Regime comunista responsabilizado pelo desastre
Depois de uma tempestade fatal que atingiu Pequim em 21 de julho, os moradores lançaram dúvidas e culpa na falta de atenção das autoridades comunistas à infraestrutura da cidade. Internautas notaram que, enquanto as inundações cobriam as ruas de Pequim, a Cidade Proibida emergiu da provação incólume.
A tempestade, a pior em mais de 60 anos, tirou a vida de pelo menos 37 cidadãos. Árvores foram derrubadas, carros presos na lama e na água, casas destruídas e pessoas nadando de volta para casa nas ruas. Os danos infligidos pelo desastre foram estimados em 10 bilhões de yuanes (1,6 bilhão de dólares). Cerca de 1,9 milhão de pessoas foram prejudicadas, segundo a mídia estatal.
Zeng Xiaohui, o diretor do ‘Instituto de Design e Planejamento de Paisagem’ de Hong Kong e do ‘Instituto Novo Século de Pesquisa Artística’ de Guangzhou, comentou no Sina Weibo, uma mídia social chinesas similar ao Twitter.
“Toda a cidade se transformou numa planície inundada. Cidadãos gemiam de dor. Enquanto esta cena aparecia diante de nossos olhos pouco antes das Olimpíadas de Londres começarem, não podemos deixar de olhar para os dias de glória que Pequim teve uma vez há quatro anos. Como é que uma cidade que pode sediar os chamados ‘melhores Jogos Olímpicos’ ser tão fraca quando atingida pela chuva? Deixe a água ser um espelho que nos mostre o que há debaixo do pó sobre os rostos feios dos políticos que buscam apenas grandiosidade e conquistas superficiais”, disse ele.
Ao passo que as pessoas questionavam a infraestrutura da cidade, Wang Yizeng, o chefe do Departamento de Controle de Pequim, respondeu que a rede de drenagem só pode lidar com cerca de um quinto das chuvas recentes e sua capacidade foi concebida de modo que uma inundação está prevista para ocorrer a cada 1-3 anos, segundo a mídia estatal Rede Econômica da China. O Departamento assinalou que processos longos para a aprovação de projetos de construção pelo governo são uma das razões para o atraso de uma atualização tão necessária do sistema de drenagem da cidade.
A Rede Econômica da China também citou comentários de Zhou Yuwen, um professor da Faculdade de Arquitetura e Engenharia Civil da Universidade de Tecnologia de Pequim.
“[Quando o Partido Comunista assumiu o poder em 1949] nós só pensamos em usar menos dinheiro para satisfazer necessidades temporárias”, disse Zhou, apontando que o regime comunista seguiu as teorias da União Soviética para o planejamento da cidade nos primeiros dias. “Houve tempos em que era habitual ocorrer inundações duas a três vezes por ano.”
Moradores de Pequim comentaram lembranças sobre a eficácia dos métodos tradicionais de planejamento da cidade, dizendo que, embora construído numa idade moderna, o sistema de drenagem atual é muito menos avançado do que os concebidos e construídos 600 anos atrás para a Cidade Proibida.
A água da chuva não acumulou no interior da Cidade Proibida, o palácio imperial no centro de Pequim, durante a tempestade do último sábado.
“Eu admiro a grande sabedoria dos nossos antepassados”, comentou um usuário no Weibo.
“A China de hoje não é o país que já possuiu tantos artesãos habilidosos. Nós somos definidos pelo Grande Salto para Frente e a Revolução Cultural. Os edifícios do tempo da República [antes de o Partido Comunista assumir o poder] eram de alta qualidade”, comentou outro usuário no Weibo.
O Grande Salto para Frente foi uma campanha social liderada pelo Partido Comunista para acelerar a modernização que terminou em catástrofe e fomes. A Revolução Cultural foi iniciada por Mao Tsé-tung para destruir a cultura tradicional chinesa. Ambas as campanhas mataram dezenas de milhões de pessoas, segundo estimativas.
A Cidade Proibida tem duas redes de drenagem, uma acima do solo e uma abaixo. O pátio interior da Cidade Proibida é rodeado por mais de 1.000 cabeças de dragão de pedra que servem como um sistema de drenagem, a água acumulada desce através das bocas dos dragões. Então, ela flui para o Rio Jinshui antes de se unir ao fosso que circunda a cidade chamado Tongzi. Quanto ao sistema subterrâneo, ele utiliza valas abertas e esgotos. No passado, a corte real programava verificações frequentes do sistema de drenagem para garantir seu funcionamento.