da região. Não é que a gente não precise cuidar do meio ambiente, mas esse cuidado ambiental já está muito bem feito. Precisa ter um cuidado social e econômico agora”, afirma o engenheiro florestal.

Conforme vimos em capítulos anteriores, o Índice de Desenvolvimento Humano da Amazônia profunda, onde as pessoas vivem de desmates e queimadas, iguala-se aos piores do planeta.

Ederson afirma que é necessário um desenvolvimento do mercado e da economia com inclusão social para valorizar a floresta em pé.

“A principal pauta é gerar um mercado forte e estruturado com inclusão socioeconômica nesse ambiente rico da Amazônia. A partir do momento que se gera condições para que as pessoas consumam produtos que venham das florestas tropicais de manejo sustentável e coloca-se esse dinheiro em funcionamento (…), vai gerar um interesse na continuidade do cultivo dessas florestas”, diz Ederson.

Mercados que valorizam a floresta em pé

Atualmente há um mercado que valoriza não apenas os produtos que provém da floresta, como a madeira. É o mercado de serviços florestais, que incluem a água, biodiversidade, carbono, entre outros.

Pupunha, no mercado Ver-o-peso, em Belém, Pará (Cortesia de Gabriel Brejão)
Pupunha, no mercado Ver-o-peso, em Belém, Pará (Cortesia de Gabriel Brejão)

“O maior mercado que existe hoje no mundo é o mercado de créditos de água – projetos que vão garantir a qualidade de água no Brasil – isso é muito importante na região da Amazônia (…). A biodiversidade é o segundo maior mercado. O banco de biodiversidade de florestas tropicais da Amazônia brasileira pode garantir um fornecimento de material genético de grande qualidade no futuro. Esse é um dos pontos importantes da gestão desse território”, diz Ederson.

O mercado do carbono é outro que, segundo Ederson, é importante, se vinculado com as necessidades da sociedade e incentivo do mercado de valorização da produção florestal.

“Simplesmente as estratégias de REDD não vão trazer a solução necessária para implementar o desenvolvimento do manejo sustentável. A produção madeireira tem que ser incentivada. O consumo de madeira tem que ser incentivado e deve ser parte integrante dessas políticas de redução de desmatamento. A redução de desmatamento não é uma função de controle, mas é um incentivo para o mercado para valorizar a produção florestal e permitir que ela se mantenha ativa”, conclui.

Este artigo faz parte do Especial Amazônia. Para conhecer os outros artigos, clique aqui.

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