Decisão dos EUA sobre os Institutos Confúcio provoca reações na China

28/05/2012 03:00 Atualizado: 28/05/2012 03:00

A estátua de Confúcio em Changchun, China. (China Photos/Getty Images)A diretiva pelo Departamento de Estado dos EUA sobre os Institutos Confúcio causou uma resposta feroz da mídia na China, com os websites oficiais e semioficiais dando cobertura negativa à notícia, e um longo editorial no Diário do Povo, o jornal mais importante do Partido Comunista Chinês (PCC), expressando “choque” e “confusão”.

O Departamento de Estado informou em 17 de maio que o Instituto Confúcio (IC) têm feito uso indevido de pessoas designadas como pessoal docente para funções de ensino comum, e que essas pessoas teriam de voltar à China e obterem um novo visto no final do ano letivo em junho.

As práticas atuais dos funcionários “não estão em conformidade com os regulamentos do Programa de Intercâmbio”, disse o Departamento de Estado.

O Sina News, um portal da web importante na China, viu a política como um ataque direto ao IC, que são apoiados pelo regime comunista chinês e fazem parte do aparato de propaganda do PCC no exterior, de acordo com especialistas. O artigo dizia que a regulamentação pode ter sido “motivada por forças políticas”.

“Na sociedade norte-americana […] existem algumas forças políticas que têm apontando dedos para o IC, desacreditando suas atividades de ensino,” disse o artigo de opinião.

Um artigo no Sohu, outro grande portal da web, clamou que “obstáculos dirigidos ao IC não são bons para as relações sino-norte-americanas”.

A Sra. Ruan, uma ex-professora que falou com a emissora pró-Pequim, Phoenix TV, sediada em Hong Kong, disse, “Essa expulsão foi uma surpresa. Qual foi o motivo? Será que tem algo a ver com a eleição [nos EUA]?”

O termo “Instituto Confúcio” se tornou o segundo tópico mais popular no Sina Weibo, uma versão chinesa do Twitter, em 24 de maio, com cerca de 50 mil menções. As opiniões sobre o assunto estiveram divididas. “Haha! A polícia do mundo também está sendo mesquinha”, comentou um usuário.

Outros questionaram o ponto dos ICs em primeiro lugar, “Os professores estão voltando por causa de regulamentos de visto. Isso não é algo normal? Os Institutos Confúcio […] têm recebido fundos do governo. É melhor que usemos os recursos para construir salas de aula decentes e preparar comida suficiente para as crianças em áreas rurais pobres”, escreveu um internauta.

Em resposta à imprensa, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Hong Lei, disse apenas que “as autoridades chinesas estão se comunicando com os EUA” sobre a questão, de acordo com o website chinês de notícias 163.com.

A orientação do Departamento de Estado para os ICs dizia que os detentores de vistos J-1, a categoria que os professores em IC pertencem, são permitidos somente para participar de pesquisas acadêmicas e assistência em instituições credenciadas. Apesar de ICs serem patrocinados por e baseados em universidades norte-americanas, na maioria de suas classes de língua servem alunos K-12. Agora, os titulares de visto J-1 não serão mais permitidos para serem usados como docentes.

Atualmente estabelecido em 96 países, o Instituto Confúcio é “uma instituição pública vinculada ao Ministério da Educação da China […] comprometida em fornecer recursos de ensino em língua e cultura chinesa e serviços mundialmente”, segundo o website da organização Hanban, que o supervisiona, afiliada ao PCC. O Hanban é liderado por Liu Yandong, um membro do Politburo do PCC, que antes foi chefe do Departamento de Trabalho da Frente Unida.

Os ICs são criticados como ferramentas de propaganda do PCC e do poder suave no exterior, e exportam práticas discriminatórias contra grupos perseguidos na China. Os professores voluntários nos institutos não podem ter qualquer registo de praticar o Falun Gong, uma prática espiritual chinesa que é perseguida pelo PCC, segundo orientações online.

Sonia Zhou, que se candidatou para ser uma professora numa das filiais da organização no Canadá, disse que durante o treinamento, os professores eram instruídos a seguir a linha do PCC quando perguntados questões políticas sensíveis pelos alunos. Isso incluiu, por exemplo, que “Taiwan é parte da China e o Tibete foi ‘libertado'” pelo regime comunista chinês.