Debate continua sobre exposição do premiê chinês feita pelo NY Times

02/11/2012 11:07 Atualizado: 02/11/2012 11:07
O premiê chinês Wen Jiabao durante uma entrevista coletiva após o encerramento do Congresso Nacional Popular em 14 de março de 2012 em Pequim, China. (Feng Li/Getty Images)

A controvérsia continua a ferver em torno da exposição da semana passada feita pelo New York Times sobre a fortuna de 2,7 bilhões de dólares que a família do premiê chinês Wen Jiabao teria acumulado. Críticos afirmam que a história foi plantada por inimigos políticos de Wen Jiabao, enquanto o NY Times defendeu a integridade da história.

Numa postagem de blogue em 29 de outubro, o repórter David Barboza do NY Times afirmou o seguinte sobre a história ter sido dada a ele:

“Eu li a especulação de que alguma ‘fonte’ me deu a informação ou que alguns inimigos do primeiro-ministro deixaram uma enorme caixa de documentos em meu escritório”, escreveu Barboza. “Isso nunca aconteceu. Não só não havia documentos vazados, nunca no curso da reportagem eu conheci qualquer um que tenha oferecido ou dado a entender que eles tinham documentos relativos a holdings familiares. Foi um rastro de documentos disponíveis publicamente que eu segui com minha própria reportagem.”

Em 30 de outubro, o website chinês da emissora alemã Deutsche Welle afirmou que Barboza teria tido dificuldade em obter informações sobre quem são os membros da família de Wen Jiabao, informação necessária para rastrear a presença de membros da família em documentos corporativos:

“O chefe de uma empresa de mídia chinesa que reporta sobre negócios e que costumava ser um repórter investigativo experiente, disse à Deutsche Welle chinesa que as informações sobre familiares de chineses comuns podem ser encontradas verificando a informação de registro residencial.”

“No entanto, este sistema de registo mantém estrita confidencialidade de informações para oficiais do Partido Comunista Chinês [PCC] com classificação acima do nível provincial. É muito difícil obter os nomes de familiares de uma pessoa que é membro do Comitê Permanente do Politburo. Portanto, o New York Times teria recebido algum tipo de assistência, o que poderia até mesmo ser um conjunto sistemático de materiais.”

O comentarista político Wen Zhao da emissora NTDTV, comentando sobre a história do NY Times, disse, “Eu não acho que isso seja algo que uma investigação privada ou uma mídia seja capaz de fazer na China. Nenhuma dúvida sobre isso, este tipo de investigação só pode ser realizada por pessoas que controlam a polícia secreta ou agentes secretos na China.”

Isolando Bo Xilai

O Prof. Jason Zunsheng Yin, da Escola Stillman de Administração, foi citado pela Rádio Free Asia, dizendo que o artigo do New York Times poderia ser entendido em cooperação com as forças que se opõem a reforma na China. Wen Jiabao é geralmente considerado o líder do PCC que tem sido mais franco sobre a reforma política e econômica na China.

Jason Ma, outro comentarista da NTDTV, observou que Wen Jiabao disse que o caso criminal contra o oficial desgraçado Bo Xilai, que está prestes a ser julgado, é a melhor oportunidade para resolver a questão do Falun Gong.

A facção do ex-líder chinês Jiang Zemin, da qual Bo Xilai era um membro-chave, é responsável pela perseguição à prática espiritual do Falun Gong. O Epoch Times já havia informado como a facção de Jiang Zemin envolveu-se numa luta frenética para recuperar o controle do PCC, porque seus membros não querem ser responsabilizados pelos crimes cometidos nessa campanha de perseguição. O mais grave desses crimes é a atrocidade da colheita forçada de órgãos de pessoas vivas.

De acordo com Jason Ma, o chefe da segurança pública chinesa Zhou Yongkang e outros membros da facção de Jiang Zemin querem prejudicar a reputação de Wen Jiabao, a fim de ganharem vantagem nos arranjos sobre do julgamento próximo de Bo Xilai.

A facção de Jiang Zemin quer que o julgamento de Bo Xilai seja tratado como um caso isolado, de modo que não possa ser usado para provar o envolvimento de membros da facção de Jiang Zemin nos crimes relacionados com a perseguição, incluindo a colheita de órgãos, segundo Jason Ma.

O comentarista Wen Zhao também acha que a história do NY Times esteja relacionada ao caso de Bo Xilai.

“Talvez Wen Jiabao quisesse cavar mais fundo no caso de Bo Xilai”, disse Wen Zhao, “e, por isso, os aliados de Bo Xilai no Comitê Permanente do Politburo se sentiram profundamente ameaçados.”

Wen Zhao identificou Zhou Yongkang como sendo o mais provável a querer prejudicar Wen Jiabao.

Gao Xin, um escritor freelance norte-americano que escreveu o livro “A biografia de Wen Jiabao”, disse à Rádio France Internationale que o material sobre Wen Jiabao provavelmente foi dado ao jornal por maoístas e partidários de Bo Xilai que “odeiam-no [Wen Jiabao] amargamente”.

“Mas eu não acho que o NY Times tenha qualquer outro motivo”, disse Gao Xin. “afinal de contas, da perspectiva de uma mídia de notícias, é claro que é bom ter materiais explosivos.”

Barboza afirma em seu blogue que como alguém que escreve sobre negócios ele não tem conhecimento sobre como sua história sobre a riqueza da família de Wen Jiabao influenciará a política chinesa. Barboza escreveu sobre Bo Xilai pelo menos duas vezes nos últimos seis meses. No final do dia 30 de outubro, foi enviado um pedido de comentários a Barboza. Ele ainda não respondeu.

Em 27 de outubro, advogados contratados por Wen Jiabao enviaram por fax uma declaração ao Diário da Manhã do Sul da China que dizia em parte, “As alegadas riquezas ocultas de parentes de Wen Jiabao, que o jornal New York Times informou, não existem.”

O comunicado acrescenta que a família de Wen Jiabao pode responsabilizar o New York Times legalmente pelo artigo.

Até 30 de outubro, os advogados ainda não haviam decidido se tomariam medidas legais ou quais seriam, segundo o jornal Ming Pao de Hong Kong.

Liu Xiaoyuan, um advogado de Pequim, disse ao Ming Pao que a família de Wen Jiabao muito improvavelmente moveria uma ação legal contra o NY Times.

Processos judiciais apenas chamariam mais a atenção para o caso na China, assim como no exterior, disse Liu Xiaoyuan. A ação, independentemente do resultado, pode trazer mais prejuízos do que benefícios para Wen Jiabao, sua família e até mesmo para a facção que apoia a reforma política.

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