‘Decrescimento’ entra na arena política italiana

20/03/2013 17:20 Atualizado: 20/03/2013 19:25
O político Beppe Grillo num evento de campanha eleitoral em 15 de março de 2008 na Piazza Navona, no centro de Roma, Itália (Andreas Solaro/AFP/Getty Images)

FLORENÇA, Itália – Não aceitando fazer o jogo de manipulação política, recusando 42 milhões de euros em reembolsos eleitorais e pedindo a prisão de Berlusconi, o Movimento 5 Estrelas (M5S) continua sob os holofotes desde que garantiu dramaticamente o terceiro lugar nas eleições italianas.

Agora, enquanto os três principais partidos tentam formar um governo após uma eleição que não produziu um partido de maioria, o M5S, liderado pelo ex-comediante Beppe Grillo, está trazendo para o debate político um novo conceito econômico: o decrescimento.

“Queremos um governo que priorize as águas públicas, o decrescimento e a mobilidade inteligente”, disse Vito Crimi, líder do M5S para o Senado italiano em entrevista ao jornal Corriere della Sera, insinuando sobre os debates que ocorrerão.

Os defensores do movimento de ‘decrescimento’ dizem que o pensamento econômico atual repousa num paradigma: que o bem-estar de uma nação só pode ser medido em termos de crescimento econômico. As teorias do decrescimento, muitas vezes descritas como anticonsumistas e anticapitalistas, argumentam que a redução em escala da produção e do consumo permite o funcionamento de uma sociedade mais saudável.

Maurizio Pallante, fundador e presidente do ‘Movimento para um Decrescimento Feliz na Itália’, diz: “O decrescimento é a redução seletiva da produção que não é útil, limitando o desperdício nos processos de produção: nossa direção é para a soberania alimentar e independência energética. Isso visa uma qualidade de vida melhor, que vai além da priorização do PIB – se é que não é único – como fator de avaliação do bem-estar de uma nação.”

O movimento, que incorpora ideias apresentadas pelo francês Serge Latouche, afirma que a aplicação de suas abordagens poderia aliviar ou até curar a doença que aflige a Itália: o desemprego. De acordo com o ISTAT (Instituto Nacional Italiano de Estatística), cerca de 3 milhões de pessoas hoje estão desempregadas – um aumento de 550 mil desde o fim de 2011 – numa população de 60 milhões.

“Se eu fosse ministro da Economia”, diz Pallante, “eu orientaria todos os empréstimos e subvenções para reduzir o desperdício do ponto de vista da produção de energia na construção e na agricultura, por meio do apoio a projetos que geram círculos virtuosos para a economia local, investindo em pesquisa que resulte em inovações tecnológicas e na redução do consumo de energia e dos recursos, assim deslocando o emprego para estes setores.”

Alguns têm associado o movimento de decrescimento com o desenvolvimento sustentável, mas os defensores de ambos nem sempre se identificam.

Giovanni Andrea Cornia, professor de Economia do Desenvolvimento na Universidade de Florença, diz: “Ao invés de decrescimento, eu falaria sobre um modelo de desenvolvimento sustentável que permita o crescimento sustentável: econômica, ambiental e socialmente.”

O professor é um dos 20 membros da Comissão de Políticas de Desenvolvimento das Nações Unidas, que trabalha para estabelecer um modelo desejável e viável de desenvolvimento econômico global. Cornia pensa que os problemas têm de ser resolvidos a nível mundial, por causa da globalização econômica e financeira internacional e não apenas a nível local.

“Eu critico Latouche quando ele diz que nós, os países ricos, necessitamos de decrescimento para abrir espaço para os países mais pobres. Eu acredito que estamos interligados com os países menos desenvolvidos: nós importamos matérias-primas deles, então, se reduzirmos o consumo de nossos bens é necessário implementar políticas para aumentar os preços do que eles exportam, caso contrário, eles terão ainda mais problemas.”

“Acredito que o mecanismo econômico é artificialmente deformado por necessidades induzidas, que são servidas pela máquina de propaganda”, diz Cornia, “mas hoje há efeitos no emprego. Se pararmos de produzir bens que podemos ignorar, há uma parcela significante de pessoas que ficará em casa. Portanto, há restrições que os formuladores de políticas devem considerar. Ação é necessária para melhorar a redistribuição da riqueza, regulamentar o setor financeiro e proteger o meio ambiente.”

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