É isso mesmo, o título já deixou claro. A Câmara dos Deputados gastará R$ 210 mil (sendo que a previsão inicial era de R$118 mil e já aumentou) para compra de 43 novos Smartphones para alguns parlamentares, pois coitados, não basta o pífio salário de R$26.723,13, as vultosas verbas de gabinete, o cartão corporativo, as viagens em aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) e os auxílios tudo (moradia, alimentação, transporte; com aluguel de carros, etc), eles precisam arrumar novas maneiras de gastar o vultoso orçamento de R$4.941.626.109,00 (R$4 bilhões).
Obviamente que tudo isso sai dos bolsos dos pagadores de impostos. O dinheiro que nos é tomado através da coerção estatal com a desculpa de retornar como benefícios e manutenção de um “Estado socialmente necessário” vai (parte dele) para comprar Smartphones para Deputados. Ora, por que nós devemos custear a compra desses equipamentos para os Deputados? Não é suficiente sustentar todos eles, ainda precisamos pagar por “luxo”?
O salário de R$26.723,13 e todos os benefícios não são suficientes para os Deputados comprarem seus próprios celulares, computadores, etc? Eles recebem verbas para alimentação, linhas fixas, moradia (aluguel), etc, que varia de R$ 21 mil até R$ 44 mil para cada parlamentar e é dessa verba que devem sair os recursos para bancar os celulares, no entanto, para a aquisição dos Smartphones foi aberta licitação direta pela Câmara e não há previsão de haver desconto do valor do aparelho nas verbas citadas. É o nosso dinheiro (obtido de nós através de coerção do Estado) utilizado para pagar uma “boa vida” aos políticos. Ou seja, além de ser uma extorsão, portanto ilegítimo, ainda utilizam para pagar o próprio luxo.
Quantos brasileiros têm acesso a Smartphones (originais)? Quantos compram cópias no mercado negro, ou produto contrabandeado (e até roubado)? O arcabouço tributário e as regulamentações somam-se ao protecionismo de um Estado babá onde impera o social-corporativismo, ou “capitalismo de compadres”, ou ainda “capitalismo de conchavos”, com o Estado aliciando empresários e empresários (amigos do Rei) aliciando o Estado, em uma eterna troca de gentilezas, favores, poder, etc, sempre em detrimento daqueles que são extorquidos para sustentar esse sistema.
Todos esses fatores impossibilitam boa parte dos consumidores brasileiros de terem acesso a Smartphones de última geração, empurrando-os ao mercado negro. Quando não vão ao mercado negro, esperam o modelo atual tornar-se obsoleto para comprar de um particular diretamente ou através de plataformas especializadas nessas transações (Mercado Livre, Bom Negócio e OLX, por exemplo) ou com um desconto considerável em alguma loja.
Se o produto passa a ser fabricado no Brasil, o corporativismo interno trata logo de torná-lo inferior ao importado e tão caro quanto, enquanto impede o importado de melhor qualidade de custar menos no mercado nacional. “Mas se as empresas se instalarem aqui gerarão empregos”. Por quanto tempo? Até perceberem que é melhor fabricar fora e continuar exportando, pois as condições internas não são vantajosas? Ou isso, ou geram empregos de baixa qualidade, ou deixam de gerar muito mais empregos devido aos altos custos dos trabalhadores e de se manter uma empresa no Brasil, somados aos lucros inferiores devido à impossibilidade de atender uma demanda que se encontra reprimida e excluída pelos altos preços resultantes da reserva de mercado gerada pelo Estado e quem cria e mantém os monopólios, ou pela carga tributária estratosférica, ou pelo custo burocrático absurdo, ou por tudo isso junto.
Enquanto isso, o Estado garante o acesso dos Deputados a Smartphones pagos pelos cidadãos, aos quais o mesmo Estado restringe o acesso a tais equipamentos e muitos outros, através da criação e desenvolvimento de todos os mecanismos possíveis de controle e intervenção no mercado, sempre disfarçados por desculpas falaciosas e boas intenções inexistentes.
Roberto Lacerda Barricelli é jornalista
Esse conteúdo foi originalmente publicado no blog de Roberto Barricelli