O curioso caso dos ladrões bibliotecários da China

28/07/2015 11:36 Atualizado: 28/07/2015 11:36

O papel principal dos bibliotecários de uma universidade não parece ser uma profissão que torne alguém milionário, mas Xiao Yuan, que foi bibliotecário-chefe da Academia de Belas Artes de Guangzhou até 2006, conseguiu tal feito. Ele angariou uma fortuna de 5,4 milhões de dólares.

Xiao roubou mais de 140 pinturas de grandes mestres em uma galeria sob seus cuidados e as substituiu por falsificações que ele mesmo havia pintado, o que ele admitiu no tribunal em 21 de julho deste ano.

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As obras roubadas mencionadas na transcrição do tribunal incluem pinturas de artistas influentes do século XX, como Qi Baishi, que usa aquarelas, e Zhang Daqian, que pinta paisagens e flores de lótus. O próprio Zhang foi considerado um mestre falsificador.

Xiao disse ao tribunal em sua defesa que a prática é comum na China. Ele disse que havia notado falsificações expostas na galeria já em seu primeiro dia de trabalho. Também acrescenta que ficou surpreso quando percebeu que seus quadros falsos estavam sendo substituídos por outras falsificações.

“Eu percebi que alguém tinha substituído minhas pinturas por outras porque eu podia discernir claramente que aquelas obras eram terrivelmente ruins”, disse Xiao, de 57 anos, ao Tribunal Popular Intermediário de Guangzhou.

Xiao disse que não sabia quem havia substituído suas falsificações, mas que os estudantes e professores podiam retirar os quadros da mesma maneira que podiam retirar livros da biblioteca.

Ele vendeu 125 pinturas em leilão entre 2004 e 2011 por mais de 34 milhões de yuans (5,4 milhões de dólares), e usou o dinheiro para comprar apartamentos além de outras pinturas. Os outros 18 quadros que roubou estão estimados em mais de 10 milhões de dólares, de acordo com os promotores.

Xiao se declarou culpado da acusação de roubo por ter substituído as 143 pinturas, e disse que lamenta profundamente seu crime.

Xiao disse que parou de roubar quando as pinturas foram transferidas para outra galeria. Ele foi bibliotecário-chefe da universidade até 2010, e seus crimes vieram à tona quando um funcionário descobriu o que tinha acontecido e procurou a polícia.

Ele ainda não foi condenado, mas Xiao Yuan está longe de ser o único guardião cultural que descobriu que seu trabalho representava uma oportunidade extraordinária de fazer fortuna de forma ilícita.

Em 2004, o encarregado da proteção de preciosas relíquias na cidade de Chengde, em Hebei, foi condenado à morte por seu envolvimento no roubo de 152 antiguidades, 70 das quais ele havia levado para casa e outras 40 foram vendidas. Quatro delas eram classificadas como de “primeiro grau”, o que significa que estavam entre as mais importantes do país.

O caso de Li Haitao foi considerado o maior roubo de relíquias da história da China, depois da destruição em massa de grande parte da arte chinesa durante a Revolução Cultural ao longo de seis décadas. Ao contrário de Xiao Yuan, que só praticou os roubos durante poucos anos, Li se manteve ativo durante uma década e tinha cerca de quatro comparsas.

Em ambos os casos os especialistas, ao verem as pinturas em casas de leilão em Hong Kong, perceberam que algo estava errado. Apesar da notável capacidade de Xiao Yuan como falsário, ele cometeu um erro ao esquecer de remover a marca de identificação das peças que pertenciam à Academia de Belas Artes de Guangzhou. Um perito viu isso e comunicou às autoridades locais. No caso de Li Haitao, o resultado foi semelhante: suas relíquias foram rotuladas de “Cidade Proibida”.