Da colheita forçada de órgãos à reforma política à força

12/11/2012 08:50 Atualizado: 20/04/2014 21:13
Delegados chegam para a sessão de abertura do 18º Congresso Nacional do Partido Comunista Chinês no Grande Salão do Povo em Pequim em 8 de novembro de 2012. (Mark Ralston/AFP/Getty Images)

Há algumas semanas, a facção liderada pelo ex-líder chinês Jiang Zemin parecia estar ganhando terreno na luta pelo poder em curso. A facção de Jiang Zemin é notoriamente violenta e corrupta. Eles participaram ativamente no Massacre da Praça da Paz Celestial em 1989 e deram início à perseguição à disciplina espiritual do Falun Gong em 1999, ganhando o nome de “facção das mãos ensanguentadas”.

Aproveitando-se da morte escandalosa do filho de Ling Jihua, a facção de Jiang Zemin impediu o assessor do líder chinês Hu Jintao de assumir uma posição política mais importante.

Eles também conseguiram manter Bo Xilai como representante do Congresso Popular e consequente sua imunidade a acusações criminais até o final de outubro, apesar da remoção de Bo Xilai ser amplamente esperada há meses.

Bo Xilai é o desgraçado ex-chefe do Partido Comunista Chinês (PCC) na cidade-província de Chongqing que foi traído por seu braço direito, o ex-chefe de polícia e vice-prefeito Wang Lijun. A campanha de Bo Xilai no estilo político de Mao desafiou a liderança do PCC em Pequim por anos e ele era considerado pela facção de Jiang Zemin como o melhor sucessor para a liderança comunista devido a seu envolvimento ativo na perseguição ao Falun Gong.

Enquanto isso, o chefe de segurança pública chinesa Zhou Yongkang, que teria conspirado com Bo Xilai para derrubar o próximo líder chinês Xi Jinping, conseguiu manter seu cargo e continua sendo um dos nove membros do Comitê Permanente do Politburo – o pequeno grupo que controla o PCC – até sua aposentadoria em novembro. Zhou Yongkang é o CEO da “facção das mãos ensanguentadas” e supervisionou a perseguição genocida aos praticantes do Falun Gong.

Quando a China e o Japão disputavam mais ativamente a soberania das ilhas Senkaku, a facção de Jiang Zemin aproveitou a oportunidade e orquestrou em todo o país manifestações anti-Japão para manipular o nacionalismo chinês. No entanto, eles incorporaram mensagens de propaganda nos slogans de protesto que pediam o renascimento de uma sociedade ao estilo de Mao e exibiam um culto zeloso a Bo Xilai. As manifestações se tornaram violentas em algumas cidades e criaram uma crise internacional, bem como caos interno para a transição da liderança do PCC.

A aposta de Jiang Zemin

Observadores chineses podem estar confusos por que a facção de Jiang Zemin está arriscando suas vidas causando interferência, mesmo depois de concordar em cooperar com Hu Jintao e Xi Jinping em troca da imunidade para os crimes de Bo Xilai.

A resposta mais provável é que a facção de Jiang Zemin sabe que não será capaz de escapar das acusações criminais se a “facção das mãos ensanguentadas” perder o poder. Os crimes desta facção violaram os requisitos mínimos da humanidade – o pior de seus crimes tem sido a colheita forçada de órgãos de praticantes vivos do Falun Gong.

O livro ‘Colheita Sangrenta’, escrito pelo ex-secretário de Estado canadense David Kilgour e pelo advogado canadense de direitos humanos David Matas, estima que, entre 2000 e 2005, 41.500 transplantes de órgãos foram feitos na China em que a fonte mais provável foi os praticantes presos do Falun Gong. Matas estima que dos atuais 10 mil transplantes realizados anualmente na China, 8.000 seriam feitos com órgãos retirados de praticantes.

Em essência, a cruzada de Jiang Zemin contra o Falun Gong foi outra Grande Revolução Cultural. Ele baseou sua decisão exclusivamente no dogma do leninismo e no pensamento maoísta. Usar a violência contra o Falun Gong seria considerado totalmente lógico segundo as teorias revolucionárias de Mao. Mas matar esses considerados inimigos políticos para fazer enormes ganhos financeiros foi realmente uma “modernização” de Jiang Zemin.

Para justificar a perseguição ao Falun Gong e continuá-la, o PCC tem de manter a teoria revolucionária de Mao viva.

Reforma de Xi Jinping

Então, o que tudo isso significa para o próximo líder Xi Jinping?

Ele tem de continuar com o sistema político sob o qual ele e sua família sofreram durante a Grande Revolução Cultural. Ele tem de herdar os crimes contra a humanidade cometidos por este sistema político, incluindo a colheita forçada de órgãos de praticantes do Falun Gong. E com o agravante de que ele ainda será alvo da notoriamente violenta “facção das mãos ensanguentadas” numa luta de poder brutal, afinal, esta facção planejava substituí-lo com Bo Xilai.

Xi Jinping e seus assessores começaram a perceber que seu destino, bem como o destino da China, não deve apenas ser negociado entre Hu Jintao e Jiang Zemin. Ele tem de ser mais proativo para decidir o futuro da China. Se ele não tomar uma posição, ele pode ser atropelado.

Informações privilegiadas de Pequim indicam que Xi Jinping tentou renunciar à liderança, um movimento que expõe o conflito interno no PCC e, como resultado, põe em risco a estabilidade do PCC. Depois de fazer este pedido, ele desapareceu misteriosamente da vista pública por duas semanas.

Durante este período, ele se reuniu com Hu Deping, o filho do ex-líder chinês Hu Yaobang, que foi removido por Deng Xiaoping por buscar a reforma política. Xi Jinping disse a Hu Jintao que queria mais reforma política na China e desprezava a política de Bo Xilai que revivia a era Mao. A liderança sênior do PCC então interveio e o convenceu a ficar, prometendo-lhe apoio para decidir o futuro do PCC.

Como Xi Jinping reapareceu com espírito renovado, o PCC anunciou que Bo Xilai seria expulso do PCC e enfrentaria acusações criminais. O Congresso Popular se reuniu novamente, especificamente para remover Bo Xilai do Congresso. Bo Xilai foi agora formalmente acusado e preso enquanto espera por um julgamento aberto.

Além disso, altos oficiais militares que simpatizavam com Bo Xilai e que esperavam promoções para o Comitê Militar Central tiveram suas promoções negadas.

Outro aspecto a ser observado é que no comunicado de imprensa oficial do Congresso do PCC, os pensamentos marxista, leninista e maoísta já não estavam inclusos como parte dos princípios orientadores do PCC. Nas últimas duas semanas, vários artigos e editoriais de mídias porta-vozes do PCC defenderam a reforma política e advertiram que se a China não implementar tais reformas, o PCC logo perderia o controle da nação.

Ninguém sabe até onde Xi Jinping pode ir com sua versão de reforma política e quanto tempo ele ainda tem antes que o povo chinês esteja esgotado e ponha um basta no PCC. Esta é uma reforma sob compulsão.

Se uma reforma que envolveria o PCC renunciar ao comunismo é possível é algo a se ver. O teste-chave para Xi Jinping na realização da reforma política será acabar com a perseguição ao Falun Gong e a colheita forçada de órgãos de pessoas vivas.

Michael Young é um escritor chinês-norte-americano de Washington DC que escreve sobre a China e as relações sino-norte-americanas.

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