Irã consegue o que quer e Israel vai ficando encurralado

28/01/2014 18:17 Atualizado: 28/01/2014 18:17

John Kerry, o secretário de Estado dos EUA, foi novamente a Israel, no dia 6 de dezembro de 2013, para reafirmar que a segurança de Israel está no “topo da lista da agenda americana”. Ele enfatizou que “nenhum acordo será assinado que não seja para melhorar a segurança de Israel”. O primeiro-ministro Netanyahu tinha todos os motivos para ficar cético a esse respeito. Ele reafirmou a posição de Israel: Um acordo final terá que “terminar completamente com a capacidade nuclear do Irã”.

O governo israelense sabe que não pode contar com ninguém no momento presente. Ele também sabe que Israel não é o único país afetado pelo “acordo provisório de Genebra”. Os sauditas entendem que seu país está sob crescente ameaça e que a aliança EUA-Arábia Saudita está se desfazendo.

No dia 24 de novembro de 2013, data em que os “acordos provisórios” foram ratificados em Genebra, o ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohammad Javad Zarif, foi fotografado sorrindo. Ele tinha um bom motivo para estar satisfeito: desde o Acordo de Munique, em 1938, que os líderes ocidentais não davam tanto por tão pouco. Como escreveu Bret Stephens no Wall Street Journal, os líderes ocidentais em Genebra se comportaram ainda mais vergonhosamente do que os que estiveram em Munique.

Em Munique, apenas dois políticos ocidentais estavam presentes, Chamberlain e Daladier; os Estados Unidos não estavam envolvidos. Nas fotografias da ocasião, todos os participantes pareciam preocupados.

Depois de Munique, Winston Churchill disse sua famosa frase: “A vocês foi dada a escolha entre a guerra e a desonra. Vocês escolheram a desonra e terão a guerra.” Depois de Genebra, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, foi o único líder que expressou desacordo. Ele falou a respeito de um “erro histórico”. Diplomaticamente, ele não podia falar sobre desonra, embora a desonra estivesse plenamente evidente. E ele (deveria, mas) não podia usar a palavra “traição”.

Em Munique, o item importante que não foi citado era a perseguição aos judeus na Europa. Embora Chamberlain e Daladier soubessem tudo sobre a proliferação de atos e decisões antissemitas desde que Hitler subira ao poder, eles podem ter pensado que estavam numa posição frágil, e realmente não se importavam com os judeus. Eles praticaram a cegueira intencional. Hitler percebeu – e a Kristallnacht (Noite dos Cristais) ocorreu menos de seis semanas mais tarde na Alemanha: uma noite na qual mais de 91 judeus foram assassinados e 30 mil foram presos e enviados para os campos de concentração; as casas dos judeus, seus negócios, hospitais e escolas foram saqueados e mais de mil sinagogas foram queimadas.

Em Genebra, o item importante e sem citação foi Israel. Laurent Fabius, Guido Westerwelle, Catherine Ashton e John Kerry sabiam tudo sobre os apelos para destruir Israel anunciados há décadas pelos líderes iranianos. Eles estavam em posição de força, mas evidentemente não se importaram com Israel. Praticaram a cegueira intencional. Foi o que Mohammad Javad Zarif percebeu. Ali Khamenei, em Teerã, também percebeu. Nenhuma Kristallnacht foi perpetrada contra Israel – ainda.

É impossível esconder as evidências: Israel está sozinho, abandonado por um país que supostamente é seu aliado.

As sanções contra o Irã foram parcialmente suspensas: e elas nunca mais serão restauradas. Bilhões de dólares fluirão para os cofres do governo do Irã.

Os líderes iranianos podem continuar a enriquecer urânio; construir um reator de plutônio para fins bélicos; apoiar os massacres na Síria; financiar organizações terroristas como a Jihad Islâmica e o Hezb’allah (Partido de Alá); e ameaçar Israel, um estado-membro companheiro nas Nações Unidas – um ato que é ilegal segundo a Carta da ONU – com impunidade. O reconhecimento internacional de que os líderes iranianos agora desfrutam, legitimará todas as atividades deles, que são uma verdadeira zombaria aos direitos humanos.

Os líderes iranianos continuam a negar seus esforços para desenvolver o que Daniel Patrick Moynihan, senador dos Estados Unidos já falecido, chamava de “a Bomba Islâmica”, mas, de qualquer maneira, a desenvolvem. Eles também sabem, aparentemente, que Israel não lançará uma intervenção militar contra eles sem que uma luz verde seja sinalizada pelos Estados Unidos, e que o “acordo” em Genebra é uma imensa luz vermelha. Eles tomam o exercício militar conjunto EUA-Israel, marcado para maio de 2014, pelo que ele é: um meio de segurar os militares de Israel pelos próximos seis meses.

O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, foi a Israel novamente em 6 de dezembro de 2013 para confirmar que a segurança de Israel está no “topo da agenda americana”. Ele asseverou que “nenhum acordo será assinado que não seja para melhorar a segurança de Israel”. O primeiro-ministro Netanyahu tinha todos os motivos para ficar cético. Ele reafirmou a posição de Israel: um acordo final terá que “terminar completamente com a capacidade nuclear do Irã”.

No dia seguinte, no Fórum Saban em Washington, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, reconheceu o “direito do Irã” a um programa nuclear “pacífico” e a um “modesto enriquecimento de urânio”, e, para tornar clara sua posição, ele qualificou a posição de Netanyahu como “não realista”.

Netanyahu repetiu a posição inequívoca de Israel e acrescentou: “O regime iraniano é dedicado ao nosso aniquilamento.”

Uma pesquisa recente, realizada para o Instituto de Democracia de Israel, mostra o crescente ceticismo do público israelense: 49% dos judeus israelenses creem que Israel deveria buscar novos aliados e não contar mais com a amizade inabalável dos Estados Unidos – uma porcentagem sem precedentes.

Apenas 18% dos pesquisados creem que os acordos de Genebra limitarão o programa militar do Irã; 77% acham que o programa continuará sem interrupções e se tornará uma ameaça existencial para Israel.

Numa coluna do Jerusalem Post de 25 de novembro, Caroline Glick escreveu que o propósito desses acordos assinados não era “impedir o Irã de se tornar uma potência nuclear”, mas “enfraquecer o Estado de Israel”.

Há algum tempo, o escritor canadense David Solway foi mais direto: “Os acordos ameaçam a própria existência de Israel. [Obama e Kerry] gostariam de ver Israel (…) eliminado dos corredores da história.”

Quando os “acordos provisórios” foram assinados, a reação da mídia americana foi diversa. Aconteceram debates e foram expressas muitas críticas duras, mas também houve aprovação.

Na Europa, a mídia foi unanimemente favorável. Alguns foram entusiastas. Vários comentaristas observaram, com evidente prazer, que Israel agora estava “isolado” e numa “situação precária”.

Em 1938, os mais importantes jornais europeus eram como os mais destacados políticos europeus: indiferentes ao destino dos judeus. Atualmente, os meios de comunicação mais importantes da mídia europeia são como os mais destacados políticos europeus: indiferentes ao destino de Israel.

Israel não ficava tão isolado há décadas. Kerry, Obama e os líderes europeus parecem estar tirando vantagem da situação para exercerem o máximo de pressão sobre Israel no que se refere à “questão palestina” e à necessidade de se criar um “Estado palestino viável” tão logo quanto possível. A liderança palestina está cada vez mais intransigente.

O governo israelense sabe que não pode contar com ninguém no momento presente. Ele também sabe que não é o único país afetado pelo “acordo provisório” de Genebra.

Os sauditas entendem que seu país está sob crescente ameaça e que a aliança EUA-Arábia Saudita está se desfazendo. O príncipe Mohammad bin Nawaf bin Abdulaziz, embaixador saudita em Londres, fez comentários nada ambíguos refletindo a posição dos líderes sauditas: “Não vamos ficar sentados preguiçosamente… sem pensar seriamente como melhor defender nosso país e nossa área.” Os países do Golfo podem se sentir ainda mais diretamente ameaçados.

Em nota publicada no dia 3 de dezembro numa página do Facebook, Mohammad Jarad Zarif expressou sua disposição em “encontrar-se com os funcionários sauditas para conversações que serão benéficas para ambos os países, para nossa região e para todo o mundo muçulmano”. Ele visitou os Estados do Golfo para encontrar-se com reis e ministros e falou da necessidade de “laços mais aquecidos” entre eles e o Irã.

Alguns dias mais tarde, Ali Larijani, presidente do Parlamento do Irã e negociador-sênior do programa nuclear do Irã até 2007, mostrou que essas “aberturas” em direção à Arábia Saudita e aos Estados do Golfo não alteravam a posição do regime e eram essencialmente uma tentativa de isolar Israel ainda mais. “O regime sionista é a forma moderna de fascismo racista”, disse ele, e acrescentou que o acordo de Genebra é uma “grande vitória” para o Irã e um “grande passo adiante” para o regime.

E quem pode dizer o contrário?

Guy Millière, um colaborador sênior do Gatestone Institute e professor na Universidade de Paris, autor de 27 livros, sobre a França, Europa, Estados Unidos e Oriente Médio, e de milhares de artigos. Seu último livro, A Resistível Ascensão Barack Obama é uma análise das políticas e consequências do governo Obama

Publicado na revista Notícias de Israel